A adaptação das infraestruturas às alterações climáticas é um tema científico e político na ordem do dia, pela indefinição do porquê, como e quando adotar medidas de adaptação. Adaptar significa intervir na infraestrutura (ou na envolvente) de forma a diminuir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência. Apesar da certeza na tendência, há ainda muita incerteza nas projeções, particularmente no momento, magnitude e padrões regionais das alterações climáticas devido à compreensão incompleta das fontes de gases de efeito estufa, das nuvens e dos oceanos. Mas devemos ‘esperar para ver’ até entender tudo sobre as alterações climáticas? Essa não é uma opção científica, mas também não é política, em virtude das catástrofes que têm sido atribuídas às mesmas.
Muitas vezes a discussão sobre a adaptação é feita de forma muito genérica em torno das infraestruturas no seu todo, dificultando a compreensão do assunto por parte das pessoas e autoridades. Faltam exemplos e visualização concreta do desafio.
Para facilitar, vejamos o exemplo das pontes. Devemos começar pelas pontes de grande envergadura, como a Vasco da Gama? Mas note-se que as pontes de pequena escala, aquelas sob controlo dos municípios, são geralmente menos resistentes e mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, nomeadamente às cheias e aos fenómenos de erosão nos leitos dos rios.
Como o maior risco que se corre é não conhecer o risco, na semana passada ocorreu, em Lisboa, o seminário ‘A road for adaptation of bridges to climate change’ para reunir especialistas de pontes, climatologistas e autoridades nacionais e locais.
Conclusões? Não houve dúvidas que as alterações climáticas já estão a afetar regiões em todo mundo e que Portugal terá no futuro um aumento médio da temperatura, maior frequência de ondas de calor, redução dos níveis médios de precipitação, mas cheias mais intensas com agravamento dos valores dos caudais máximos nos rios. Nos meios urbanos poderá observar-se ocorrência de cheias rápidas com um potencial destruidor superior face aos valores históricos.
Contudo, as alterações climáticas são específicas de cada região, o que implica diferentes medidas de adaptação por regiões e tipos de pontes. Algumas entidades nacionais já começaram a estudar as vulnerabilidades e os riscos. Ficou registado o papel das câmaras municipais na adaptação da envolvente através de medidas baseadas na natureza. No final concluiu-se que a adaptação às alterações climáticas não pode ser vista como algo novo, mas integrada nos mecanismos já existentes de planeamento e gestão, manutenção e conservação.
*Professor Catedrático, Universidade Lusófona