por José Maria Matias
Aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na UNL
Nos últimos tempos o conceito de Justiça Climática entrou no nosso quotidiano e são inegáveis as suas consequências. Em nome da Justiça Climática vandalizam-se obras de arte, invadem-se supermercados e ocupam-se escolas e universidades. As autoridades têm dificuldades em atuar, os diretores das universidades e escolas ou aplaudem os ativistas, ou desesperam por não conseguir ter diálogos racionais com quem não quer conversar e os líderes políticos recebem-nos e apercebem-se da falta de soluções que apresentam.
Apesar de todos os incidentes, ainda poucos pararam para pensar e definir o que é isto de Justiça Climática. Afinal, trata-se de justiça pelo clima? Se sim, então, é o clima que está a clamar por justiça? Como tal, quem é que são os injustiçados climáticos? Ou então, é um clima de justiça que se pede? Assim sendo, como é que se vai climatizar a justiça? Quem é que queremos julgar? Se vamos julgar, então, quais os critérios da Justiça Climática? E por isso, resta saber, quem são os justiceiros do clima? Será que está em curso a criação de uma sociedade de bom clima para justiceiros? Será uma destas definições, ou serão todas resumidas em duas únicas palavras?
Por outro lado, porque é que queremos fazer justiça pelo clima? Não seria mais interessante, no mínimo, querer emprestar sabedoria pelo clima? Não seria melhor, por exemplo, pedir sabedoria climática para os decisores políticos e para a sociedade civil? Será conciliável o clamor por Justiça Climática, vindo de quem nada tem a oferecer pela solução, com a salvação do planeta? Ou seja, lutamos pela Justiça Climática ou pela Humanidade? Há justiça sem sabedoria?
Nas últimas semanas, o país assistiu a vários protestos de ativistas pelo estado de emergência climático, espantou-se quando um jovem explicava na SIC Notícias que no PRR existiam «fósseis por todo lado», mas ao mesmo tempo confessava não ter lido o PRR. Ou seja, se nem pelo clima de emergência se lê o PRR, então, o que é que será preciso para ler? Simultaneamente, o PSD apresentou a sua proposta de revisão constitucional onde propôs colocar o direito ao voto aos 16 anos, tal vai a desinspiração do centro-direita. Do outro lado, o PS começou por aplaudir a coragem destes jovens, dando-lhes toda a atenção, sendo que o próprio ministro da Economia viria a recebê-los. Contudo, rapidamente percebeu-se que estes queriam cobrar-lhe a sua demissão, o fim dos exames nacionais ou impor as casas de banho mistas. Até o PS foi obrigado a recuar no apoio apaixonado, não deixando de ser irónico. Acabaram por provar do seu próprio veneno, isto é, experimentaram os frutos da radicalização política que fizeram nos últimos anos.
Os pequenos heróis passaram a ser grandes problemas. Contudo, não deixa de ser estranho. Estes jovens gozaram de uma cobertura mediática sem igual, da comoção dos políticos, da solidariedade das elites, afinal, estavam a lutar por todos nós. Será que teriam todo este protagonismo se estivessem a contestar o salário dos pais ou a reforma dos avós? Será que teriam este tempo de antena se estivessem a lutar pela sua vontade de permanecer em Portugal, sabendo de antemão que têm altas possibilidades de emigrar ou, então, contentando-se com a hipótese de vir a ter um salário que não lhes garante a dignidade mínima para viver? Não sabemos, mas sabe-se que se deu voz a um conjunto de pessoas que pouco ou nada tinham para dizer e o que disseram era realmente muito assustador. Até porque, em nome de pseudo justiças, temos visto serem cometidas as maiores injustiças.