A Europa perdeu na passada sexta-feira, dia 25 de novembro, um dos seus últimos gigantes intelectuais. Nascido em 1929 em Kaufbeuren, uma pequena cidade nos Alpes suábios da Baviera, Hans Magnus Enzensberger cresceu em Nuremberga, cuja atmosfera, durante os anos 30 e início dos anos 40, como notou Reinhold Grimm, «era uma mistura estranha e muitas vezes sufocante de isolamento provinciano e sonolência vez por outra sacudida por lembranças vagas de um passado magnífico, e o barulho ensurdecedor e a efusividade explosiva dos comícios do partido de Hitler com o seu incitamento a um belicismo sangrento».
Nos últimos meses da guerra, na fase final e desesperada, Enzensberger, ainda adolescente, foi recrutado. Após a guerra, terminado o liceu, tentou a sua sorte no teatro. Nos anos que se seguiram viria a frequentar várias universidades alemãs, bem como a Sorbonne, onde estudou literatura, línguas e filosofia, acabando por se formar em Erlangen, perto de Nuremberga. Com uma dissertação sobre o poeta romântico Clemens Brentano, recebeu o doutoramento summa cum laude aos 26 anos.
Uma década mais tarde, em 1964, na sessão em que pela primeira vez falou publicamente como poeta residente da Universidade de Frankfurt, Theodor W. Adorno não lhe poupou elogios. À altura, Enzensberger só tinha publicados os seus primeiros dois volumes de ensaios, mas os três livros de poemas permitiam já considerá-lo um dos mais destacados autores do pós-Guerra. Integrou o Grupo 47, do qual fizeram parte vultos como Paul Celan e Günter Grass, e poderia facilmente ter pontificado no mundo académico, mas assim que terminou os estudos preferiu sempre a via insubordinada.
Trabalhou na Rádio de Stuttgart, e pouco depois era leitor da Suhrkamp Verlag, que viria a tornar-se a editora dos seus livros. Além dos mais de 70 títulos que publicou, foi ainda um prolífico tradutor e poliglota, e, como antologiador, foi o primeiro a mostrar, em 1960, alguns poemas de Fernando Pessoa aos leitores alemães. Em 1970 cria a sua própria chancela, a Die andere Bibliothek (A outra Biblioteca), que teve um sucesso estrondoso, apresentando aos leitores alemães autores como Curzio Malaparte, John Reed ou Enrique Vila-Matas.
Nos anos que se seguiram, Enzensberger viajou por todo o mundo, permanecendo por longas temporadas fora da Alemanha.