O Governo de Emmanuel Macron ordenou que funcionários de refinarias em greve voltassem aos seus postos de trabalho, esta quarta-feira, perante um cenário de escassez de combustível. E França ficou à beira de uma autêntica batalha entre as autoridades, junto com os gigantes petrolíferos TotalEnergies e a ExxonMobil, contra os sindicatos, que prometem não desmobilizar.
Seis das sete refinarias em França estavam paralisadas por greves que duram há mais de vinte dias, com os trabalhadores a exigirem melhores salários para acompanhar a inflação, tendo em conta que os seus empregadores até tiveram os lucros colossais graças à escala dos preços da energia com a guerra da Ucrânia. O Governo de Macron começou por requisitar os funcionários essenciais para um depósito de combustível na refinaria de Port-Jerome, na Normandia, avançou a France Press, citando fontes no Ministério da Energia, sendo esperada uma generalização desta medida.
Os trabalhadores que recusarem voltar ao trabalho ficarão em risco de uma multa ou até de penas de prisão. Já a Confederação Geral do Trabalho (CGT) uma central sindical alinhada com a esquerda radical, que tem apoiado esta greve, acusou o Governo de “escolher a violência” com esta requisição, que considerou “não necessária e ilegal”, prometendo desafiá-la em tribunal. No entanto, não é a primeira vez que o Executivo francês recorre a este poder, tendo o Governo de Nicolas Sarkozy feito o mesmo para enfrentar uma greve dos trabalhadores das petrolíferas, em 2010.
Esta quarta-feira continuaram a decorrer greves em pelo menos duas refinarias, avançou o Guardian, prevendo que o protesto continue. E há até receios de que as centrais sindicais francesas, conhecidas pela sua combatividade, num país onde os direitos laborais são um tópico potencialmente escaldante, convoquem uma greve geral em solidariedade com os trabalhadores dos gigantes petrolíferos.
Ainda esta quarta-feira alguns funcionários de centrais nucleares, de que França tanto depende, anunciaram estar a ponderar juntar-se a esta greve, avançou a Reuters. Algo que ameaça semear o caos no sistema energético francês.
Escassez e raiva A TotalEnergies, após reunir com sindicatos, esta quarta-feira, anunciou estar disposta a negociar salários, mas apenas quando o combustível voltasse a correr nas suas refinarias. Algo recusado pelos representantes dos trabalhadores na CGT, que exigem pelo menos um aumento de 10% nos salários, tendo-se a central sindical juntado também ao apelo por um imposto sobre os lucros extraordinários acumulados por este gigante petrolífero.
Enquanto isso, decorria uma corrida à gasolina e diesel em França. O pânico dos condutores levou ao açambarcamento, que agravou ainda mais a escassez. Por todo o país, ao longo dos últimos dias, viram-se filas gigantescas em gasolineiras, tendo alguns que esperar durante horas para abastecer.
“A gasolina é demasiado importante para nós”, explicou Santigo, um motorista que vive de fazer entregas, conversando com um repórter da AFP em Paris. “Esta semana tem sido um pesadelo”, desabafou. Em algumas regiões do sul – Alpes-Marítimos, Var e Vaucluse – chegou a ser imposto um racionamento.
Apesar da contestação laboral parecer prestes a alargar-se, Macron não desiste do seu impopular plano de reforma das pensões. Será um inverno politicamente quente em França, com o Presidente a querer subir a idade da reforma dos 62 para os 64 ou 65 anos.