Obras. Lisboa prepara-se para o caos com plano de drenagem e linha circular

Obras contra as cheias devem arrancar no final deste ano ou no início de 2023. Conclusão está prevista para 2030.

Lisboa não vai ter descanso nos próximos anos. Entre as obras para expansão do Metropolitano e o novo plano para proteger a cidade contra as cheias vão ser muitas as dores de cabeça para circular na capital. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) diz que esta será uma das maiores obras de sempre na cidade e garante que desta vez vai mesmo avançar.

O plano de drenagem da cidade, uma obra orçamentada em cerca de 250 milhões de euros que, segundo a autarquia, vai proteger a capital de cheias e inundações, poupar água e contribuir para o combate às alterações climáticas, foi apresentado esta segunda-feira.

Lançado em 2004 pelo então presidente da Câmara de Lisboa Carmona Rodrigues o Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL) tem sido frequentemente adiado. Agora, Carlos Moedas quer cumprir a grande obra cuja conclusão está prevista para 2030.

O projeto tem em vista a construção de dois túneis subterrâneos, na maior parte a cerca de 70 metros de profundidade. O primeiro, que se prolonga por cerca de cinco quilómetros, irá ligar Monsanto a Santa Apolónia. O segundo, mais curto com cerca de um quilómetro, estende-se de Chelas ao Beato.

Segundo os responsáveis autárquicos, o PGDL irá permitir controlar as águas pluviais “e assim reduzir os riscos de cheias e inundações em Lisboa, mitigando os previsíveis efeitos das alterações climáticas”. E irá ainda facilitar a reutilização das águas pluviais para rega de espaços verdes, reforço das redes de incêndio e lavagem de ruas. Esta água reciclada será depois distribuída por marcos de água ainda por construir na cidade.

Os primeiro passos neste projeto foram dados em 2018, com a construção da bacia de retenção de águas da Ameixoeira. Depois foram concluídas a do Alto da Ajuda e a do Parque Eduardo VII, bem como o micro túnel e cinco descarregadores no Parque das Nações e na Avenida Infante D. Henrique.

Resta agora a obra de maior envergadura que vai exigir a construção de sete grandes estaleiros de obra em Lisboa, uma vez que, além dos dois túneis, está também prevista a construção de bacias de retenção/infiltração de água nos parques e jardins de Parque Oeste, Campo Grande, Quinta da Granja, Vale de Fundão e Vale de Chelas. De acordo com a CML, o início das escavações devem arrancar no final deste ano ou no princípio do próximo ano, podendo envolver cerca de 800 trabalhadores. 

Além de evitar cheias e inundações, a esperança da autarquia é que o PGDL seja capaz de contribuir para o meio ambiente, estando prevista a construção de bacias antipoluição que irão captar e armazenar as primeiras chuvas – as mais poluídas por trazerem resíduos depositados na superfície dos pavimentos. Estas águas serão posteriormente transferidas para as estações de tratamento. “Desta forma será possível aumentar significativamente os volumes de água já tratada que é conduzida para o Tejo, minimizando os seus níveis de poluição”, acreditam os responsáveis da CML.

Para Moedas, esta é também uma importante medida para a câmara poupar água. Segundo o autarca lisboeta, atualmente, a fatura da água da CML é de quatro milhões de euros e 75% deste consumo é usado para fins de água não potável. “É uma das maiores obras no combate às alterações climáticas”, sublinhou, durante a apresentação do PGDL numa sessão solene no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Para já são desconhecidas as implicações que as diversas intervenções desta obra vão ter na circulação pela cidade, mas não se augura nada de bom a ver pelos constrangimentos que a construção da linha circular do Metro de Lisboa já desencadearam junto a Santos.

Esta nova linha, que ligará a estação do Rato ao Cais do Sodré, já obrigou ao condicionamento do trânsito na Avenida 24 de Julho, com a autarquia a definir rotas alternativas de acesso a Santos para quem viaja entre a Praça do Comércio e Alcântara.

Neste momento, quem quiser seguir em direção a Santos, tem de utilizar a Avenida Ribeira das Naus, passar pela Praça Duque de Terceira e pela Rua de Cintura do Porto de Lisboa em direção à Avenida Brasília.