por Afonso de Melo e Dafrallah Mouadhen
O movimento dos ponteiros do relógio é irreversível e o início do Mundial de 2022 está a um mês de distância. Um problema continua bicudo como o cume do Matterhorn: a capacidade de instalar os milhares e milhares de pessoas que chegarão ao país nos tempos mais próximos. A escassez de camas é um dos dramas de um país que não vai além dos 11 437 km². Esta semana, o principal responsável pela Operation Hebergement da organização do torneio, Omar El Jaber, desmultiplicou-se num trabalho duro de diplomacia internacional. Porque os preços dos quartos de hotel – e há hotéis de grande categoria em Doha – dispararam de forma insuportável para a maior parte das carteiras. Perante o facto consumado de ter de arranjar lugar para instalar mais de um milhão de visitantes, Al Jaber faz os possíveis e os impossíveis para transmitir uma mensagem de confiança para aqueles que ainda não têm sequer um colchão para descansar os ossos apesar de já terem ou acreditações (no caso da imprensa; por exemplo, só a BBC tem duas dúzias de elementos acreditados) ou bilhetes para os jogos (no caso dos adeptos). Al Jaber fez saber que a aplicação Haya – uma espécie de visto que prova que o visitante tem alojamento e sem o qual não poderá embarcar para o Qatar – chegou aos 600 mil assinantes. No fundo, para já, os grandes felizardos porque, com o teste COVID feito com pelo menos 48 horas de antecedência da chegada ao país, já ultrapassaram todos os obstáculos.
Preços mais em conta
Durante quatro/cinco meses foi possível arrendar quartos ou apartamentos em Doha por preços aceitáveis, ou seja, entre os 50 e os 100 dólares por noite. Algo bem distante dos 4 e 5 mil dólares que os hotéis de luxo exigem como diária. Recentemente, a organização levantou uma série de tendas bem equipadas, com o mínimo de condições de habitabilidade (não são tendas de campismo, como devem calcular), e que custam o equivalente a 84 dólares por noite. Nelas, o cliente tem acesso a ar condicionado, duche, ecrã de televisão e internet. Na sua grande maioria espalham-se pelos arredores da capital e o tal cartão Haya dá aos ocupantes acesso a transporte gratuito através do metropolitano ou da rede de autocarros que foi criada especialmente para o Mundial. Os parques para receber caravanas também foram abertos entretanto e os preços de estacionamento para aqueles que decidirem viajar por esse meio é igualmente do mais baixo que se consegue encontrar, tendo os condutores em conta que, depois de chegados ao local, não vão ter liberdade para andar ao volante de um lado para o outro.
Finalmente, a solução mais recente, foi a de estacionar dois navios de cruzeiro no porto de Doha, abrindo espaço a mais 4 mil camas. O MSC Poesia e o MSC Europa vão fornecer aos que os escolherem uma vista fantástica sobre a linha do horizonte em West Bay, mas os valores não são propriamente convidativos. O luxo de adormecer ao embalo das ondas começa a partir dos 400 dólares/noite. Foi preciso improvisar, e a organização qatari improvisou o que pôde. Mas algo é certo: este Mundial não é para pobres!