O século XXI já viu uma das maiores crises financeiras em décadas, uma pandemia e agora uma guerra no quintal da Europa. Como é que se pode evitar repetir o que aconteceu na Europa nos anos trinta do século XX?
Com liderança. Precisamos de liderança na Europa. Precisamos ver o que está à nossa frente e tentar dar uma resposta adequada agora e não esperar que a crise dê uma resposta. Eu diria que, a gestão da crise, foi um caminho acidentado. Nunca foi fácil alcançar um compromisso a nível europeu, mas finalmente conseguimos, gerimos em conjunto a crise do euro. Gerimos em conjunto a pandemia com vacinas e com o passaporte Covid. E estivemos muito unidos agora nas sanções contra a Rússia. Estamos unidos nesse ataque comum contra os nossos valores. Não temos agido mal, mas não somos suficientemente ambiciosos para dar uma resposta. E a minha mensagem para o que temos pela frente é que temos de reforçar a capacidade de defesa europeia e a política externa comum. A Europa tem de acordar. Temos de falar a uma só voz a nível global.
A Ucrânia pode vencer militarmente os invasores russos?
O dia 24 de fevereiro foi um grande corte na história europeia. É uma mudança de jogo. Estamos a viver num mundo novo hoje. Quando vimos os tanques a atravessar as fronteiras da Ucrânia, a invadir o país pacífico da Ucrânia, todos vimos que a máquina militar da Rússia é tão forte que eles não podem realmente sobreviver por um longo período de tempo. Agora vemos, depois de meses, que os ucranianos estão a reconquistar o seu território. Os ucranianos são corajosos. Recuperaram agora Kherson, uma cidade estrategicamente importante no leste da Ucrânia. É isto que vemos no terreno. É por isso que o sucesso militar é possível. E eu diria até que temos de vencer a guerra. A Ucrânia tem de ganhar a guerra. Putin tem de perder a guerra, porque não é apenas sobre o confronto militar, é sobre uma luta entre diferentes sistemas de valores, uma maneira diferente de como pensamos a sociedade, e os ucranianos estão a defender o nosso modo de vida europeu. É por isso que têm de ganhar.
Quando olha para aspectos como a economia e o custo de vida, acredita que os europeus serão capazes de suportar esta guerra por muito mais tempo?
Há muitas questões desse género na nossa sociedade, no mundo ocidental, especialmente em Portugal, geograficamente longe da Ucrânia. Entendo que essas questões estejam em cima da mesa, mas, neste momento, os políticos devem liderar, devem mostrar liderança, devem explicar as coisas. E eu quero explicar. Quero dizer que Putin, se tiver sucesso na Ucrânia, não irá parar. Ele não vai parar, vai continuar, vai para os países Bálticos, para a Polônia e por aí fora. É por isso que temos de defender o nosso modo de vida europeu. Estamos orgulhosos como portugueses, espanhóis, franceses, alemães, deste modo de vida, em que vivemos pacificamente neste continente. O controlo fronteiriço é a nossa moeda comum. Tudo o que conseguimos até aqui está em risco. É por isso que temos de estar juntos. Quero ser honesto, os políticos devem ser honestos e admitir que esta guerra nos custa. Não é gratuita. Tem custos. Mas os ucranianos estão a pagar com a vida, nós estamos a pagar preços mais altos com a inflação. Devemos ser honestos. Mas, acho que vale a pena investir e contribuir para defender o nosso modo de vida.
António Costa disse em Kiev que a Ucrânia não vai aderir à UE na próxima década. Acredita que pode aderir antes? E quanto aos Balcãs? Não será melhor obrigá-los a aderir à UE antes de aí irromper outra guerra?
A questão de saber quando isso acontecerá está nas mãos de quem quer aderir, porque temos de respeitar todos os critérios para aderir à União Europeia. Nos Balcãs Ocidentais, vimos ao longo de décadas que as coisas não estavam a desenvolver-se suficientemente fortes e positivamente. Por outro lado, na Ucrânia, vejo muitos políticos totalmente empenhados para que o país se torne o mais rápido possível membro da União Europeia. Estão a trabalhar para isso. Querem lutar contra a corrupção. Querem estabelecer uma democracia de pleno direito e um Estado de direito. Estão altamente motivados com a guerra em mente. Querem chegar ao porto seguro de serem membros da União Europeia. É isso que eles querem fazer. E é por isso que lhes vamos dar essa chance. A questão não é quando, mas é: Será que os apoiamos? Essa é a questão em cima da mesa. Zelensky fez um discurso no Parlamento Europeu após a invasão em 24 de fevereiro. E fez-nos uma pergunta. Perguntou-nos: Por favor, senhores deputados do Parlamento Europeu e da Instituição Democrática da Europa, digam-nos, vale a pena lutar? Somos bem-vindos? Vale a pena lutar? Ou devemos desistir e continuar sob o regime de Putin? Vale a pena lutar? Será que somos europeus? Fui o primeiro a falar depois, como líder da maior família política, e disse: Sim, vale a pena lutar. Os ucranianos são bem-vindos. A Ucrânia é um de nós. E podem confiar em nós. Passar essa mensagem que é um Estado membro, que se pode tornar membro da União Europeia, esse esclarecimento é muito importante.
O PPE subscreve a teoria do ‘cansaço do alargamento’ para adiar quaisquer negociações?
Compreendo perfeitamente que existam dúvidas quanto à capacidade de alargamento da União Europeia. Mas devemos reafirmar que também estamos prontos para reformas. O alargamento só é possível se estivermos a aprofundar a União Europeia. Por exemplo, do ponto de vista institucional, temos de reformar as instituições da União Europeia. E temos que superar algumas questões em que temos princípios de voto unânimes. Todos podem bloquear toda a União Europeia. Por exemplo, em assuntos externos, para mim, é claro que temos que chegar a um sistema de votação por maioria em questões de assuntos externos. Caso contrário, somos um continente bloqueado. Esse não pode ser o resultado do processo de alargamento. Isso deve ser trabalhado. Precisamos, por um lado, de um aprofundamento da União Europeia para garantir o seu funcionamento, mas também para estarmos prontos para acolher aqueles que são realmente europeus.
Como líder alemão com raízes na CDU-CSU, tem algum arrependimento sobre como o seu partido e país lidaram com Putin? Não exageramos na nossa dependência da Rússia?
A Alemanha cometeu muitos erros. Isso é óbvio para mim, especialmente, na construção de uma dependência tão grande em relação à Rússia na energia. Construir o gasoduto Nord Stream 1 e depois o gasoduto Nord Stream 2 para o gás russo foi um erro. Tenho vindo a criticar isso desde 2014, desde que a Rússia ocupou a Crimeia, a primeira vez que ele estava a violar o direito internacional numa onda tão radical, com as suas forças militares. Este foi um momento que mudou tudo. Para mim, a lição é que não devemos seguir essa abordagem ingénua daqui em diante. E isso está diretamente ligado à China. Devíamos adotar uma maior independência em relação à China nos próximos anos. A China é um parceiro importante para a Europa, sem dúvida. Mas, tendo em mente que a China é um sistema comunista, autocrático, sem democracia, sem os nossos valores em mente, sem liberdade, devemos manter uma independência mínima em relação ao mercado chinês. Temos de aprender a lição com os erros que cometemos com a Rússia.
A chanceler Angela Merkel foi muito impopular no sul da Europa durante os Governos de Passos Coelho em Portugal e Rajoy em Espanha. Depois com a crise migratória, a opinião pública dominante decidiu fazer dela uma santa. Na sua opinião, Merkel é uma santa ou uma pecadora?
[Entre risos] Nenhum de nós é santo ou mau. Somos políticos, somos pessoas normais. Tentamos avaliar as coisas e fazer o nosso melhor. As decisões que tomamos nos últimos anos foram totalmente positivas para nós. Em 2019, antes da crise pandémica, tivemos crescimento económico em toda a Europa. Portugal estava de volta como um país economicamente forte. Também tivemos uma situação em que os orçamentos públicos eram estáveis, financeiramente sólidos. Por isso, acho que fizemos um bom trabalho com a gestão dessas crises. Juntos fizemos o nosso melhor. Tentamos administrar as coisas e também nos devemos orgulhar do que alcançamos juntos.
Muitos dizem que a CDU/CSU tornou-se um partido centrista seguindo a agenda do SPD e dos Liberais. Fala muito sobre os valores dos democratas cristãos, mas a CDU é um partido de centro-direita?
Bem, como democratas cristãos na Alemanha e em toda a Europa, definimo-nos como partidos de centro-direita. Somos primeiramente do centro. Um dos principais aspetos do meu movimento político na Alemanha, mas também na Europa, é que somos construtores de pontes. Queremos juntar as coisas. Por exemplo, a dimensão social com o crescimento económico, com os negócios, queremos trazer mudanças climáticas mas com empregos para a geração jovem. Não podemos ser um ou o outro. Temos de fazer as duas coisas. Temos de juntar as coisas. Isso é o PPE. Somos construtores de pontes. Outra parte do nosso ADN é, com certeza, que também somos cristãos. Portanto, temos uma base de valores em mente. Somos democratas-cristãos. Essa é a nossa formulação, o nosso título, de certa forma. Isso dá-nos um ponto de orientação sobre os valores em mente e para mim, o princípio orientador do modo de vida europeu, como a ideia de democracia, Estado de direito, igualdade de tratamento entre homens e mulheres, liberdade, respeito pelas minorias, direitos dos homossexuais, e todas essas coisas. São princípios básicos de como pensamos que uma sociedade deve ser, como uma sociedade deve funcionar. É isso que defendemos. É por isso que lutamos enquanto partido popular europeu. Portanto, essa base de valores é importante, mas esse lado da construção de pontes é igualmente importante.
Muitas pessoas em Portugal e noutros países da Europa votaram nos candidatos do PPE com a convicção de que seria eleito presidente da Comissão. O que se passou?
Fui nomeado candidato e não tive sucesso. Isso deve-se aos mecanismos a nível europeu. Os partidos apresentam candidatos, mas o Conselho Europeu deve decidir por unanimidade sobre um candidato a presidente da Comissão. Isso foi, diria, uma derrota para os democratas europeus de certa forma. Mas finalmente conseguimos ter uma presidente da Comissão do PPE. Juntos, agora, estamos a tentar gerir a Europa. Tendo em mente a experiência de 2019, temos de fortalecer a Europa democrática. Temos de reforçar a democracia. Quando as pessoas vão votar, têm também de ter a oportunidade de decidir sobre a direção fundamental do continente europeu, não só a nível nacional, mas também a nível europeu. Toda a gente sabe que na política, o povo é que decide. O voto das pessoas no futuro deve ser decisivo para escolher o presidente da Comissão. E as eleições europeias devem ter muito mais impacto neste resultado no futuro.
Considera que o PPE deveria apresentar um candidato à Comissão antes das próximas eleições europeias? Poderia ser esse candidato?
O PPE apresentará candidatos e também um programa convincente para 2024. Especialmente para Portugal, os nossos dois partidos PSD e CDS, têm uma boa oportunidade de ganhar. E vamos apresentar uma abordagem europeia para o futuro deste continente e esperamos convencer as pessoas.
Aqui em Portugal muita gente acredita que António Costa está à procura de um cargo na UE, como presidente da Comissão ou do Conselho. O primeiro-ministro português tem condições para isso?
Estamos a um ano e meio das eleições europeias. A questão dos candidatos concretos ainda não está em cima da mesa. Posso apenas dizer que o PPE está a fazer o seu melhor para ser a principal força nas próximas eleições europeias. E o PPE terá a principal influência sobre estas questões à nossa frente. Mas, repito, essa questão não está em cima da mesa neste momento.
Falando um pouco de Portugal, o PS esteve no poder 17 anos dos últimos 25. O país não melhorou as suas condições financeiras, entrou em bancarrota uma vez e vimos muitos países da Europa Central e de Leste tornarem-se mais ricos do que nós. O caso de sucesso da integração na UE sob o Governo de Cavaco Silva na década de noventa já lá vai. Hoje Portugal é o país mais pobre da Europa Ocidental e um dos mais pobres da UE. O que correu mal?
Nos últimos sete anos do Governo socialista português tem faltado vontade reformista. Portugal não fez muitas reformas estruturais para tornar o país mais atrativo ao investimento. As empresas estão a ir para os países do Leste Europeu. E lá houve muito crescimento. Houve muito fortalecimento do desenvolvimento económico. A recente descoordenação que vimos do lado da governação em Portugal, as dificuldades com ministros e secretários de Estado, são também um péssimo sinal para a estabilidade e para a clara orientação deste Governo. O ponto principal é, obviamente, a falta de reformas. Portugal tem que se adaptar ao futuro, tem que se modernizar. E aí o Governo socialista já não é, obviamente, criativo o suficiente para trazer crescimento a Portugal.
Grande parte da oposição acredita que o Partido Socialista controla todos os aspetos do Estado e da sociedade civil, incluindo as universidades, a maioria dos meios de comunicação e até mesmo o sistema de Justiça. Existe em Bruxelas alguma consciência deste comportamento?
Respeito totalmente quando um partido socialista ganha uma maioria absoluta no Parlamento e depois tem a hipótese de governar sozinho. Foi isso que aconteceu em Portugal. Respeito o resultado democrático e não tenho dúvidas de que a democracia funciona em Portugal, de que as coisas são estáveis, não há dúvidas sobre isso. Mas todos os pontos que mencionou agora sobre a independência do sistema judicial, a liberdade de imprensa e todas as outras circunstâncias são sempre motivo de preocupação a nível europeu. O PPE lutou por um mecanismo vinculativo de Estado de direito para garantir que estes princípios, que fazem parte do modo de vida europeu, sejam garantidos em todos os países. Este é o princípio básico. Temos de defender este princípio em todos os países da União Europeia.
Como se sente quando vê os partidos membros do PPE a pertencer ou a apoiar novos Governos da UE com a participação de partidos rotulados como de extrema-direita?
O PPE traçou uma linha vermelha muito forte e clara para todos os partidos extremos da União Europeia. Portanto, deixamos claro que aqueles que são contra a integração europeia, que são amigos de Putin, não podem ficar dentro da nossa família. Essa é a nossa mensagem clara. Estabelecemos três critérios importantes. Sempre que trabalhamos em conjunto com partidos numa coligação, a nível nacional ou europeu, todos os partidos devem ser pró-europeus. Isso é claro para nós. Têm de ser a favor da Ucrânia, porque apoiamos muito a Ucrânia, e têm de ser a favor do Estado de direito. Assim, defendendo os princípios da independência do sistema judiciário, da liberdade de imprensa e assim por diante. Esses são os nossos três critérios para avaliarmos o que é possível e o que não é possível para chegar a um compromisso. Francamente, tenho problemas maiores com os socialistas, porque os socialistas também têm alguns parceiros radicais. Em Espanha, por exemplo, Sánchez está a trabalhar em conjunto com o Podemos, e parte do Podemos opõe-se à adesão da Finlândia e da Suécia à NATO. Para mim, isso é inaceitável. Isso é contra o espírito da UE de trabalhar em conjunto com a Suécia e a Finlândia. Estou feliz que eles tenham decidido juntar-se à NATO para fortalecer a Aliança Atlântica e a segurança europeia. Os socialistas devem perguntar-se se é realmente correto trabalhar em conjunto com forças como o Podemos, que são contra a NATO. Na França, por exemplo, os socialistas apoiaram Mélenchon, um candidato comunista, que pedia ofensivamente e publicamente para violar o direito internacional e europeu. Se este é um comportamento de esquerda, penso que temos de ter muito cuidado, pois há o risco que a esquerda na Europa esteja realmente a desrespeitar este tipo de linhas vermelhas que nós, no PPE, identificamos.
Apesar da resolução adoptada no Parlamento Europeu com os votos do PPE, condenando tanto o comunismo como o fascismo, pensa que existe uma tolerância muito maior em relação à extrema-esquerda do que à extrema-direita?
Penso que temos um bom entendimento comum sobre as verdadeiras vozes radicais, aquelas que estão realmente a ir contra a integração europeia. A Europa significa liberdade, significa paz. Tendo em mente a guerra, penso que para todos, é compreensível que isto seja tão fundamental quando falamos da integração europeia. Não é técnico. Não é apenas económico, não é apenas sobre o euro. É sobre liberdade e paz. É isso que a Europa é. É por isso que penso que temos um bom entendimento comum entre todas as famílias partidárias, entre liberais, socialistas, verdes e o PPE. Penso que aprendemos, enquanto europeus, a lição da Segunda Guerra Mundial, que nunca devemos voltar a este tipo de abordagem radical na União Europeia dos dias de hoje. Tanto à esquerda como à direita, temos que construir uma barreira mais forte contra todos os movimentos radicais. Espero que possamos continuar assim. E de momento, vejo que há, entre os democratas do Parlamento Europeu, uma forte vontade política para assim o defender.
O PPE será a maior família política nas próximas eleições europeias? Consegue garantir que um candidato ao PPE será presidente da Comissão?
As próximas eleições estão nas mãos dos eleitores. O que posso garantir é que apresentaremos um programa convincente. Quero demonstrar que é o PPE que faz propostas, que pode implementar as decisões. Na prática, isso vai traduzir-se na principal questão da nossa geração, que é unir as mudanças climáticas ao crescimento económico. Lutamos contra as mudanças climáticas. Teremos um futuro em que a geração jovem possa viver, mas que também seja capaz de criar novos empregos num mundo globalizado, num mundo globalmente competitivo. Esses são os dois pontos pelos quais lutaremos e essa é a nossa oferta. Espero que conquistemos muito apoio dos eleitores para isso.
Está em Portugal para a assembleia política do PPE. Quais são as suas expectativas relativamente a esta reunião?
Em primeiro lugar, é óptimo estar em Lisboa. É a minha primeira assembleia política depois da minha eleição em Roterdão há alguns meses. E escolhemos Lisboa como um lugar onde realmente podemos mostrar em que é que o PPE pode contribuir. O que queremos fazer é ajudar os nossos membros no terreno, em Portugal. É óptimo ter Luís Montenegro ao nosso lado. Também temos connosco Alberto Núñez Feijóo, o líder do PP na Espanha. É também um grande encontro destes dois países do sul da Europa, Portugal e Espanha. Em ambos os países, estamos atualmente na oposição, mas podemos mostrar que temos boas respostas para o futuro dos dois países e para o futuro da Europa. É por isso que quero usar Lisboa como ponto de partida, para mostrar que o PPE está presente e tem uma mensagem forte. A nível nacional, o PPE vai voltar, vamos ganhar as próximas eleições europeias.
O primeiro-ministro eslovaco, Eduard Heger, está presente e o partido OĽaNO da Eslováquia foi confirmado como membro de pleno direito do PPE nesta assembleia. Qual é a importância da sua integração para a Eslováquia e para o centro-direita na UE?
O PPE está a crescer, estamos a ganhar parceiros. Estamos a ganhar pessoas que querem juntar-se a nós. A nossa oferta é obviamente muito atraente em muitos países. O OĽaNO é o partido governamental na Eslováquia, vamos ter mais um primeiro-ministro no PPE. Esta é também uma grande mensagem de que o PPE está a crescer. Um ponto adicional é que este novo partido cresceu após o assassinato de Ján Kuciak na Eslováquia, um jornalista de investigação que foi assassinado em Bratislava. Isso fez com que um movimento civil começasse a lutar por uma Eslováquia moderna e por uma Eslováquia anticorrupção. Este foi um ponto de partida para o OĽaNO. Estou feliz por ter um movimento como este, um movimento da sociedade civil, a lutar pelo Estado de direito e contra a corrupção, ao lado do Partido Popular Europeu, porque esse é exatamente o espírito que precisamos. É por isso que estou feliz por ter este primeiro-ministro connosco.
Nos últimos anos, vimos partidos de esquerda e socialistas ascenderem ao poder em muitos países europeus. As eleições na Itália foram um ponto de viragem para o futuro da centro-direita e da direita na Europa? Espera que o PPE beneficie de uma dinâmica positiva depois disto?
Bem, cada país é de certa forma singular. Portanto, não há comparação possível entre os diferentes países da Europa. Todos têm o seu próprio panorama político. Mas, em geral, estamos a sentir um impulso do centro-direita na Europa. Ganhámos eleições na Suécia, na Letónia, na Bulgária, fazemos parte do governo em Itália, portanto, temos um certo ímpeto. Obviamente, as pessoas confiam mais nos partidos de centro-direita para responder aos desafios de hoje do que nos governos de esquerda. Foi por isso que, desde Roterdão, desde o último Congresso do PPE, tivemos uma série de bons resultados. O principal aspeto por trás disso é que não estamos a oferecer uma abordagem ideológica. Não estamos a oferecer uma abordagem que apenas mostra a má alternativa, que faz as pessoas temerem as alternativas. Estamos a oferecer uma mensagem positiva. Estamos a dizer o que queremos fazer e isso funciona
Luís Montenegro é o anfitrião desta assembleia do PPE. Tem o que é preciso para se tornar o próximo primeiro-ministro de Portugal?
Absolutamente. Nunca comparo líderes anteriores, mas quando vejo Luís Montenegro, antes de mais, vejo um político que gosta de trabalhar para as pessoas, que gosta também de estar junto das pessoas. Isso faz parte do Partido Popular Europeu. Primeiro é preciso estar entre o povo português e depois realmente desenvolver em conjunto uma abordagem política para o futuro do país. Ele é um construtor de pontes a este respeito. É um democrata cristão, quer unir a sociedade e não separar. Também como representante de um partido popular, trata de diferentes aspectos. Tem uma orientação para a ação social, mas está preocupado com a economia. Tem uma ideia de funcionamento do Estado em mente, no que se refere à saúde e à educação. Como líder europeu, o que eu realmente gosto nele é que está totalmente envolvido a nível europeu. Quer ver Portugal não só como parte da Europa, mas também como uma parte liderante da Europa, para contribuir, para estar aqui e ser ouvido. Acho que ele pode desempenhar um grande papel.
A Europa parece muito animada com o recente retorno do Presidente Lula no Brasil. Será que alguém com os seus antecedentes seria aceite como candidato em qualquer país da Europa?
[Entre risos] Essa é uma boa pergunta. Não sei. Seria desafiante. O cenário político no Brasil é polarizado. Obviamente, é muito à esquerda ou à direita. Então, não é comparável com as democracias europeias. Na Europa, em todos os países temos um cenário diferente. É bastante diversificado e colorido. Eu diria que o sucesso do presidente eleito Lula é para nós europeus, principalmente, um ponto de partida para retomar a ligação com aquela região. O que quero ver é um despertar para o restabelecimento de relações fortes entre a UE e a América do Sul. Especialmente o acordo com o Mercosul. Para nós, no PPE, esse acordo é uma prioridade. Apoiamos plenamente este acordo. Apoiamos plenamente a ideia de construir fortes redes comerciais com os nossos amigos sul-americanos que fortaleçam a Europa, que fortaleçam a América do Sul, e que isso também limite um pouco o sucesso da China em todas estas áreas. É por isso que temos de o fazer juntos. Temos lá tantos parceiros, que têm em mente uma identidade europeia e é isso que temos de ver como uma verdadeira mais-valia. O que quero agora é finalizar o acordo com o Mercosul.
Havia uma enorme expectativa sobre as eleições intercalares nos Estados Unidos. Tradicionalmente, os parceiros do EPP nos EUA seriam os republicanos. O resultado ficou muito longe do esperado. Quem é o culpado? Trump? Com estes resultados, o que podemos esperar para as eleições de 2024?
Estou muito feliz por ter Joe Biden na Casa Branca. É um forte amigo da Europa. É realmente o melhor parceiro que podemos ter, neste momento. Quanto ao resultado das eleições, penso que é evidente que as pessoas querem uma abordagem equilibrada, não querem uma abordagem radical. Há um lado positivo nisso tudo que é o facto de as pessoas estarem a considerar que essa abordagem equilibrada é uma abordagem melhor. Todos os políticos têm agora que reconsiderar como resolver os problemas. Vimos nos últimos anos nos Estados Unidos, uma abordagem bastante conflituosa ou controversa entre as partes. Republicanos e democratas vivem em duas realidades diferentes. Agora é o momento de reunificar o país novamente. É isso que é necessário nos EUA e esperamos que as partes possam alcançar isso até 2024 para ter uma abordagem mais combinada. Para nós, europeus, o apoio dos Estados Unidos é fundamental do ponto de vista da segurança, do ponto de vista empresarial e do ponto de vista económico. Somos forçados a ficar juntos. Somos gémeos, temos que estar juntos, e só podemos ter sucesso a um nível global juntos, contra aqueles que estão a lutar contra o nosso modo de vida. Quero fortalecer as relações com os norte-americanos e espero que os norte-americanos possam superar as divisões que têm internamente.
Como avalia os resultados do G20 em Bali? No final, Putin não compareceu quando prometeu fazê-lo. Está a ficar cada vez mais isolado?
Essa é a verdadeira notícia positiva de Bali, da reunião do G20, que Putin está obviamente isolado na família dos grandes países. Achei bastante impressionante que o anfitrião, o presidente da Indonésia, tenha dito publicamente: Não é o momento de ir para a guerra. Temos que acabar com esta guerra. Esta foi uma mensagem bastante forte de alguém longe da Ucrânia, mas que sente o impacto, porque todos nós sofremos. As economias estão em quebra, a recessão está próxima. No próximo ano, enfrentaremos uma crise energética e provavelmente também uma crise alimentar a nível global. A escassez de alimentos será um grande desafio para nós. E, tendo isso em mente, todos os líderes responsáveis pedem agora que Putin pare esta guerra inaceitável e irresponsável. Essa foi a mensagem do G20 e que até mesmo os chineses apoiaram. Esse é um grande sucesso diplomático para os EUA, para os europeus e para o Ocidente.
As diferentes reuniões bilaterais com o Presidente Xi Jinping contribuirão para a situação global e para exercer mais pressão sobre a Rússia?
É bom falarmos uns com os outros. É bom falarmos com a China. Isso é positivo. Mas tendo o Congresso do Partido Comunista na China em mente, não devemos ser ingénuos. A China não está a seguir uma direção pela liberdade, de uma abordagem pacífica, de uma abordagem de parceria. Estão a seguir uma direção autocrática. E isso não é promissor, isso não é bom para este momento. Falar sim, mas sempre com um posicionamento forte, com uma posição forte do nosso lado. Isso significa que temos de defender os nossos valores.
Tivemos a COP27. Acha que alguma melhoria foi feita que poderá levar a soluções concretas? E o que acha da atual posição alemã de fechar algumas centrais nucleares quando se receia a escassez de gás neste inverno? Entretanto, Espanha reabriu as suas centrais a carvão.
Como europeus, estamos na linha da frente na luta contra as alterações climáticas. Somos o continente mais ambicioso e orgulho-me disso. O PPE lidera este debate com Ursula von der Leyen como presidente da Comissão. Atualmente, temos uma crise energética devido à guerra na Ucrânia, que não era previsível, mas temos de a gerir. Mas a linha geral é clara. Somos pioneiros. Queremos mostrar ao mundo que é possível abandonar o carvão, o gás e os combustíveis fósseis. Isso é possível. Temos que mostrar isso. As alterações climáticas são a questão mais exigente, mais urgente para a nossa geração. E não é responsável desligar as centrais nucleares na Alemanha, porque atualmente estão a produzir energia sem um impacto adicional no que se refere às alterações climáticas. Não é razoável o Governo alemão abrir as velhas centrais a carvão e desligar a energia nuclear. Isso não é razoável e é isso que temos de criticar. A questão passa também por exigir uma política energética europeia. Precisamos de um mercado europeu da energia. Por essa razão, é importante uma interconexão entre a Península Ibérica e França com gasodutos modernos, por exemplo. Isso é urgentemente necessário. A solução que Sánchez, Costa e Macron apresentaram não é suficiente neste momento. Precisamos de mais interconexões a nível europeu. Essa seria a maior e mais forte garantia da segurança energética na União Europeia de hoje.