por Carlos Carreiras
Referência: Extratos do texto que publiquei com o título O século dos territórios, no dia do lançamento do livro 71 Vozes pela Competitividade. Seguirá nas próximas semanas o restante texto.
As políticas só fazem sentido se servirem as pessoas. Esta é uma verdade para a Câmara Municipal de Cascais, mas também o é para o Governo, para uma empresa (só o cliente importa e nenhuma forma de organização económica terá sucesso se não se compreender como parte de um todo maior, a comunidade em que se insere, com o qual mantém uma relação simbiótica, não predatória) ou mesmo para a família (devemos tratar os outros como gostaríamos que nos tratassem a nós). Se o foco nas pessoas for mantido, pode o mundo cair vezes sem conta que o reconstruiremos quantas vezes forem necessárias. Porque nunca perderemos a essência do que nos torna melhores, mais solidários, mais dignos e mais livres.
Há por aí uma grande azáfama para captar empresas e investimentos. Ninguém duvida que eles sejam fundamentais. Mas, por um momento, sejamos capazes de dar um passo atrás: é mais fácil o talento atrair o capital do que o capital atrair talento. Captar e fixar talento tem de ser uma prioridade absoluta para os municípios portugueses. Uma empresa pode ter uma liderança irrepreensível, uma oferta inovadora e atrativa, e até um orçamento generoso que lhe permita a criação de uma estratégia vencedora sem as tradicionais restrições financeiras. Mas sem força de trabalho competente e motivada nunca irá conseguir ter sucesso num mercado cada vez mais exigente e competitivo. As organizações procuram diariamente atrair e reter os profissionais mais qualificados para garantir as melhores equipas de trabalho. No entanto, a procura já excede a oferta em alguns setores de atividade.
Quando Cascais decidiu avançar para a captação da Universidade Nova (Economia, Gestão, Saúde e Direito), ou para a atração de um Centro Judaico, em 2017 – uma das principais obras judaicas no nosso país em 500 anos –, não estava apenas a honrar as nossas tradições e a nossa identidade judaico-cristã. Estava a dar este sinal de um território que é um farol de tolerância, de possibilidades e liberdade para todos. Da mesma forma, quando lançámos a nossa app ‘City Points’, galardoada pelas Nações Unidas como uma das ferramentas digitais de cidadania mais inovadoras, não estávamos apenas a ser disruptivos, recompensando os bons exemplos de cidadania (iniciativas como dar sangue ou fazer voluntariado valem horas de estacionamento ou entradas em museus). Estávamos a colocar a tecnologia ao serviço do cidadão – a missão da verdadeira cidade inteligente.
Um território que institucionalize uma política pública personalista, humanista, tolerante, é um território destinado a ser magneto para os trabalhadores da economia do conhecimento.
Um território assim, é um território que planta as sementes do seu próprio sucesso.
Portanto, a nossa preocupação tem sido tentar perceber o que vai ser o Estado no futuro, e qual será a importância e a participação do Estado Local na indução dessas mudanças, sabendo, à partida, que tem uma grande vantagem: a de estar mais próximo das populações. Esta tem sido a nossa preocupação. Com as pessoas como prioridade de todas as prioridades. Sempre!