Há semanas que não se fala de outra coisa. O Campeonato do Mundo de Futebol 2022 começou no passado domingo, no Qatar, sendo a primeira vez que esta é realizada no Médio Oriente, abrindo as suas portas num país arábe – maioritariamente muçulmano. Por isso, e como seria de esperar, os seus costumes e leis têm gerado debate (principalmente no mundo ocidental) sobre a idoneidade do país tendo em conta a sua falta de respeito pelos direitos humanos: por exemplo, a falta de condições de saúde e segurança dos trabalhadores dos estádios e a ausência dos direitos das mulheres, e das pessoas homossexuais.
Segundo uma investigação do jornal britânico The Guardian, mais de 6500 trabalhadores da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar desde que o país se prepara para receber o campeonato do mundo de futebol de 2022.
A verdade é que, nos últimos dez anos, o país embarcou num programa de construção sem precedentes para receber o Mundial de 2022. Durante esse tempo, foram inaugurados quatro estádios. Nos novos projetos está ainda um novo aeroporto, novas estradas, sistemas de transportes públicos e hotéis.
No meio da chuva de críticas está um nome, Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani. Mas afinal quem é este emir de 42 anos? Qual a história da sua família? E como vive o homem mais rico (estima-se que a sua fortuna é cinco vezes maior do que a da rainha Isabel II) de um dos países também mais ricos do planeta?
Foi precisamente Tamim bin Hamad Al Thani quem na última década se voltou para a promoção do desporto, com o objetivo de aumentar o perfil internacional do Qatar, um emirado cuja forma de governo é uma monarquia absoluta – desde meados do século XIX, a família que está no poder é a família Al Thani.
No passado foi um país pobre. Contudo, graças às grandes reservas de petróleo e gás, é hoje uma potência mundial com 2,8 milhões de habitantes a quem o estado providencia assistência médica e escolas gratuitas. O país que é descrito como «o filho problemático» dos países do golfo Pérsico, possui 90% da população estrangeira e os trabalhadores migrantes, maioritariamente provenientes da Índia, Bangladesh e Nepal, vivem em contextos precários com salários baixos e condições de trabalho e de vida quase desumanas – como tem sido possível observar nas reportagens feitas nas residências onde os imigrantes, contratados para as obras dos estádios, têm vivido. Por outro lado, a homossexualidade é proibida no país, tal como manifestações de carinho em público, como beijos e abraços (independentemente de ser entre um homem e uma mulher). No Qatar, as mulheres também não têm direitos. Mas, apesar de tudo isso, este Campeonato do Mundo já é considerado o mais cara de toda a história.
Quem é Tamim bin Hamad?
Quarto filho do líder anterior, Hamad bin Jalifa Al Thani, Tamim bin Hamad é o nono da sua dinastia e o primeiro emir do Qatar em quatro gerações a não chegar ao poder através de um golpe. Em 2013, quando o seu pai abdicou do trono, o sheik tinha apenas 33 anos, tornando-se, nessa altura, o mais jovem líder de todo o Médio Oriente, com uma fortuna avaliada em 450.000 mil milhões de euros (valor cinco vezes maior do que o Rei do Reino Unido, Carlos III) – a ordem de sucessão ao trono do país é determinada por nomeações expressas dentro da extensa casa real de Al Thani. Atualmente, como nenhum dos 13 filhos do emir atingiu a maioridade, o atual emir ainda não designou um herdeiro.
O líder nasceu na capital do país, a cidade de Doha, no dia 3 de junho de 1980 e é filho de Musa bint Nasser al-Missned, a segunda das três mulheres do seu pai. O Reino Unido foi o lugar escolhido para o seu percurso académico: iniciou os estudos internacionais na Sherborne High School, em Dorset, depois ingressou na Harrow School, em Londres, tendo terminado na academia militar de Sandhurst studiert. Graças a esses anos, domina perfeitamente a língua inglesa – além de saber falar francês fluentemente –, o que lhe permite participar nas reuniões internacionais sem tradutor.
Atualmente, Tamim bin Hamad tem três esposas: Jawaher Al Thani desde 2005, Anoud Al Hajri desde 2009 e Noora Al Dosari desde 2014. A sua primeira mulher é sua prima em segundo grau, já que a lei do Qatar exige que a primeira seja parente do chamado nubente. É ela quem atua como primeira-dama em viagens internacionais e é com ela que partilha a paixão pelo desporto (Al Thani trabalha em várias iniciativas de apoio às atletas femininas do país).
Segundo o jornal espanhol La Vanguardia, pouco se sabe das outras duas mulheres do emir, além da beleza da última e que a segunda é filha de um ex-primeiro-ministro do emirado. Sabe-se, todavia, que dos três casamentos nasceram 13 filhos – sete rapazes e seis raparigas – entre 2006 e 2020. A família passa as férias de verão toda junta. Em 2016 chegaram a Calvià com o iate Al Mirqab, de 133 metros de comprimento, e este verão voltaram com outro, o Al Lusail – avaliado em 500 milhões de euros –, com o qual foram vistos no exclusivo Puerto Portals. O barco também não passou despercebido em Málaga e no resto da Costa del Sol.
Segundo escreve o mesmo jornal, pelo menos entre os seus filhos mais velhos já existem várias disputas. Os irmãos estão constantemente envolvidos em conflitos entre si para lutar por um lugar na hierarquia familiar e pela herança do trono.
A fortuna
Não é novidade para ninguém que o poder e a riqueza da dinastia Al Thani vêm do seu controlo absoluto sobre as abundantes reservas de petróleo e gás no território do Qatar – a fortuna da família real está estimada em 2.000 milhões de euros e a profusão de investimentos pelo mundo faz com que o emir Tamim tenha excelentes relações com o Ocidente em geral. E se o também proprietário do clube de futebol Paris Saint-Germain e da estação de televisão Al Jazeera, já era considerado um dos homens mais ricos do mundo, este ano, com a Rússia a “fechar a torneira” do gás à Europa, tornou-se ainda mais apetecível, com todos os líderes mundiais a quererem reunir-se consigo. Como principais investimentos do monarca, sabe-se que faz parte da estrutura acionista do Barclays Bank, da British Airways, da Volkswagen, do Harrods, em Londres, e do espanhol El Corte Inglés. É ainda acionista dos hotéis de luxo Ritz e The Savoy, que constam entre as unidades hoteleiras mais famosas do mundo. Estima-se que, atualmente, o património pessoal do emir se situe entre os 2.100 e os 2.500 milhões de euros, segundo vários rankings internacionais.
Ainda de acordo a mesma publicação, a sua teia empresarial, que se estende por todo o mundo, inclui também Madrid e Barcelona, onde é proprietário dos hotéis Intercontinental e Renaissance. Até 2020, a família real do Qatar, através do fundo Qatari Diar, também era proprietária da concessionária Port Tarraco, em Tarragona. E depois da sua visita oficial à Espanha, foi dito que promoverá investimentos como a Torre del Puerto de Málaga.
No mundo do futebol, nos últimos anos, graças aos substanciais investimentos da família real em equipamentos e patrocínios desportivos, inúmeros eventos mundiais foram ou serão realizados no país. O Qatar sediou o Campeonato Mundial de Atletismo em 2019, abriu no passado dia 20 de novembro o Mundial de futebol e sediará o Campeonato Mundial de Natação em 2024.
Além disso, fontes afirmam que a extensa família real é composta por cerca de 3 mil pessoas, outras citam quase 6 mil, e que só eles recebem 70% dos benefícios dos poços de petróleo e gás.