Portugal sofreu, nos últimos anos e em todas as regiões do continente, uma diminuição na esperança de vida à nascença. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística, que, na manhã de segunda-feira, revelou esta conclusão num estudo publicado no seu website.
Segundo o INE, em Portugal, em 2019-2021, a esperança de vida à nascença – ou seja, a média de anos que se espera que uma pessoa venha a viver – foi estimada em 80,72 anos, sendo de 77,67 anos para os homens e de 83,37 anos para as mulheres. Este é o valor mais baixo desde o triénio 2014-2016, em que se situava nos 80,62 anos.
Relativamente aos dados do triénio 2018-2020, estas conclusões significam uma diminuição de cerca de 4,8 meses para os homens e de 3,6 meses para as mulheres. No total, registou-se uma diminuição de cerca de 4 meses (nesse triénio, o valor situava-se nos 81,06 anos).
O INE aponta, principalmente, o aumento do número de óbitos no contexto da pandemia da doença covid-19 como o culpado para, no triénio 2019-2021, das reduções na esperança de vida para a maioria das regiões NUTS II e III do país.
Ainda assim, realça o instituto no seu estudo, o impacto da pandemia covid-19 nas regiões foi, todavia, diferenciado.
Por NUTS II (o sistema que divide Portugal em Norte, Centro, Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo e Algarve, Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira), registaram-se reduções na esperança de vida à nascença em todas as regiões, com exceção das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. A maior redução observou-se no Alentejo, alerta o INE, onde a esperança de vida à nascença reduziu em cerca de sete meses, comparativamente ao triénio 2018-2020.
O Norte foi a região onde se registou a maior esperança de vida à nascença, com 81,13 anos. Em contrapartida, a Região Autónoma da Madeira continua a registar o mais baixo valor deste indicados no país, com 78,55 anos, apesar do aumento registado neste triénio.
NUTS III Por NUTS III, registaram-se reduções em todas as regiões do Continente, a maior na Lezíria do Tejo (-7,44 meses) e a menor no Alto Tâmega (cerca de 1 mês). Quando se tem em conta este sistema de divisão territorial, que divide o país em 25 regiões, as estimativas relativas à esperança de vida à nascença mostram que em nove delas foi superado o valor nacional (80,72 anos).
Destas, seis regiões (Cávado, Região de Leiria, Ave, Região de Coimbra, Área Metropolitana do Porto e Região de Aveiro) registaram valores da esperança de vida à nascença acima de 81 anos, conforme o estudo conclui, apontando, no entanto, que as menores esperanças de vida à nascença se verificaram na Região Autónoma dos Açores, no Baixo Alentejo e na Região Autónoma da Madeira, onde a expectativa de vida não atingiu 79 anos.
Manuel Pizarro, ministro da Saúde, considerou que “não é surpreendente que depois de dois anos de pandemia tenha havido um recuo da esperança média de vida em Portugal e um pouco por toda a Europa”, preferindo, agora, que o tempo seja utilizado a “estudar a mortalidade para tentarmos perceber se há algo que possamos fazer para inverter esta tendência”.
Uma opinião partilhada pela demógrafa Maria João Valente Rosa. “Os dados publicados referem-se ao triénio 2019-2021, que inclui dois anos – 2020 e 2021 – significativamente marcados pela pandemia da doença covid-19, com tradução no elevado número de óbitos observados no país. Os múltiplos efeitos colaterais associados ao contexto da pandemia, como as dificuldades de acesso aos cuidados de saúde ou de acompanhamento de doenças prolongadas, são, entre outros, aspetos importantes para entender tal recorde do século XXI, alcançado nesses dois últimos anos, em termos do número de óbitos”, explica ao i, argumentando que a redução da esperança de vida à nascença é obra da “força desse elevado número de óbitos”.
“Apesar do recuo da esperança de vida ter sido extensível a todas as idades, ele foi particularmente intenso nas idades superiores, precisamente nas idades em que a mortalidade foi mais agravada: entre 2018-2020 e 2019-2021, aos 65 anos recuou 1,7% (uma diminuição mais forte no caso dos homens) e à nascença 0,4 % (uma diminuição também maior no caso dos homens). Assim, e não obstante toda a população ter perdido, neste contexto de pandemia da doença covid-19, parte do ‘bónus de vida’, foram os homens e as pessoas com mais idade (em especial entre os 70 e os 82 anos) os que mais perderam”, conclui.
Esperança aos 65 O estudo do INE engloba também dados sobre a esperança de vida aos 65 anos em Portugal. Este indicador, no período 2019-2021, foi estimado em 19,35 anos. Aos 65 anos, os homens podiam esperar viver mais 17,38 anos e as mulheres 20,80 anos, o que se traduz numa redução de, respetivamente, 4,6 e 3,7 meses relativamente ao triénio 2018-2020.