A guerra dos Costas

Ou seja, Costa, o político, admitiu que pressionou Costa, o banqueiro, gesto absolutamente inadmissível num regime que se diz democrático, apenas divergindo deste no conteúdo das palavras então produzidas.

Costa, o anterior governador do Banco de Portugal, veio a terreno acusar Costa, o ainda primeiro-ministro, de, no exercício destas funções, o ter pressionado para não afastar Isabel dos Santos do BIC, ao telefonar-lhe para lhe dar o recado de que não se pode tratar mal a filha de um presidente dum país amigo, considerando essa atitude uma clara ingerência do poder político na entidade reguladora do sistema bancário.

Costa, o António, apressou-se a desmentir o seu homónimo, mas, ao mesmo tempo que se desfazia em explicações junto da imprensa, enviava ao seu acusador uma mensagem telefónica escrita, a qual, obviamente, não pode ser desmentida, em que reconhecia que na altura contactou o então governador, dizendo-lhe que entendia inoportuna a decisão de afastar a filha de Eduardo dos Santos.

Ou seja, Costa, o político, admitiu que pressionou Costa, o banqueiro, gesto absolutamente inadmissível num regime que se diz democrático, apenas divergindo deste no conteúdo das palavras então produzidas.

Para o caso, é manifestamente irrelevante qual a expressão utilizada, se seria inoportuno afastar a pequena ou se esta não poderia ser mal-tratada por ser filha de quem é! O que está em jogo é o acto praticado, e esse é passível de condenação em sede de julgamento político.

E, qual virgem ofendida, Costa, o que ainda vive em S. Bento, anunciou aos sete ventos a sua intenção de processar criminalmente quem se limitou a dizer a verdade, independentemente do jogo de palavras que os separa, por, pasme-se, ofender o seu bom nome, a sua honra e a sua consideração!

O bom nome de quem se apropriou do cargo de desempenha à custa de uma série de trafulhices, a começar pela traição a um companheiro do partido, logo após este obter uma vitória nas eleições europeias, apunhalando-o pelas costas, e, posteriormente, apesar de derrotado nas urnas, obter aquilo que os portugueses não lhe quiseram dar, aliando-se, para o efeito, a partidos extremistas, que têm como suas máximas referências os ditadores mais sanguinários que o mundo alguma vez conheceu, como Lenine, Estaline e Mao.

O bom nome de quem, quando deixou de necessitar do apoio desses seus novos amigos, os passou a hostilizar, tratando-os como inimigos de longa data.

A honra de quem, enquanto chefe do governo, permitiu o alastrar desenfreado da corrupção, transformando o executivo numa agência de empregos para os amiguinhos e familiares das mais sonantes figuras do partido que o suporta.

A honra de quem, para sobreviver nas funções que usurpou, deixou-se ceder à chantagem dos extremistas de quem dependeu durante uma legislatura, implementando políticas ruinosas para o tecido económico do país, sabendo, de antemão, das consequências desastrosas que daí iriam resultar para o bem-estar dos portugueses.

A consideração de quem, por incompetência, desleixo e, sobretudo, pela necessidade de satisfazer favores políticos, permitiu que Portugal fosse ultrapassado, em poucos anos, nos níveis de desenvolvimento económico e social, por praticamente todos os países europeus que registavam pior desempenho, incluindo aqueles que até há duas escassas décadas sobreviviam na miséria, por força da economia de estado imposta pelas ditaduras comunistas que lhes trouxeram a fome e a opressão.

A consideração de quem, após sete anos de governação, tornou Portugal no país mais pobre da Europa comunitária, conseguindo, graças à mentira permanente, alcançada por via da compra da larga maioria da imprensa falada e escrita, que parte considerável dos portugueses acredite que vive num paraíso, escondendo de todos o real estado do país.

Costa, o tal que nos desgoverna, é exímio na arte de mentir. Não será, portanto, difícil de imaginar de quem, nesta história, fala verdade.

Mas, há que o reconhecer, a este Costa tudo lhe corre bem. No preciso momento em que Costa, o Carlos, na apresentação do livro de que é protagonista, denunciava as ilegalidades do agora queixoso, algures, numa quinta polaca perdida no meio do nada, caía um míssil fabricado ainda nos tempos da extinta União Soviética.

O planeta estremeceu e a nossa imprensa, ávida de sangue, desdobrou-se em horas de análise sobre as possíveis consequências para a paz mundial, em particular através do presumível recurso a armas nucleares, que aquele incidente poderia originar.

As alegadas pulhices de Costa reverteram-se para um segundo plano, sendo ofuscadas pelas constantes intervenções da fraca gente que dirige os destinos do mundo e dos fastidiosos comentários dos ditos especialistas de serviço nos diversos canais televisivos.

Não fosse a distância, demasiado longínqua para que fosse tecnicamente possível, seria levado a acreditar que o local de lançamento do míssil que, certamente, sujou as calças de alguns governantes por esse mundo fora, teria tido a sua origem em…S. Bento!

Dessa, Costa, aquele que nos fez ainda mais pobres do que já éramos, até prova em contrário está inocente. Mas que lhe deu bastante jeito, não tenhamos dúvidas!