Por Alexandre Faria, escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
As últimas eleições em certos países afirmaram-se como verdadeiros hinos à democracia, permitindo recuperar esperança na humanidade e nos valores solidários. São factos inegáveis dada a influência transfronteiriça dos seus efeitos, porque cada voto nos Estados Unidos da América ou no Brasil teve consequências universais, pelo repúdio ao discurso de ódio e pela afirmação da liberdade.
Sabendo que um populista nunca aceita ter perdido de uma forma livre, a realidade é que o mundo está muito melhor sem Donald Trump, Boris Johnson ou Jair Bolsonaro, derrotados ou afastados das suas esferas de poder, consoante os casos, não obstante os amplos rastos de destruição deixados, desde o apelo às armas em vez da paz, à divisão provocada pelo Brexit, à criminosa devastação da floresta amazónica, à negação da pandemia ou alterações climáticas, passando pelas tentativas inqualificáveis de aniquilar os conceitos sociais dos Estados.
Só o intrincado sistema inglês impossibilita o pleno, optando por efémeros primeiros-ministros em vez da devolução à voz soberana dos eleitores, saturados da fastidiosa incapacidade governativa conservadora, sendo evidente que os trabalhistas já merecem a confiança imediata dos seus concidadãos.
De qualquer forma, acabaram de vez os tabus e as vacas sagradas das reeleições garantidas. Quando um erro é cometido, pode ser corrigido na eleição subsequente, sobretudo quando se trata de personagens que discriminam ou desrespeitam os direitos humanos e os princípios básicos democráticos, os únicos pilares que asseguram uma pronúncia séria, a expressão suprema da fiscalização dentro da sábia avaliação permitida aos eleitores. Essas escolhas nunca se podem perder, mesmo que os populismos e autoritarismos tudo façam para as negar.
A circunstância de termos enfrentado um período temporal em simultâneo destas governações, com nefastas e irreversíveis consequências globais, deveria encher-nos de preocupações e da consciência de fazermos mais, porque nem sempre se revertem. As sociedades não podem ser negligentes ao ponto de se alienarem dos ideais humanistas e do respeito pelo próximo, sob pena de serem cúmplices de opções sectárias, oportunistas e obcecadas pelo individual face ao comunitário.
Os exemplos na União Europeia não são famosos e a vergonhosa complacência em pleno seio institucional perante Viktor Orbán legitimará mais casos como a Itália. Por isso, enquanto os partidos tradicionais tardam em adaptar-se ao combate dos populismos que proliferam, preferindo insistir, ao invés, no erro da política como carreira na qual os cidadãos não se reveem, continua a ser o povo, o eleitor comum, a dar a resposta devida, garantindo a sobrevivência da democracia.
Que Portugal aproveite estes ventos de mudança e a possibilidade de afirmar a lusofonia. A partir de 1 de janeiro de 2023, data da tomada de posse no Brasil, a língua portuguesa volta a ser livre em todos os países. Será tempo de passar das palavras às iniciativas concretas, sob pena de se perder este contexto francamente favorável.