1. As previsões de crescimento da economia da OCDE para Portugal, em 2023, foram revistas para 1% e a taxa de inflação para 6,6%, bem piores do que as projeções do Governo, agora acabadinhas de aprovar no OE 2023 (crescimento do PIB de 1,3% e inflação de 4%). Ou seja, ainda nem começou o ano e já registamos uma certa descrença sobre o otimismo governamental, por parte de instituições respeitadas.
Esta problemática pode ainda ser agravada pelas condicionantes exógenas às opções incluídas no modelo económico que suporta o crescimento do PIB. Por exemplo, no consumo interno (sobretudo o privado), a estimativa de 0,7% terá de ultrapassar as dificuldades causadas pela inflação e pela subida das taxas de juro do BCE, com inevitáveis consequências na diminuição do poder de compra, sobretudo das famílias endividadas, por empréstimos a financiar a compra de habitação e/ou automóvel. O investimento (Eur 3,4 MM), a crescer 3,5% face a 2022, está muito dependente da realização de um PRR que, como é público, denota atrasos significativos. Quanto às exportações, que se estimam crescer 3,7% face a 2022, os sinais de recessão em 2023 nos mercados europeus não permitem grandes otimismos.
Outro dos temas a merecer justificada preocupação consiste na subida das taxas de juro da dívida pública.
Presentemente, a média cifra-se em 1,7% (0,6% em final de 2021) e as emissões a 10 anos já estão em 3,23%, sendo imprevisível até quanto subirão em 2023. Para complicar, os fortes apoios sociais previstos no OE 2023 já motivaram um alerta da Comissão Europeia, receosa pelos desequilíbrios financeiros que podem gerar. Aponta (e muito bem!) este Governo a «contas certas», mas pelo que já referi, não surpreenderá que, durante 2023, se agravem as cativações e, possivelmente, haja cortes no investimento público, medida regularmente praticada pelas ‘Finanças’ nos últimos 7 anos, com óbvios custos a médio e longo prazo.
Resumindo, o otimismo contagiante de António Costa pode sofrer revezes importantes em 2023, com consequências potencialmente negativas para a dívida pública, um cutelo que nos acompanha há muito (274,3 MM, outubro 2022), pelo que, numa paróquia destas, estar confiante apenas ‘porque sim’ fica difícil.
2. A COP 27 terminou e depois de 2 dias de intensas discussões, lá se emitiu um comunicado conjunto que simboliza bem quanto a Cimeira deixou a desejar. As metas para corte das emissões são as mesmas, mas compromissos concretos da sua redução assumidos pelos países mais poluidores do planeta… nicles! Ficaram-se pelo reafirmar dos nobres princípios aprovados em 2015 (Paris, COP 21), ou seja, tudo fazer por forma a limitar o crescimento da temperatura a 1,5 graus Celsius face à época pré-industrial, crendo que «para o ano (COP 28) é que vai ser!»
Acreditam?
O sucesso (indiscutível e não escamoteável) ficou-se pela aprovação de um Plano de Apoio Extraordinário a países pobres, vítimas de cataclismos causados por distúrbios climáticos. Ou seja, foi excelente ter sido aprovado esse apoio, mas sabe francamente a pouco, dado que o essencial foi adiado… Mas se fizermos um fine tuning sobre estas conclusões, ficamos ainda mais preocupados quando lemos que se bem que haja acordo sobre o tal Plano, ninguém sabe qual a quota-parte de cada país no seu financiamento e veremos se na COP 28 se chegará a um acordo…
Acreditam?
Em suma, cerca de 35 mil pessoas foram até ao Egito, mas as declarações amargas de Guterres (Secretário-Geral da ONU) e Timmermans (V. P. da Comissão Europeia) suscitam a questão: que se pode fazer para que estas reuniões tenham eficácia, dado que, presentemente, apenas vislumbramos um repetido elencar de problemas, perante o permanente adiar das soluções que todos sabemos quais são e que sempre os mesmos continuam a inviabilizar?
3. O planeta atingiu por estes dias o número redondo de 8 mil milhões de pessoas, mais do triplo dos 2,5 mil milhões que éramos em 1950. Sem pretender ser entediante, refiro que a Ásia representa atualmente 59% (China e Índia com 18% cada), África com 18%, América com 13%, Europa com 9% e Oceânia com 1%. Relembro que em 1960, a Europa representava 24% e a África 11%.
Estas alterações nos rankings refletem a disparidade das taxas de crescimento entre os diversos continentes, sobretudo com África (em particular a região Subsariana) a representar, por alturas de 2050, cerca de 26% da população mundial, com tudo o que isso possa vir a significar, sobretudo do ponto de vista social. A Ásia terá cerca de 55%, a América cerca de 12% e, a Europa apenas com 7% (e a Oceânia com 1%).
Pensando na Europa, excluindo os efeitos das migrações a pressionar mais uns países do que outros e das incógnitas inerentes, sobretudo de como serão integrados, perspetiva-se um preocupante envelhecimento populacional, decorrente (i) de diminuições drásticas da natalidade, como resultado de profundas alterações sociais e económicas, e (ii) do aumento significativo da esperança de vida.
Portugal é um exemplo claro dos riscos que esta diminuição demográfica representa e do consequente envelhecimento populacional: hoje seremos cerca de 10,3 milhões, algures por 2050, cerca de 9,3 milhões e… 6,9 milhões em 2100 (fonte: ONU). Se continuar a atual inércia, não se incentivando políticas nacionais a inverter esta tendência, enfrentaremos graves problemas económicos e sociais nas próximas décadas, entre os quais assustadoras pressões nos sistemas de Segurança Social.
P.S. – Desde 2010 que se sabe que o Mundial será no Qatar. Até agora, durante 12 anos em que se construíram os estádios e as infraestruturas, mal se falou dos direitos humanos neste país e muito menos se questionou a realização do evento. De repente, até nós em Portugal descobrimos o assunto e, por coincidência ou não, a PJ fez ‘uma varridela’ nas explorações agrícolas no Alentejo, onde, segundo se lia e ouvia, existiam situações absolutamente inaceitáveis e atentatórias dos mais elementares direitos humanos. Afinal, valeu a pena falar do Qatar!