A guerra tem estado longe de Portugal. A invasão da Rússia à Ucrânia passa-se a mais de 3.000 km de distância. Apenas se aproximou quando nos entrou em casa pela televisão. Ainda assim, distante. Mas essa mesma guerra aproxima-se. Não com bombardeamentos, mas com a crise energética e com as dificuldades económicas que se começam a sentir.
Tem sido incontestado o apoio à Ucrânia e à resistência da sua população. Estar ao lado dos agredidos injustificadamente, defender a soberania daquele país, apelar ao respeito pelo direito internacional é indubitável.
O que está em causa não é coisa pouca. A agressão da Rússia à Ucrânia é muito mais do que a preservação das fronteiras. O empenho ucraniano na defesa do seu país é também a defesa dos valores europeus: a liberdade, a democracia, e os direitos humanos são parte da identidade europeia.
A Europa e os Estados Unidos da América têm revelado uma união e um compromisso firmes no apoio ao povo ucraniano. Sem intervirem diretamente na guerra, os países ocidentais alcançaram um consenso raro nas sanções à Rússia e no apoio económico, humanitário e militar no apoio à Ucrânia na sua defesa dos valores civilizacionais que partilhamos.
O apoio prestado à Ucrânia permitiu a resistência ao invasor e a fragilização do agressor. Mas não pode haver ilusões: a guerra está para durar.
Até agora, a opinião pública, sensibilizada pelas imagens e notícias de horror e o sentimento de justiça, têm facilitado as decisões políticas dos governos na tomada de medidas de apoio ao esforço ucraniano. Até agora, não obstante a mobilização de recursos, tem sido relativamente fácil estar do lado dos ucranianos.
A Europa não vive as consequências de uma guerra há mais de 70 anos. Não há, praticamente, pessoas que tenham vivido as dificuldades da guerra. Os países europeus viveram um longo período de paz e de prosperidade. A generalidade das populações não sentiu a guerra e as suas consequências. No essencial, os povos não têm passado por dificuldades ou situações de escassez de bens.
O mais do que provável prolongamento da guerra, nomeadamente no próximo inverno, irá provocar sérias dificuldades na disponibilidade de energia e no seu custo com consequências diretas na qualidade de vida e nas condições económicas.
A solidariedade e a intransigência em relação à defesa de princípios e valores comuns na Europa serão colocados à prova perante os sacrifícios que serão exigidos para manter o apoio à Ucrânia nos próximos meses.
A Rússia joga tudo na divisão da Europa em relação ao empenho nesta crise. Os líderes europeus serão colocados à prova quando tiverem de lidar com as opiniões públicas divididas sobre a disponibilidade para pagar um preço elevado pelo apoio à Ucrânia e para a manutenção e agravamento das sanções à Rússia.
A Europa e os valores que, em situação cómoda, todos dizemos partilhar serão postos à prova nos próximos meses. Qual o preço que estaremos dispostos a pagar pela solidariedade e pela defesa da liberdade, da democracia e da soberania?