Os tempos médios de espera para os doentes dos hospitais da região de Lisboa oscilavam – às 11h45 desta segunda-feira – entre as 11 horas no Hospital Santa Maria e os 33 minutos no São Francisco Xavier. Ao final do dia, no primeiro, já chegavam às 14 horas. Para Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), esta “é mais uma evidência de que só a palavra e os diagnósticos feitos pelo Ministério da Saúde não são suficientes para resolver um problema que o próprio ministro assumiu ser crónico, mas que tarda em apresentar medidas para mitigar”.
“Não adianta dizer que muitas pessoas não deviam ir às urgências porque não há ninguém com sanidade mental que queira ir ao hospital aguardar esse tempo infindo. E quando se diz que os centros de saúde podem resolver esses problemas, esquece-se de que há quase um milhão e meio de pessoas sem médico de família, médicos com listas de 1900 utentes, etc.”, desabafa o dirigente sindical. “Portanto, tem de se robustecer as equipas, investir nos equipamentos – muitos deles, são obsoletos – e, por isso, não é possível pedir mais trabalho aos médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, sublinha, sendo que segundo os dados do Portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS), àquela hora encontravam-se 19 doentes com pulseira amarela (urgente) no serviço de urgência central do Hospital Santa Maria, tendo um tempo médio de espera de 11 horas e 10 minutos. O tempo recomendado é de 60 minutos.
No Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, o tempo médio era de duas horas e 21 minutos, com 42 pessoas, àquela hora, no serviço de urgência. O hospital pediátrico D. Estefânia tinha um tempo médio de espera de uma hora e 17 minutos, com nove doentes a aguardar no serviço de urgência, e o Hospital São José uma hora e 26 minutos (com 13 doentes).
Nos hospitais Garcia de Orta, em Almada, São Francisco Xavier, e Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) o tempo médio de espera era menor, estando dentro do recomendado, com 38, 33 e 39 minutos, respetivamente.
Em comunicado, o Hospital de Santa Maria explicou que o aumento registado resulta não apenas de um maior número de procura por parte de utentes da área de referência do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), mas também do funcionamento em rede do Serviço Nacional de Saúde.
“Há médicos que já fizeram 400 e 500 horas extraordinárias este ano. Tem de se criar condições para contratar médicos. É claro para a população que ser médico no SNS não é atrativo: não só pelo salário, mas também pelas condições laborais e carga de trabalho. Assim sendo, o que se apela aos dirigentes é que haja sensibilidade e humanidade para investir”, frisa Roque da Cunha, lembrando que parte do montante de 10 milhões “que se cobrou dos impostos até setembro tem de ser encaminhada para o SNS”.
O problema a Sul que espelha o resto do país
“É também evidente que a aposta do senhor ministro em prestadores de serviços não é solução: muito menos admissível que, no Algarve, haja médicos obstetras que estejam escalados em 4 dias e meio ou em Portalegre por 3 dias seguidos. Não é correto, não é sério e é um perigo para a saúde dos portugueses”, adianta, acrescentando que “acerca dos colegas prestadores… Ninguém sabe de onde vieram ou como trabalham. Muitos deles estão num hospital hoje, amanhã noutro e por aí fora”.
“Não adianta os Conselhos de Administração fingirem que têm escalas completas quando sabemos que muitos colegas fazem centenas de horas mensais e põem em perigo não só a segurança das pessoas, mas também a sua própria sanidade. Ninguém controla isto”, lamenta, sendo que há três dias o SIM divulgou um comunicado intitulado de ‘Hospital de Portimão e o silêncio da IGAS’ onde é possível ler que “não só muitas escalas de Serviço de Urgência de Pediatria incluem cada vez menos médicos Especialistas em Pediatria, como agora até incluem médicos sem autorização para exercer essa especialidade em Portugal, como é o caso da Unidade Hospitalar de Portimão do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA)”. “E num caso com a agravante de o referido profissional estar escalado 48 horas seguidas”, foi realçado.
“Nesse sentido, já há mais de seis meses solicitámos à IGAS que pudesse fazer uma inspeção geral para identificar este problema e o poder político o resolvesse. Não tivemos qualquer resposta”, declara Roque da Cunha. “Tornámos pública uma situação de colegas do Algarve que nem estão inscritos na Ordem dos Médicos”, começa por finalizar.. “Gostaríamos que o Conselho de Administração do CHUA, ao invés de dizer que tudo está bem, se empenhasse junto da tutela em ter condições para a contratação de Pediatras. Gostaríamos que a IGAS interviesse no que lhe compete e como dela se esperaria”, lê-se no comunicado e conclui.