Quando imaginamos uma nave que custou cerca de 340 mil euros à NASA só para o seu desenvolvimento poderíamos pensar que seria para ser enviada para o espaço para explorar planetas desconhecidos, nunca nos passaria pela cabeça que o seu objetivo era para ser destruída depois de chocar contra um asteroide. No entanto, é mesmo esta a função da missão DART (Teste de Redirecionamento de Asteróide Duplo). Chocar contra o asteroide Dimorphos, do sistema binário Dimorphos-Didymos, de forma a tentar criar um ligeiro desvio na sua órbita.
Depois da nave ter sido lançado há 10 meses, o embate está previsto para esta segunda-feira, por volta das 23h14, e pode ser visto em direto através de imagens captadas pela nave espacial que estarão disponíveis no site da NASA.
Esta é a primeira vez que uma operação deste género é realizada. Os engenheiros espaciais, com este choque, pretendem descobrir como é possível desviar asteroides caso seja descoberto que algum esteja em rota de colisão com a Terra. As observações do impacto da missão fornecerão dados cruciais sobre a capacidade destas naves poderem proteger a Terra de um evento apocalíptico.
Apesar do asteroide Dimorphos estar “apenas” a 11 milhões de quilómetros de distância, ter o tamanho de um carro e não representar nenhuma ameaça séria para a Terra, esta missão servirá como um teste para o caso do mundo um dia se encontrar em risco e necessitar de desviar um asteroide do caminho.
“A missão DART em conjunto com a missão HERA [comandada pela Agência Espacial Europeia] formam uma iniciativa internacional de defesa planetária”, explica Inês d’Ávila, gestora de projetos de segurança espacial da Agência Espacial Portuguesa. “Estas missões irão permitir a aquisição de capacidades de deflexão/desvio de asteroides de potencial perigo para a Terra”.
O impacto de asteroides e cometas tiveram um grande efeito na vida do planeta Terra, sendo a colisão mais conhecida aquela que ocorreu há 66 milhões de anos, quando um asteroide de 10 km de largura atingiu Chicxulub na Península de Yucatán, no México, e criou uma colisão que provocou uma explosão que teve a energia de vários mil milhões de bombas atómicas e levou à destruição de 75% de todas as espécies de plantas e animais, incluindo todos os dinossauros terrestres.
Mas não são só estes corpos celestes gigantes que representam um perigo para a vida na Terra, também os pequenos asteroides e cometas podem provocar danos nos planetas, nomeadamente, pelos objetos rochosos que conseguem penetrar a atmosfera.
O Guardian cita um caso, que aconteceu perto da cidade russa de Chelyabinsk, a 15 de fevereiro de 2013, em que um asteroide com 20 metros de diâmetro explodiu na atmosfera, provocando uma explosão de 400 quilotoneladas que feriu mais de 1500 pessoas.
Por esta razão, a especialista sente que o investimento na ordem das centenas de milhares de euros é completamente justificado. “Existem muitas pessoas que consideram o investimento na investigação espacial um desperdício, mas não acredito nisso”, argumenta Inês Ávila. “No passado, o embate de um asteroide na Terra levou a uma extinção em massa, a extinção dos dinossauros, se queremos garantir que tal não volta a acontecer é necessário desenvolver esta capacidade”, conclui.
Envolvimento português Apesar de não estar envolvida na primeira fase da missão, durante a missão HERA, onde a Agência Espacial Europeia enviará uma nave robot, com o nome da Deusa grega esposa de Zeus, a rainha dos Deuses, em 2024 para Dimorphos para estudar a cratera deixada pela missão DART e analisar sua colisão com o asteroide, Portugal irá oferecer uma contribuição à defesa planetária.
“A missão DART é uma missão maioritariamente norte-americana. A indústria nacional está focada na missão Hera, da Agência Espacial Europeia”, explicou Inês d’Ávila, entrando em detalhe sobre o envolvimento das empresas portuguesas neste projeto.
“A nossa indústria encontra-se envolvida em diversas áreas, desde o instrumento PALT – Planetary ALTimeter, um LIDAR, uma componente que está a ser desenvolvida com liderança da EFACEC e que conta com a participação da Synopsis Planet, que irá permitir medir a distância do Hera ao asteroide e apoiar as operações de aproximação de curto alcance”, disse.
“A GMV está a desenvolver o sistema de Orientação, Navegação e Controlo, e que está igualmente associado às operações de curto alcance. A Tekever, por sua vez, é a responsável pelo ISL – Inter-Satellite Link que permitirá a comunicação do Hera com os CubeSats que fazem parte da missão Hera, Milani e Juventas bem como com os sistemas terrestres. Por fim, a FHP foca-se no desenvolvimento do isolamento térmico que protegerá a missão Hera de temperaturas extremas”.
Mas, após o final desta missão, o envolvimento de Portugal não ficará por aqui, com a gestora da Agência Espacial Portuguesa a afirmar que o nosso país continuará a participar e a desenvolver projetos com o objetivo de alcançar a defesa planetária.
“Portugal como Estado-Membro da Agência Espacial Europeia continuará a acompanhar os desenvolvimentos da Agência Espacial Europeia no âmbito da defesa planetária, sendo que a nível nacional existe já a capacidade de observação deste tipo de corpos celestes, através de sensores óticos terrestres”, garantiu.