Por Carlos Carreiras
Temos de operar a mudança. Vivemos tempos estranhos e imprevisíveis, temos de ter consciência de que são tempos de disrupção e não de transformação.
Temos vivido a tentar travar o empobrecimento e acabamos por replicar e ampliar pobreza; no limite, tentamos controlar a intensidade e a desaceleração da pobreza – e falo da pobreza económica, mas também social, sem esquecer a pobreza ambiental. Mas continuamos a empobrecer, afetando a perda de valores, de princípios e em geral do espírito humanista que nos deve nortear.
As consequências recaem com mais incidência sobre os mesmos, os mais vulneráveis pela idade, sejam os mais novos ou os mais velhos, e em especial quem tem menos condições socioeconómicas.
Temos andado a destruir a esperança e o futuro, levando-nos à ‘exasperação’.
Há uma desresponsabilização coletiva, andamos amorfos e consideramos tudo escandalosamente grave, para nos dias imediatos já considerarmos tudo normal. Estamos acomodados.
É urgente deixarmos de replicar pobreza e passarmos a criar cadeias de valor.
Confesso que não tenho a solução para esta revolução, mas tenho algumas pistas.
A primeira é a de que são tempos de colaboração e de cooperação e não de competição. Num mundo que se fecha e se concentra, são tempos de apostar nos princípios da gloCalização, descontinuando a gloBalização, beneficiando da nossa identidade e dos fatores que nos diferenciam, permitindo-nos criar valor para nós e para o mundo.
Nos últimos dias, pelos impactos de uma guerra tão brutal como injusta em cima de uma pandemia sanitária e debaixo de uma pandemia climática. Temos andado a discutir os apoios que os Estados devem promover às famílias e às empresas, em que todos consideram que esses apoios são diminutos, mas sem nos preocuparmos em mudarmos de paradigmas, em encontrar alternativas.
Portugal não foge a esta tendência, mas, no nosso caso concreto, os problemas de hoje derivam de más ações e de más decisões do passado. Não efetuámos as reformas necessárias que nos atualizavam para enfrentarmos positivamente o futuro.
Este ambiente tem atrás de si o perigo do ressurgimento de movimentos extremistas, populistas, radicais e acima de tudo perigosos, sejam eles de esquerda ou de direita.
Mas, como sou um otimista, não podia estar presidente de câmara se o não fosse, assim como continuo a acreditar na natureza humana, quero deixar dois exemplos positivos e que nos mostram que há espaço para a esperança e que aconteceram apenas nesta última semana em Cascais.
A expedição do nosso mar, com a criação de uma área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária. Unindo os municípios de Cascais, Sintra e Mafra à Fundação Oceano Azuk, com o objetivo de conhecer e proteger o património natural do país, realçando o valor do mar e demonstrando todo o potencial que tem. Preservando as regiões marinhas da montanha de Camões, Cabo da Roca, plataforma rochosa da Ericeira, e entre o Cabo Raso e a costa sul de Cascais, por se tratarem de zonas de grande biodiversidade, com mais valores naturais.
Em 12 dias de trabalho de campo, os mais de 50 investigadores que participaram na expedição trataram de aferir a biodiversidade de fauna e flora e de cartografar a região. Com recurso a mergulho científico e a várias tecnologias, como drones, sistemas de câmaras de vídeo subaquáticos iscadas (BRUV – Baited Remote Underwater Video) e um ROV (RemotelyOperated Vehicle), foi possível aceder a zonas que, até hoje, tinham sido muito pouco estudadas. Adicionalmente, caracterizou-se, em terra, a biodiversidade da zona entre marés (zona intertidal).
Com os dados e imagens recolhidos, será produzido um relatório científico, que contribuirá para o diagnóstico do estado de saúde e valor científico e ecológico desta região do país. Utilizando essa informação, permitirá a proteção e gestão dos recursos naturais de forma sustentável para os valores naturais.
Assim, e aproveitando os ativos que temos na nossa proximidade, da nossa gloCalização, encontramos os ativos diferenciadores que nos podem dar capacidade competitiva e que nos podem fornecer uma grande capacidade de nos desenvolvermos. Isto só é possível com a junção de vontades, unindo a ciência e os vários parceiros do setor público e do setor privado, as academias do saber com as academias do fazer. Importa referir que no próprio setor público, é essencial haver uma orientação do poder central e do poder local.
Outra iniciativa de extrema importância foi na área da saúde, ao ter sido realizado, nesta quarta-feira, o lançamento da primeira pedra da Advanced Health Education (AHED), a primeira Escola de Estudos Pós-Graduados em Saúde de Portugal, que vai nascer no Campus de Saúde da NOVA, no terreno do antigo Hospital Ortopédico Dr. José de Almeida, entretanto desativado e que tinha sido comprado ao Estado pela Câmara Municipal de Cascais. Esta obra marca uma nova era na freguesia de Carcavelos e no concelho de Cascais, enquadra-se na consolidação e ampliação do projeto de criação da Baía do Conhecimento que concentrará na praia de Carcavelos, a Nova School of Business and Economics (NOVA SBE), a Nova Medical School, a AHED e a futura Faculdade de Direito da Universidade Nova, reforçando a fixação de ensino superior iniciado com a Escola Superior de Saúde de Alcoitão (ESSA) e a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE),
Ambas as iniciativas têm características comuns. Com uma conjugação de esforços, vontades e competências, envolvendo o setores público, privado e associativo, juntando o Governo e a Autarquia, potenciando a capacidade competitiva e a capacidade de desenvolvimento, atraindo e fixando talento, proporcionando fortes impactos a nível social e criando cadeias de valor ao mesmo tempo que proporciona empregos altamente qualificados, que promovem o desenvolvimento económico e social.