A nossa Casa das Histórias que, a partir de Cascais para o mundo, exibe orgulhosamente o génio e a irreverência da mulher portuguesa personificada por Paula Rego.
Intituladas de Histórias de todos os dias. Paula Rego, anos 70 e Paula Rego e Salette Tavares: cartografias da criatividade feminina nos anos 70 foram as duas exposições inauguradas neste sábado na Casa das Histórias da Paula Rego (CHPR).
A pintora deixou-nos há pouco mais de cinco meses. O seu espaço nunca será ocupado. A sua perda ainda está a ser vivida pela família, amigos e milhares de admiradores da sua obra. O que torna ainda mais despropositadas, insensíveis e oportunistas as interrogações que alguns plantaram nos media sobre o futuro da CHPR.
Tal como refere, e bem, o Presidente da República, presente nesta inauguração, Paula Rego esteve, está entre os grandes portugueses do nosso tempo, aqueles e aquelas que serão no futuro os marcadores de um século.
Com mais de 500 obras de Paula Rego doadas ao Museu, a CHPR não demorou muito tempo a conquistar o lugar de maior atração turística no nosso concelho. A caminhar para um milhão de visitas acumuladas, que se renovam a todo o tempo para acompanhar as dezenas de exposições que ali foram realizadas, a Casa conta histórias de sucesso.
Administrada conjuntamente pela família de Paula Rego – através do seu filho Nick Willing –, pela Fundação D. Luís I, Salvato Teles de Menezes e pela Câmara Municipal de Cascais, numa relação de excecional confiança, consistência e alinhamento, a Casa das Histórias é gerida ao abrigo de um contrato que se estenderá pelo menos até 2029.
Com a devida autorização do autor, reproduzo aqui excerto da intervenção do Professor Salvato Teles de Menezes na referida inauguração das exposições:
«Esta inauguração, para lá do valor intrínseco das exposições que a seguir visitaremos, tem a particularidade de ocorrer cinco meses depois da morte de Paula Rego, pelo que se justifica plenamente que lhe façamos uma homenagem para a recordar enquanto artista talentosa e mulher de firmes convicções: é uma homenagem simples mas sincera, com a interpretação por uma das nossas mais reconhecidas fadistas, Kátia Guerreiro, de três fados, dois dos quais, Naufrágio e Gaivota, sabemos, através do filho, Nick Willing, estarem entre os que a pintora preferia.
Esta homenagem serve igualmente para dar a conhecer a obra The Exile, adquirida pela CMC, a obra Circus, adquirida por um colecionador e amigo que generosamente a deixa em depósito durante dez anos na CHPR, e o dístico Day e Night que a Família doou à CMC.
Impõe-se agora o habitual agradecimento a toda a equipa da CHPR e da CMC, sem cujo labor teórico e prático estas duas exposições não existiriam, bem como, naturalmente, aos muitos empregadores e à Família de Paula Rego, que têm sido até hoje fundamentais para o bom funcionamento do Museu, sendo que a Família cedeu, para esta notável exposição, mais de 30 importantes obras provenientes de Londres. A Cass, Victoria e Nick Willing, o nosso obrigado.
Este poderia também ser um bom momento para dizer muitas (e talvez agrestes) palavras sobre uma desagradável ocorrência jornalística relativa a uma expectativa, entretanto gorada, como todos que estão aqui agora e os que nos hão de visitar podem ou poderão constatar, de que as paredes da CHPR estariam, desgraçadamente, vazias pela incúria da CMC e da FDU e o descaso da Família da artista. Estas muitas (e talvez agrestes) palavras também se justificariam porque, todos sabemos que assim é, decorreu muito menos tempo entre a tal notícia e este acto do que entre a escrita da carta que serviu de pretexto à notícia e a notícia. Mas quero ser breve, dizendo apenas que quem pretender desestabilizar o que é sólido e são, i. e., aqueles que tendo perdido privilégios – adquiridos sabe-se lá como e porquê – se dedicam a criar problemas onde eles não existem, através de influências espúrias – lembremo-nos de que já assistimos a este número noutra ocasião – ou através de tentativas de invasão do território expositivo da CHPR, não terão êxito».
Porque o compromisso de Cascais com a família na administração da CHPR é total – e é recíproco.
Porque a Casa das Histórias Paula Rego é uma atração nacional, uma marca do cosmopolitismo e universalismo de Cascais.
Porque Paula Rego faz parte do património e da identidade de Portugal.
Em Cascais, continuaremos a zelar pela sua ‘Casa’. E eu, como Paula Rego me pediu, continuarei a cuidar dos seus ‘bonecos’.