Ucrânia. Putin fala de um “jogo sujo” e teme-se guerra no espaço

As forças armadas russas desiludiram, mas têm muitas armas por usar. O Kremlin sugeriu utilizar mísseis caça-satélite contra o Ocidente.

Vladimir Putin, que apostou tudo na invasão da Ucrânia, não se mostra arrependido, por mais que as suas tropas estejam a ser batidas no campo de batalha. “Poder sobre o mundo é aquilo que o chamado Ocidente colocou em jogo”, frisou o Presidente russo, que se queixa há muito do enorme fluxo de munições e armamento da NATO recebido por Kiev. “Mas o jogo é perigoso, sangrento e, diria, sujo”, rematou, quinta-feira, no fórum do clube Valdai, que reúne os amigos do Kremlin pelo globo fora. E prometendo que “o período histórico de dominância exclusiva do Ocidente sobre as questões mundiais está a terminar”.

Caso Putin se referisse à ascensão da China a potência mundial, não há muitos analistas que discordem. Mas se estiver a falar da sua Rússia já é outra história. Ainda o ano passado se discutia se o Kremlin, apesar da fraqueza da sua economia, tinha as segundas forças armadas mais poderosas do mundo ou não. Hoje quase não há dúvidas que estas não passavam de um tigre de papel, para desespero do regime. Que, contudo, ainda tem parte do seu arsenal por usar, não só a nível nuclear. Tendo o Kremlin ameaçado até destruir os satélites ocidentais de que dependem as forças ucranianas, enquanto Putin discursava no fórum Valdai.

O regime de Putin não acha piada nenhuma “ao envolvimento em conflitos armados de componentes da infraestrutura espacial civil, incluindo comercial, pelos Estados Unidos e os seus aliados”, queixou-se Konstantin Vorontsov, um alto dirigente do Ministério dos Negócios Estrangeiros russos, falando nas Nações Unidas e citado pela Reuters. Ameaçando que “infraestrutura quase-civil pode ser um alvo legítimo para ataques de retaliação”. Algo que seria uma escalada na invasão, podendo levar a NATO e a Rússia a enfrentarem-se diretamente no conflito.

 

Guerra de nova geração

O próprio n.º2 das secretas militares ucranianas, Vadym Skibitsky, admitira que os defensores usavam imagens de satélite para guiar mísseis de longo alcance disparados pelos seus HIMARS, em entrevista ao Telegraph, devastando a logística dos invasores.

Isto além dos ucranianos terem acesso a comunicações por satélite através dos Starlink, oferecidos por Elon Musk. E de terem ajuda de uma espécie de exército de analistas amadores, espalhados pelo globo, que desde o início da invasão dedicam o seu tempo livre a vasculhar imagens comerciais de satélite. Procuram posições russas, em tempo real, postando-as no Twitter para que os ucranianos as vejam.

Daí que o Kremlin agora ameace dar uso ao seu arsenal de mísseis caça-satélites. Ainda o ano passado forças russas testaram os chamados mísseis A-Sat, destruíndo um velho satélite espião soviético, o Cosmos 1408. À época, os testes foram criticados por agravar o problema do lixo espacial – ainda esta semana a Estação Espacial Internacional teve de ativar motores para se esquivar dos detritos do Cosmos 1408. Agora, parecem aumentar o risco de uma nova guerra mundial, desta vez iniciada no espaço.

Os países ocidentais “semearam ventos, como dizem, agora colherão tempestades”, ameaçou Putin, perante o fórum Valdai. Estamos perante uma fronteira histórica”, continuou o Presidente da Rússia. “Adiante está provavelmente a mais perigosa, imprevisível e, ao mesmo tempo, importante década desde a II Guerra Mundial”.