Seis meses de absurdo

António Costa parece querer ficar na história como o homem da oportunidade perdida

Por João Rodrigues, advogado, vereador do urbanismo e inovação da CM de Braga

As polémicas no seio do Governo são umas atrás das outras e, se é verdade que há muitas que o são por força do imediatismo opinativo que hoje nos é imposto, outras tanta s são até mais graves do que aquilo que aparentam ser. As polémicas no seio do Governo são o novo dia-a-dia e a proliferação do absurdo corre o risco de se normalizar no seio da ação governativa.

De qualquer das formas, a verdade é que esta constante trapalhada em que quem nos governa vive é perigosa, uma vez que não há nada mais grave para uma democracia do que a normalização do grotesco.

Com uma maioria absoluta, livre das amarras da extrema esquerda que lhe permitiram governar por seis longos anos, António Costa tinha o caminho aberto para, agora, governar por inteiro, que é o mesmo que dizer, para reformar e para transformar Portugal sem desculpas e sem forças que o contrariassem.

No entanto, António Costa parece querer ficar na história como o homem da oportunidade perdida.

Lembremos o episódio vergonhoso de Setúbal. Lembremos os refugiados ucranianos que procuraram o nosso país para fugir ao terror e que foram brindados na receção com a presença inquisitória de duvidosos agentes russos. Lembremos, também, que se opôs o PS, do qual o primeiro-ministro é secretário-geral, a que fossem prestados esclarecimentos no parlamento sobre o assunto.

Lembremos o caos nos aeroportos e o vexame a que nos prestamos num momento em que a economia do país tanto depende do turismo.

Lembremos o caos nas urgências de obstetrícia e de ginecologia. Lembremos o caos nas urgências de cirurgia pediátrica. Lembremos a enorme quantidade de mães e de crianças que, para além da questão de saúde propriamente dita que pretendiam ver resolvida, se depararam com uma incerteza indigna de um Sistema Nacional de Saúde que os socialistas glorificam na língua, mas destroem na ação.

Lembremos o caso do novo aeroporto Lisboa. Lembremos o ministro cuja autoridade saiu absolutamente esfarrapada depois de um episódio digno de um filme trágico-cómico.

Lembremos os incêndios deste verão. Lembremos a falta de meios e a descoordenação absoluta. Lembremos as desastrosas, desrespeitosas e alheadas declarações dos ministros – ou, neste caso, das ministras: desde a questão dos algoritmos, à ideia de que o ‘plano de revitalização’ do Parque Natural da Serra da Estrela o iria deixar melhor após os incêndios, só faltando mesmo à ministra dizer quão benditos foram os fogos.

Lembremos a contratação de Sérgio Figueiredo para o Ministério das Finanças e o chorrilho de outras contratações que com ela se levantaram e que bem demonstram as teias que ligam o Partido Socialista às contratações da máquina do Estado.

Lembremos a saída inglória de Marta Temido, a ministra que acabou com a PPP do Hospital de Braga – o melhor do país graças à gestão que o acompanhava – por mero capricho ideológico. Lembremos a ministra que disse que «negociar com enfermeiros é privilegiar o criminoso». Lembremos a ministra que, ao fim de 4 anos no cargo, veio imputar as falhas no SNS a decisões ‘nos anos 80’

Lembremos o novo ministro, Manuel Pizarro, que ainda agora entrou e gastou todos os dias no lugar a justificar-se.

Lembremos o pacote de ajudas. Um pacote que não é mais do que um corte nas pensões. 

Lembremos o pacote de ajudas às empresas. Lembremos a propalada descida transversal do IRC defendida pelo ministro da Economia. Lembremos também a forma como o Ministro das Finanças o desautorizou, sem apelo nem agravo.

Lembremos o que se passou com a ministra da Coesão Territorial. Lembremos os fundos europeus de que é responsável e que a empresa do marido alegremente recebeu.

Lembremos a TAP e os três mil milhões de euros de dinheiro dos contribuintes que lá foram injetados, depois de uma renacionalização forçada da empresa. Lembremos os BMW para a administração da TAP. Lembremos António Costa a dizer que não tem nada a ver com o assunto porque até vai de Nissan para casa.

Lembremos que tudo isto se passou em apenas seis meses. Os primeiros seis meses deste mandato.

Lembremos, por fim, quão preocupados devemos ficar: por nós, pelo país e também pela democracia.