A um mês do Natal, os descontos da Black Friday – a sexta-feira que é mais louca do que negra – acelera o espírito consumista da época, embora os presentes sejam mais para mimo próprio e, normalmente, mandados embrulhar com direito a laçarote para ficar a dúvida no ar, essencialmente para quem compra e que decidiu auto justificar o avanço impulsivo (ou não) com várias razões, cheias de lógica nesse dilema interno, até chegar à fase final de proceder ao pagamento.
Não é difícil arranjar pretexto para precisar de um smartphone novo ou de uma peça de roupa e se, por estes dias, até há um desconto, nada como juntar o útil ao agradável – exceto quando se dá por ela e a confusão está de tal forma instalada que por baixo do preço bombástico anunciado surge um autocolante com um valor inferior àquele. Mas se Natal não é sinónimo de presentes e papel de embrulho, como defenderão muitos para desgosto de tantos outros, nada como aproveitar a Black Friday para o que realmente importa, como encontrar um presépio com um preço que não signifique abdicar da cabana ou, em último caso, de um dos reis magos, já que, à boa maneira portuguesa, poderemos desculpar a sua ausência com o facto de ainda estar a caminho.
Ao contrário dos gadgets e das restantes compras, este trata-se de um investimento quase sempre único, daí não ser invulgar depararmo-nos com cabecinhas e membros colados nalgumas figuras por esses presépios fora – seja o pastor ou um qualquer animal que, por vezes, nem a cola tudo cola – e ficam, entretanto, perdidos pelo musgo até regressarem cuidadosamente à velhinha caixa no Dia dos Reis (ou mais tarde, por exemplo quando vão visitas a casa e já não há forma de justificar o facto de ainda ter a árvore montada).
Mas aí já estaremos a falar de 2023 e novo ano é vida nova. E, como a Black Friday, trata-se de uma oportunidade única.