Ao celebrar-se o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza ficou a saber-se, por um estudo da Pordata, que Portugal tem quase metade da população a viver abaixo ou no limiar da pobreza.
Nesse mesmo dia, a deputada socialista, Isabel Moreira, defendia ardorosamente nas televisões, um projeto de lei sobre «o exercício do direito à autodeterminação da identidade e expressão de género, bem como das características sexuais em ambiente escolar».
Ou seja: para aquela deputada, que encabeça na bancada do PS um grupo de 31 subscritores, estamos perante uma prioridade legislativa de forma a que as crianças ou jovens possam decidir se são meninos ou meninas e exigir serem tratados nas escolas de harmonia com essa opção.
Percebe-se agora melhor para que tem servido a disciplina obrigatória de ‘cidadania e desenvolvimento’, uma espécie de ‘cavalo de Troia’ prévio a este tipo de ‘inovações’ escolares, às quais têm resistido pais e educadores cientes das suas responsabilidades, como aconteceu com a família Mesquita Guimarães, de Famalicão, que alegou «objeção de consciência», não autorizando que os seus dois filhos frequentassem as referidas aulas.
Têm do seu lado, constitucionalistas, como Bacelar Gouveia, que consideram que se está perante a ‘expropriação’ dos poderes funcionais relativos à educação dos filhos, como se a escola fosse «a sua nova família, o que seria próprio de Estados totalitários».
Coube a Isabel Moreira, no papel de ‘comentadora’ na CNN Portugal, a defesa de um diploma, cuja urgência deve ser tão óbvia para ela e para os demais parlamentares que a acompanham, como o facto de Portugal ocupar a oitava posição no ranking europeu dos países com maior risco de pobreza ou de exclusão social.
Eis ao que chegou o estado da Nação. Após sete anos consecutivos de governação socialista, o primeiro-ministro António Costa tem para mostrar um país envelhecido e empobrecido, amparado na ‘subsídio-dependência’, útil para quem só está interessado em segurar o poder .
Nas primeiras décadas deste século, Portugal já esteve no limiar da bancarrota graças ao PS de Sócrates – partilhada, aliás, por vários dos atores políticos ainda em cena –, enquanto a Irlanda, com metade da população portuguesa, que já foi uma das nações mais pobres da Europa, está hoje em segundo lugar entre a mais ricas.
Apesar da crise financeira que sofreu entre 2008 e 2012, a Irlanda recuperou e tem hoje um PIB per capita que é, sensivelmente, quatro vezes superior ao português. Faz a diferença.
Por estranho que pareça, os nossos responsáveis políticos em vez de analisarem a fundo o ‘milagre’ irlandês, e de como a ‘ilha-celeiro’ da Inglaterra se transformou num ‘study-case’ (Marcelo terá aprendido a lição em Dublin?…), têm-se entretido a despejar milhões de euros para ‘salvar’ a TAP renacionalizada – para depois a venderem ao desbarato –, ou a multiplicarem estudos e pareceres em nome do mítico TGV ou da localização do novo aeroporto de Lisboa.
A mancha de pobreza alastrou implacável, enquanto Governo, Parlamento e Presidente, cultivam ninharias e ‘fait-divers’, varrendo ‘para debaixo do tapete’ os verdadeiros problemas que o país enfrenta, visíveis no aumento dos dependentes do Banco Alimentar. E nos furtos de alimentos nos supermercados.
Cresce o número dos sem-abrigo e até crescem os casos de falsos doentes, que procuram ficar internados em hospitais públicos para garantir um teto e uma refeição, enquanto há deputados da nação que empregam o seu tempo a debater leis absurdas para exclusiva satisfação dos seus egos e dos círculos onde se movimentam.
Segundo os dados do Eurostat, o PIB per capita português situou-se em 74% da média da União Europeia, sendo um dos mais baixos do conjunto dos 27 e ainda em risco de descer.
O estudo da Pordata não deixa margem para dúvidas. A pobreza em Portugal progrediu, e as razões disso não podem ser assacadas por inteiro, como se pretende, à pandemia e à invasão Rússia da Ucrânia.
Tem-se agravado, nos últimos anos, uma política de infantilização dos portugueses, hipervalorizando tudo o que ‘vem à rede’, com a balela de que ‘somos os maiores e os melhores’.
É um discurso que se repete a cada passo, fomentando ilusões, que os dados apurados desmentem.
E foi perante este quadro sombrio, com metade do país a viver em dificuldades, que a ministra Mariana Vieira da Silva revelou, ufana, estar a trabalhar num projeto-piloto para testar a semana de quatro dias e que há instituições públicas já interessadas… Pudera!…
Com a degradação que se observa nos serviços públicos a ideia parece tão surreal como outra que visava instaurar uma nova censura, à pala da monitorização pelo Governo do ‘discurso de ódio’ na internet. Pela mão da mesma governante… é obra!…