O dr. F. Wiedemann andou, durante os anos-50, segundo as suas próprias palavras, a dar tratos à cabeça para conseguir perceber a génese das doenças nervosas. E concluiu, num estudo publicado em Setembro de 1956: “A nevrose não tem função natural – o doente quer alcançar uma vantagem! Em seu benefício, naturalmente.” Foi discutido e contrariado, porque é mesmo assim que as coisas são no complexo estudo da mente. Mas teimou: “O nevropata é um autêntico egoísta; serve-se dele próprio para atingir os seus fins com raciocínios do géneros – ‘é muito bem feito se eu ficar com as mãos geladas porque a minha mãe não me comprou luvas!’ E uma coisa é certa – o nevropata torna-se cada vez mais fraco em vez de se tornar mais forte”.
Defendia na sua longa publicação científica que é tentação das pessoas que sofrem dessa doença precipitarem-se na antecipação da desgraça em vez de se dedicarem à felicidade. E concluía com a questão que lhe fora colocado por um dos seus pacientes: “Mas por que me quer tornar feliz se eu quero ser infeliz?” No entanto, acrescentou: “Seria tolice supor que os nevropatas querem a todo o custo ficar doentes!”
Outra das suas pacientes serviu de demonstração das suas teorias. Uma senhora loira, alta, que tivera uma tentativa frustrada de suicídio. Motivo: tinha apanhado o marido na cama com a irmã mais nova. Logo ela que frustrara as intenções da irmã uns anos antes, convencendo o pai de ambas que, por ser mais velha, era natural que fosse ela a casar com o sujeito que acabaria por traí-la. O dr. Wiedemann tentou explicar à sua doente que, no fundo, fora ela a causa da sua própria infelicidade. A senhora alta e loira, que levara para o casamento uma loja de artigos desportivos, muito útil para o marido que era professor de educação física, recusou por completo que este pudesse preferir a irmã que, não por acaso, era também professora de ginástica. Como recusou sempre a ideia de que o marido quisesse, de facto, o divórcio para ir viver com a amante, fixando-se pelo contrário na ideia de suicídio que viria a concretizar três anos depois. “Este foi um dos raros casos insolúveis com que me deparei”, afirmava o médico. E desenvolvia: “Sob o ponto de vista da táctica pura, o nevropata tem um comportamento perfeitamente lógico – queixa-se dos outros antes que os outros se queixem dele. Exagerando os seus complexos de inferioridade, alcança regalias e favores que de outro modo não conseguiria”. Mesmo que tenham um fim tão triste como o da senhora alta e loira…