Poderá Jesus Cristo ter nascido numa gruta e não num estábulo, como diz o ‘Evangelho segundo S. Mateus’ e é comummente aceite? Esta velha e persistente tradição parece ser sustentada pela existência, em Belém (Palestina), da Gruta da Natividade, no topo da qual foi construída a Igreja com o mesmo nome.
E contém em si um paralelismo sedutor, uma daquelas repetições recorrentes nos textos sagrados. Tal como viria a ser sepultado numa gruta (túmulo esse que, por sua vez, evocava uma espécie de segundo ventre materno, onde ressuscitaria para a vida eterna), Jesus teria também teria nascido numa gruta. «Levanta a pedra e aí me encontrarás», terá dito o Messias. Nascimento e morte ecoam-se, repercutem-se e confundem-se – tal como, aliás, o facto de ser filho de um carpinteiro se afigurava já como um prenúncio sinistro da sua morte violenta na cruz de madeira.
O nascimento de Jesus numa gruta encontra-se relatado no ‘Evangelho de Tiago’, de autoria e datação incertas, um dos textos agora reunidos no volume Evangelhos Apócrifos Gregos e Latinos (ed. Quetzal): «E os magos partiram, e eis que a estrela que viram no Oriente os levou até que entraram na gruta; e parou por cima da entrada da gruta. E os magos viram o menino com a mãe dele, Maria. E tiraram da bagagem deles ofertas: ouro e incenso e mirra».