por Henrique Santos
Politólogo
Vivemos tempos demasiado agitados na Europa! Por um lado uma guerra em escalada na Europa, cuja duração e amplitude são impossíveis de antecipar, em que se fala com uma displicência confrangedora da possibilidade dum conflito nuclear como se tal fosse algo de banal e de limitadas consequências. Nada mais errado e perturbador!
Por outro, uma crise energética e uma inflação como não sofríamos há décadas, com as terríveis tensões sociais que se avizinham! Falências de empresas, desemprego galopante, fome! Desvalorização do EURO para valores nunca vistos.
Um quadro apocalíptico, que mesmo os mais otimistas têm enorme dificuldade em disfarçar ou ocultar!
E enquanto isto se passa, alguns dos mais altos responsáveis europeus estão muito mais focados numa futura dança de cadeiras! É para tal que concentram o seu esforço e atenção!
Para quê esta introdução aparentemente dramática?
Como consequência natural da guerra desencadeada pela Rússia no fim de fevereiro, o mandato do Secretário-Geral da NATO, o ex-primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg, foi prolongado até ao fim de setembro de 2023. Stoltenberg tem sido um Secretário-Geral sóbrio e eficaz, pelo que tal medida foi bem acolhida.
Por quê então este burburinho? É que nos corredores de Bruxelas corre insistentemente que quem se está a tentar posicionar para lhe suceder no lugar é, nem mais nem menos, que a atual Presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen! Uma ex-ministra da Defesa no último Governo da chanceler Merkel.
E a sua eventual indigitação, a acontecer, vai baralhar totalmente os diversos calendários e cenários. Até se pode entender que a Senhora von der Leyen esteja muito interessada em mudar de ares. Sairia 10 meses antes da eleição do seu/sua sucessor/a, algo que é entendido como natural pois ninguém antevê que possa ser reconduzida no cargo: membro do PPE, tem negligenciado o apoio da sua família política, a maior do Parlamento Europeu, para apostar no suporte dos Eurodeputados Socialistas, Liberais e Verdes. No Colégio dos Comissários é também patente a sua falta de liderança, exercida de facto pelo Vice-Presidente holandês e socialista Frans Timmermans. Finalmente os 27 Chefes de Estado e de Governo que compõem o Conselho Europeu não são grandes apreciadores da falta de empenho na defesa das posições do Conselho, quando ela se mostra muito mais interessada em seguir as posições maioritárias no Parlamento Europeu. A aproximação e alinhamento com os Estados Unidos e a presença constante na defesa da Ucrânia, correta em si própria mas extravasando em muito as competências de uma Presidente da Comissão Europeia, parecem validar esse interesse pelo posto mais alto da NATO.
Que aconteceria então ao calendário europeu? Nos termos dos Tratados, a queda da Presidente arrasta a de todos os Comissários. E como o Parlamento Europeu não pode, em caso algum, ser dissolvido, teríamos que indigitar e votar uma nova Comissão para estar em funções até ao fim de 2024!
Por isso, na complicada conjuntura em que vivemos, com a incerteza com que nos deparamos, é imperativo que a presidente da Comissão venha, quanto antes, desmentir os rumores existentes, portadores de instabilidade que dispensamos agora mais que em qualquer outra altura! Por isto e por uma questão de ética e de transparência que tanto apregoa mas, pelos vistos, não pratica!
Os cidadãos europeus merecem o respeito dos seus líderes, e esperam, exigem, que estes não olhem essencialmente para o seu umbigo!