1. A TAP consegue sempre ser notícia nos últimos tempos, infelizmente nem sempre pelas melhores razões. Depois da imprescindibilidade da nacionalização acerrimamente defendida por António Costa e Pedro Nuno Santos durante a legislatura anterior e bem respaldados na Geringonça, assistimos que afinal o futuro passa pela reprivatização, de preferência pela integração num grande grupo de aviação. Pelo meio, todos nós (sem ninguém nos pedir opinião) metemos lá ‘uns trocos’ que afinal nem chegaram a Eur 4 MM…
Para tal há que deter a totalidade do capital da TAP e o Estado fez aquilo que os sempre tão criticados capitalistas (esses malandros…) tantas vezes fazem quando há elevadíssimos prejuízos: uma ‘operação harmónio’ seguida de um aumento de capital, exclusivamente pelo Tesouro (e a Parpública), a decidir numa Assembleia Geral a 11 de novembro. Saltam fora Humberto Pedrosa que detém ainda 22,5% do capital e os trabalhadores que detêm 5%.
Segundo se sabe, primeiro, há um aumento de capital dos atuais Eur 15 M para cerca de Eur 239 M, depois reduzem o capital a zero para cobertura de prejuízos acumulados e, finalmente, novo aumento para Eur 10 M. Tudo legal! Bye bye privados, porque queremos outros que aguentem a TAP, talvez privadíssimos…
Quando nos lembramos que, em meados de 2020 (sim, há escassos 2 anos!), David Neeleman (agora envolvido numa queixa enviada ao Ministério Público sobre empolamento de valores na compra de aviões) ainda levou Eur 55 M para sair e vemos que em 2022 os trabalhadores que detinham 5% irão receber zero, beliscamo-nos a perguntar se estaremos a sonhar…
Então quem serão os potenciais privados concorrentes? O desejo do Governo não pode ser mais claro: um grande grupo de aviação, leia-se Lufthansa (preferencialmente, digo eu…), British Airways/Iberia, Air France/KLM, venha quem vier. Acrescento eu agora: será que a Ethiad, agora com Antonoaldo Neves na liderança e que não servia para a TAP (saiu com Pedro Nuno Santos), estará interessada? Dinheiro não lhes faltará e o seu novo CEO conhece a TAP por dentro e por fora. Era curioso ver esse regresso à casa de partida…
2. As incompatibilidades parecem estar ‘na moda’, atingindo diversos ministros deste Governo PS. Um destes dias, numa conversa amigável com destacada figura do principal partido da oposição, dizia-me ele, a propósito de umas linhas que escrevi sobre os ministros ganharem mal: «este tema das incompatibilidades é mais uma das formas de deitar lama para cima das pessoas». Depois, em concreto, sobre alguns dos recentes casos bem mediáticos, referia que considerava os ministros em questão acima de qualquer suspeita.
Obviamente que não tenho os conhecimentos que ele possui sobre as pessoas em questão, seus adversários políticos de anos, mas a minha intuição tende exatamente a corroborar o que ele me afirmava. Não acredito que ministros, sobretudo estes, pudessem ter interferências concretas em adjudicações profissionais a familiares, envolvendo outros ministérios ou mesmo o próprio ministério. Poderei ser naif, mas estou plenamente convencido do que afirmo, sem, contudo, deixar de ponderar todas as considerações éticas sobre os temas, sempre da maior relevância nestes enquadramentos.
No entanto, o PS também tem imensa responsabilidade, sobretudo na dimensão que os mesmos atingem. O facto de, há uns anos, serem conhecidas diversas relações familiares em Governos PS, sejam elas a nível nacional ou regional (Açores), contribui generosamente para este enorme desconforto e geram ‘ab initio’ suspeições lamentáveis que eram perfeitamente evitáveis. Sendo esta a realidade, a única coisa a fazer pelos visados é mesmo reivindicar e demonstrar a sua própria inocência.
P.S. – Esta semana, o Estado emitiu Eur 750 M de Bilhetes do Tesouro, a 11 meses, a uma taxa de 2,1%. A 22 maio, numa emissão idêntica em prazo comparável, a taxa era negativa (-0,314%). Recentemente, em setembro 2022, em emissão a 10 anos, a taxa foi de 2,754%. Os sinais aí estão, a taxa média de juro já vai em 1,3% e o peso impressionante da dívida nacional, em valor nominal, andará perto dos Eur 270 MM, após uma recente liquidação de cerca de Eur 8 MM a 17 outubro (em agosto era de Eur 278,2 MM). Não admira que Medina queira reduzir o rácio para 115% do PIB ainda este ano, sobretudo pela diminuição do seu valor nominal, porque senão, em 2023, existe um forte risco do valor dos juros de Eur 6,8 MM inserido no OE ser largamente ultrapassado.