por João Sena
Ao fim de 38 longas jornadas, o principal campeonato brasileiro terminou em tons de verde. O Palmeiras passou para a frente à décima jornada, mas os rivais estiveram sempre por perto e só a três jornadas do fim Abel Ferreira fez a festa. Quase todos os treinadores portugueses conseguiram atingir os objetivos propostos, que são naturalmente diferentes de acordo com os clubes que treinam e o orçamento que têm. Abel Ferreira (Palmeiras), Vitor Pereira (Corinthians), Luís Castro (Botafogo) e António Oliveira (Cuiabá) fecharam a época e agora vão de férias. Alguns voltam em janeiro de 2023 para a nova época, outros não.
Prémio de campeão
O Palmeiras fechou o ano com uma derrota frente ao Internacional (0-3), mas isso não impediu Abel Ferreira de receber a Bola de Prata, prémio atribuído ao melhor treinador do Brasileirão, juntando-se a Jorge Jesus como os únicos treinadores estrangeiros a receber esta distinção. Os números são elucidativos; o Palmeiras foi a equipa que ganhou mais jogos (23), que teve menos derrotas (3), que tem mais golos marcados (66) e menos golos sofridos (27) e esteve 22 jogos sem perder (15 vitórias e sete empates). Foi o 11.º título conquistado pelo Palmeiras com todo o mérito, já que “esta equipa é capaz de fazer coisas que ninguém espera. Desde 1993 que nenhuma equipa perdeu apenas três vezes. Fizemos uma competição imaculada”, declarou o treinador português ao site do clube. Sobre a época que agora terminou, foi taxativo: “Sinto um grande orgulho pelos meus jogadores e pelo campeonato que fizemos. O facto de na última jornada termos perdido com o segundo classificado por 0-3, que fez uma segunda volta extraordinária, só mostra quanto o campeonato é difícil”.
A experiência no Brasileirão levou-o a dizer que “o futebol nem sempre é o que parece. Quem gasta mais dinheiro ou quem tem os melhores jogadores não é obrigatoriamente mais competitivo. O Athletico Paranaense eliminou-nos na Libertadores, o São Paulo tirou-nos da Copa do Brasil, o Internacional esteve a competir connosco até quatro jornadas do fim, há muita qualidade e competência neste campeonato”, e fez questão de sublinhar que “muitos jornalistas resumem a luta a duas equipas, mas na minha opinião há mais clubes que podem ganhar o campeonato”. O Palmeira fez uma grande época a nível interno revelando grande regularidade. O treinador português já antevê a próxima época pois “a qualidade do Palmeiras motiva outras equipas a ganhar, por isso é muito difícil vencer de forma consistente, basta ver o histórico do campeonato. O campeão é a equipa a abater no ano seguinte e nós sentimos isso. O desafio é sempre alto e a nossa obrigação é fazer o mesmo, mas ainda melhor”. O grau de exigência no Palmeiras é grande e recíproco. “Peço a todos que trabalham comigo que deem o melhor de si. A mentalidade diária no clube é o máximo esforço com o potencial que temos. Não sei se vamos continuar a ganhar, mas sei que todos estão à espera que o Palmeiras perca”. A qualidade do futebol praticado pelo Verdão e os títulos conquistados desde que Abel Ferreira chegou ao clube colocam-no com sendo uma possibilidade de substituir Tite no comando da seleção brasileira, ao que o treinador português diz: “O futebol ensinou-me a não viver de ‘ses’, eu vivo com o ‘aqui e agora’”, lembrando que tem contrato com o Palmeiras até ao final de 2024.
Vitor Pereira levou o Corinthians ao quarto lugar, mas ao perder em casa na última jornada com o Atlético Mineiro (0-1) falhou o objetivo de chegar ao pódio, mas garantiu a entrada na Libertadores. Ao longo da época obteve 26 vitórias, 21 empates e perdeu 17 vezes, num total de 64 jogos. O balanço foi positivo – “talvez seja a melhor equipa que treinei, vive-se um ambiente de amizade. Toda a gente me tratou bem”. Apesar disso, vai deixar o clube, e explicou o motivo: “Sinto-me triste, queria continuar neste projeto, mas não tenho hipótese. Não vou para outro clube, vou para casa porque tenho um familiar doente. Tenho muita pena de sair sem conquistar um título”.
Bota dinheiro
Ao perder (0-3) na última jornada com o Athletico Paranaense, treinado por Scolari, o Botafogo ficou em 11.º lugar no Brasileirão, com o mesmo número de pontos do América que foi 10.º, e foi afastado da Taça dos Libertadores em 2023, mas nem tudo foi mau como referiu Luís Castro. “A minha escolha pelo Botafogo teve a ver com o prestígio do clube, com a sua história, tem muitas referências do futebol mundial, e pelo projeto apresentado pelo John Textor”. Em jeito de balanço, afirmou: “Falhámos um objetivo, mas conquistámos outros dois que foram a permanência e a qualificação para a Taça Sul-Americana. Não é excelente, mas é aceitável e dignifica o clube. Fomos ganhando maturidade ao longo da época e fizemos uma boa segunda volta”. Em relação à próxima época, “devemos olhar para os oito primeiros lugares da tabela [zona de acesso à Taça dos Libertadores], mas para isso é preciso reunir as condições de trabalho e ter jogadores. Se for necessário contratar novos jogadores para chegar à Libertadores, então o clube tem de os ir buscar, caso contrário fica difícil”. Agora que o clube de tem um novo proprietário, o milionário John Textor, dinheiro para reforçar a equipa não deve ser problema para quem investiu 74 milhões de euros para adquirir 90 % do capital do clube carioca.
António Oliveira salvou o Cuiabá da descida de divisão na última jornada com o triunfo sobre o Coritiba (2-1). Conseguiu a permanência na Serie A e agora vai seguir outro caminho. O conjunto orientado pelo filho de Toni, ex-jogador e treinador do Benfica, terminou o campeonato no 16.º lugar, o primeiro acima da ‘linha de água’. O treinador deixou uma mensagem de despedida nas redes sociais. “Os resultados são importantes, mas o caminho e as pessoas que nos acompanham é que os tornam especiais. Agradecimentos especiais a todos os departamentos intervenientes neste processo e demais funcionários. Sintam-se todos importantes e essenciais neste feito histórico na história deste clube”.