«Era uma vez…» A história podia começar assim, não se sabe é como acaba. Influenciador digital, apresentador e locutor de rádio, Fábio Lopes ou Conguito, como é conhecido entre a sua tribo, construiu uma rábula mentirosa à volta do futebol. Foi fundador do Villa Athletic Club, clube sediado em Ponte de Sor, que está inscrito nas competições da Associação de Futebol de Portalegre (AFP), mas que verdadeiramente nunca existiu… ou melhor, existe no mundo virtual do seu presidente.
Passados quatro meses, o plantel tem salários em atraso, os jogadores foram abandonados pela direção e estão a passar grandes dificuldades. Fundado a 14 de junho deste ano, o Villa Athletic está perto de fechar portas. O seu principal objetivo era profissionalizar o clube, independentemente da divisão que estivesse a disputar… nem no Football Manager isso acontece. Estava ainda delineado um plano comunicacional, de marketing e de responsabilidade social. A subida ao topo do futebol nacional ficava assim mais fácil na ideia de Conguito. Obviamente, nada disso se concretizou.
O plantel foi formado com jogadores experientes, casos de Edinho e André Carvalhas, e o técnico escolhido foi Meyong, antigo jogador do Braga e Guimarães. Os problemas vieram depois. O Villa faltou ao jogo da Taça Remax da AFP e, na segunda jornada, foi jogar a Elvas com apenas 12 jogadores, sem equipa técnica e com equipamento emprestado pelo Samora Correia.
Conguito queria ’prestigiar o futebol português’ mas o que fez foi arrastá-lo para a lama, e há jogadores que pensam deixar de jogar depois deste caso. Usando a sua influência digital, na rádio e na televisão, o youtuber conseguiu o apoio da Associação de Futebol de Portalegre e da Câmara Municipal de Ponte de Sor para avançar com o projeto, que incluía também a construção do centro de estágio Villa Park, mas esse apoio foi retirado e, atualmente, o Villa Athletic nem campo tem para jogar.
A explicação dada por Conguito no Instagram deixa a ideia de que tudo isto foi uma brincadeira de crianças. «Peço desculpa a todos por ter acreditado no sonho. É muito mais difícil do que imaginei. Começámos do zero e acreditei que estávamos a tempo de encontrar uma solução financeira para um orçamento que triplicou à frente dos meus olhos porque fui ingénuo. Foi aí que algumas pessoas tentaram apoderar-se do clube, do projeto e da ideia».
Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores, considerou tratar-se de «um projeto ruinoso, que criou expectativas de condições de trabalho e salários que não tinham qualquer sustentação», pedindo ainda «maior atenção e exigência no processo de licenciamento de novos clubes» para evitar mais rábulas como a do Villa Athletic.