O mundo viu a veia vingativa de Vladimir Putin quando o Presidente russo ordenou sucessivos ataques contra infraestruturas civis na Ucrânia com mísseis de longo alcance e drones suicidas. Perante os receios de que a vingança se torne nuclear, o responsável pela diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, veio avisar que, se isso acontecesse, a resposta do Ocidente não seria nuclear, para evitar um cenário apocalíptico. Contudo, “seria uma resposta tão poderosa, do ponto de vista militar, que as Forças Armadas russas seriam aniquiladas”.
“Putin diz que não está a fazer bluff. Bem, ele não se pode dar ao luxo de fazer bluff”, salientou Borrell, numa conferência de imprensa em Bruxelas, esta quinta-feira. “E tem de ser claro que as pessoas que estão a apoiar a Ucrânia, a União Europeia e os Estados-membros, os EUA e a NATO também não estão a fazer bluff”, garantiu.
O discurso duro de Borrell, no que toca a uma eventual ofensiva convencional em resposta a um ataque nuclear russo, poupou-lhe os dissabores de Emmanuel Macron. Quando o Presidente frisou que França, “evidentemente”, não responderia com um ataque nuclear, deu por si a ser alvo de críticas.
“É um erro político”, acusou Jean-Louis Thiériot, um conservador do partido Os Republicanos, citado pelo Politico. “Um dos princípios da dissuasão nuclear é que haja incerteza”.
Já o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, veio a terreiro avisar a Rússia que, se utilizasse armas nucleares na Ucrânia, tal seria pisar o risco de uma forma muito grave e que haveria “graves consequências”, avançou a Reuters. No entanto, Stoltenberg tentou acalmar os receios, notando que a probabilidade de Putin recorrer a armas nucleares “extremamente remota”.
Ainda assim, é apontado que a probabilidade de Putin recorrer medida tão desesperadas aumenta consoante pior lhe corre a guerra. E mesmo numa das frentes em que mais apostou as suas forças, em Kherson, no sul, os russos têm sido forçados a recuar. Estando a tentar estabilizar a sua linha da frente a oeste da aldeia de Mylove, após um avanço ucraniano numa profundidade de pelo menos vinte quilómetros, declarou o Ministério da Defesa britânico.
“Combates pesados continuam ao logo desta linha, especialmente na ponta oeste, onde avanços ucranianos significam que o flanco russo já não está protegido pelo rio Inhulets”, lia-se em comunicado. O Kremlin precisa a todo o custo de evitar o caos a que se assistiu no sudeste de Kharkiv, onde tropas entraram em pânico e fugiram para salvar as suas vidas, deixando para trás arsenais inteiros e até um T-90M, o tanque mais avançado à disposição dos russos, do qual a NATO nunca tinha conseguido obter um exemplar.
O problema de Putin é que já se nota pânico em Kherson, tendo o chefe da administração local instalada pelo Kremlin, Vladimir Saldo, implorado por ajuda para evacuar civis da sua região, devido aos bombardeamentos com mísseis ucraniano. E Marat Khusnullin, vice-primeiro-ministro russo, já veio prometer “acomodação gratuita e tudo o que for necessário” para a retirada da população da região.