Estamos entre as sequelas de uma eleição e a realização de outra.
Isto é, os temas dominantes são esses que quase suplantam a importância da invasão da Ucrânia.
Compreensivelmente, diria.
A fixação no quadro dos partidos tradicionais surge influenciada por fenómenos novos.
Aquilo a que se chamava direita está hoje tomado de assalto por movimentos populistas.
E não uns quaisquer de menor importância. Juntam-se os negacionistas, os fundamentalistas religiosos, os geralmente descontentes.
Não que a esquerda não tenha tentado também e continue a surfar o oportunismo, mas a verdade é que foi ultrapassada e parece dedicar-se a causas alheias à maioria dos votantes.
Como ultrapassar este panorama?
No Brasil, a análise do sucedido dá-nos um caminho.
Lula da Silva foi uma vergonha a mais na vida política brasileira.
Os escândalos em que foi envolvido quer como governo, quer como pessoa, criaram uma situação tão grave que um fenómeno estranho conseguiu vencer a eleição presidencial.
Depois, foi um cortejo de acontecimentos absurdos.
De um lado, de Bolsonaro, a política do elefante na loja de louça, o exagero declarativo, a ofensa desnecessária, a radicalização incompreensível.
E a opção por governar contra os meios de comunicação social.
Tendo sido esta a detonadora do mensalão e outras indecências equivalentes, acabou transformada em oposição permanente ao vencedor.
Tendo vencido uma eleição, situou grande parte das suas afirmações na contestação ao processo eleitoral.
Tendo sido beneficiada pelo funcionamento do sistema de justiça, acabou contestando-o.
Jogando a democracia, deu-se ares de repousar na intervenção do exército no caso das coisas não correrem bem.
Como seria natural, penou durante todo o seu mandato.
Não nos podemos esquecer, não só das estúpidas boutades sobre a pandemia, como das frequentes visualizações dos funerais das vítimas.
Ficaram como uma imagem verdadeiramente fatal.
Do outro lado, a falsa narrativa da absolvição, a chamada a terreiro da esquerda como saciadora da fome e erradicadora da pobreza.
Mas, muito mais interessante foi a teia construída para o apoio à nova candidatura.
Lula da Silva teve um grande adversário em tempos, José Serra. Ganhou contra ele a eleição.
No concurso seguinte, um homem próximo de Serra, Alckmin, foi também derrotado com requintes de malvadez, com o recurso a boatos de campanha que o anunciavam como privatizador e liberal.
E eis que, desta feita, Lula tenta conquistar a fatia do eleitorado que lhe daria a vitória.
Os slogans serão da esquerda, a administração será de compromisso.
Lula é Presidente. Alckmin vai trabalhar. Foi o trunfo necessário. O passado está esquecido.
Nos Estados Unidos é muito mais grave.
Biden dificilmente existe. Vive na sombra de Obama. É a sombra.
O partido republicano está conquistado por todos aqueles que estiveram na base da vitória de Trump.
Se Biden defende uma democracia com regras, a Constituição, Trump só defende o que considera conveniente.
Desta vez, neste outro palco, os dados estão lançados.
Os EUA vão regressar à instabilidade do imprevisível.
A guerra, não a revolução, continua.