Sentiu-se no trânsito, nas esplanadas que já há muito não recolhiam e nos guarda-chuvas e impermeáveis que saíram dos armários, e que vão continuar a ser precisos nos próximos dias. Mas para regresso da chuva depois de um verão seco, o balanço era ontem mais calmo do que seria esperado. Ao i, José Miranda, oficial de operações da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, explicou que até meio da tarde havia 107 ocorrências, 40% inundações dispersas pelo distrito de Lisboa, mas sem nenhuma situação de maior relevância. Um regresso da chuva associado à depressão Danielle, que perdeu intensidade, e que por isso foi mais um “dia normal” de transição para o outono. Notou-se a falta de limpeza por exemplo nas sarjetas? “As primeiras chuvas pós-verão são sempre muito complicadas. Desta vez não se verificou, o que é positivo”, afirmou o oficial, sublinhando que a situação vai permanecer sob acompanhamento. O IPMA mantém o aviso amarelo para esta terça-feira, mas já não em todo o país e o tempo vai aliviar de Sul para Norte. As previsões apontam para aguaceiros pelo menos até quinta-feira, com sexta-feira já mais aberta. As temperaturas vão voltar a aproximar-se dos 30º no fim de semana, mas deve voltar a chover na próxima semana.
Com este padrão a manter-se, setembro poderá ser mais normal em termos de precipitação, mas há ainda muita água por recuperar depois de um ano hidrológico muito seco.
O último balanço do IPMA feito na semana passada revela que no mês de agosto choveu apenas 20% do normal – foi o quarto mais seco desde o ano 2000. Manteve-se assim a situação de seca meteorológica em todo o território, com as classes de seca severa e extrema a predominarem em todo território: 60,4 % em seca severa e 39,6 % em seca extrema. Desde 1 de outubro, data em que começa o ano hidrológico, e até ao final de agosto choveu apenas metade (51%) do que seria expectável num ano normal em Portugal, com base no histórico. No total, 421,8mm, o que faz do ano hidrológico 2021/2022 o segundo mais seco desde 1931, algo superado apenas na seca de 2004/2005.
A situação de seca levou aliás a Proteção Civil a alertar que mesmo com o mau tempo, os ventos fortes e abertas no mau tempo, que costumam ser aproveitadas para queimadas, podem ser um fator de risco para incêndios florestais. Foi o que aconteceu na tragédia dos incêndios de outubro de 2017, associados ao furacão Ophelia e a múltiplas queimadas.
A chuva de setembro poderá ainda assim contribuir para um alívio da situação de seca. O Governo anunciou na semana passada que a Agência Portuguesa do Ambiente vai definir reservas estratégicas de água nas barragens a conciliar com a atividade de produção elétrica, suspensa desde o início do ano nas barragens como maior uso para abastecimento humano, como Castelo do Bode e Alto Lindoso, onde os níveis de água continuam abaixo do histórico.
Em Castelo de Bode, onde em fevereiro a decisão de parar a produção hídrica foi tomada em cima dos 106 metros, tendo então sido estabelecido pela APA que esse seria o mínimo a preservar, o nível da água estava este domingo nos 109,17 metros – continuava a descer paulatinamente, com as chuvas desta semana a poder travar esta tendência. Há um ano, por esta altura, o nível da água estava na casa dos 115 metros. Na Barragem do Alto Lindoso, a água está nos 290,83, quando há um ano, antes da situação de seca, chegou a setembro nos 310 metros.