O skate é a sua praia

Gustavo Ribeiro domina o mundo com um skate. É assim o jovem que desafia os seus heróis e está a ‘incendiar’ a Street League.

Por João Sena

A paixão pelo skate começou aos cinco anos, quando o tio lhe ofereceu, como prenda de Natal, uma tábua de skate, que nunca mais largou. Ainda adolescente, começou a fazer boas manobras e dizia que o seu sonho era ser o melhor skater do mundo. «Fiquei com a certeza de que queria seguir uma carreira no skate aos 11 anos», disse Gustavo Ribeiro, numa entrevista à Red Bull. Nasceu em Lisboa, há 21 anos, e a capital portuguesa «é o meu sítio preferido para treinar». Já se tornou um verdadeiro especialista na treflip: «É a minha manobra favorita».

Foi um ano fantástico para Gustavo Ribeiro, o primeiro português a sagrar-se campeão mundial do circuito Street League de Skateboarding. Com um desempenho impressionante, derrotou na final grandes nomes da modalidade, e, no Rio de Janeiro, todos caíram a seus pés. 

O novo campeão do mundo não abdica de algumas saídas com amigos, idas ao cinema e partidas de bowling para descomprimir. Diz muito naturalmente que o grande objetivo é poder «ter uma vida segura» com o skate. Tem como hobby cozinhar – o seu prato favorito é cozido à portuguesa – e ouve todo o tipo de música, de techno a jazz. É consumidor de séries, adora praia e, quando está em Los Angeles, não vive sem o skate. Define-se como sendo uma pessoa intensa, e o seu maior receio é magoar-se seriamente em competição.

Sempre entre os melhores

Em conjunto com Gabriel Ribeiro, irmão gémeo e parceiro de longas jornadas, tornou-se um dos maiores talentos do skate nacional. Os resultados não demoraram a aparecer. Em 2017, foi o primeiro português a vencer o Tampa AM, o mais antigo campeonato de skaters amadores. «Parecia que estava a sonhar. Foi dos momentos mais importantes da minha carreira», lembrou. Essa vitória valeu-lhe a entrada no SLS Pro Open 2018, em Londres, uma das competições mais importantes da temporada. Aproveitou a oportunidade para mostrar as suas capacidades. Arriscou a execução de movimentos de grande precisão e dificuldade e garantiu um lugar nas finais, onde terminou em sétimo lugar. Começou a andar cada vez melhor, a sua evolução valeu o terceiro lugar no AM Street Dew Tour, em Long Beach, e, logo a seguir, a vitória em O Marisquiño, um dos mais importantes campeonatos de skate da Europa.

Em 2019, Gustavo Ribeiro qualificou-se para os SLS World Championships e chegou às meias-finais da competição. A boa prestação garantiu-lhe um lugar na edição desse ano do SLS World Tour, concretizando assim um sonho de menino. Nesse ano, tornou-se Pro pela JART Skateboards. Para celebrar o momento, lançou a sua primeira video part, “Nine to Five”, gravada ao longo de vários meses nos Estados Unidos e em Portugal.

Gustavo Ribeiro voltou a impressionar toda a gente no parque de desportos urbanos Ariake, em Tóquio, onde o skate se estreou como modalidade oficial dos Jogos Olímpicos. Foi o primeiro skater português na competição olímpica, e, embora lesionado num ombro, terminou a final da prova de rua em oitavo. O andamento era cada vez melhor. Pouco tempo depois, a originalidade e dificuldade das manobras realizadas na etapa de Salt Lake City levaram-no ao topo e obteve a primeira vitória na SLS: «Foi outro momento muito especial, ganhei na Street League com um 360 Flip Noseblunt que valeu um 9.4». Ainda em 2021 conquistou o terceiro lugar no Super Crown World Championship, em Jacksonville, nos Estados Unidos, pela segunda vez consecutiva. Os Estados Unidos são a pátria do skate, que nasceu na Califórnia na década de 60. Quando não havia ondas, os surfistas tentavam imitar as manobras que faziam na água usando rodas e eixos fixos em pranchas de madeira, ou seja, criaram uma prancha de surf para o asfalto dando origem ao conceito sidewalk surfing. Foi assim que o skate apareceu nas ruas do estado mais populoso dos EUA. Muito ligado a este país, Gustavo Ribeiro não tem dúvidas em dizer que «Utah foi o sítio mais marcante onde competi». 

No verão de 2022, deliciou os fãs portugueses no Red Bull Lisbon Conquest, e voltou a dar espetáculo em Jacksonville, ao alcançar a medalha de bronze na primeira etapa do tour da SLS. O seu foco em ser o número um da SLS prometia um ano com grandes feitos, e. de facto, tem sido um regalo para quem o vê a competir. Dominou a etapa de Las Vegas, onde alcançou a segunda vitória da carreira no circuito Street League, e chegou à finalíssima do Super Crown World Championship na liderança do ranking mundial.

O menino do Rio

Pode-se dizer que passou um domingo de sonho no Parque Olímpico do Rio de Janeiro. Antes da competição começar, Gustavo Ribeiro afirmou: «Todos os 20 nomes na Street League têm possibilidade de ganhar. São os 20 melhores do planeta, qualquer um pode vencer». Mas isso não o intimidou. Entrou na arena carioca em grande estilo, a meio da prova baixou ao segundo lugar, mas na última manobra fez 27,9 pontos e ficou à frente do norte-americano Braden Hoban (27,7 pontos), sagrando-se campeão mundial da SLS, numa final com oito concorrentes. «Este resultado traduz todo o trabalho que tive. Consegui conquistar este título e temos sempre de acreditar em nós. Se a mente diz que sim, ninguém pode negar. Senti tanta pressão que só queria relaxar e estar confortável. Queria muito que a minha manobra funcionasse e nem acredito que consegui, é um sonho para mim», disse. O skater português já está focado nos próximos desafios: «Espero que no Campeonato do Mundo que se realiza daqui a dois meses possa subir ao pódio e manter a liderança do ranking. Estou também a realizar o meu trabalho de preparação com vista aos Jogos Olímpicos em 2024». Os Mundiais de skate vão ter lugar em Sharjah, na região metropolitana de Dubai, nos Emirados Árabes.