Um príncipe, militantes da extrema-direita, teóricos da conspiração e militares no ativo juntaram-se numa trama para derrubar o Estado alemão e foram apanhados numa enorme operação policial, com 25 detenções, avançou a DW. Os detalhes são dignos de filme de Hollywood, expondo a nu os perigos do movimento Reichsbürger, ou “cidadãos do Reich”, em alemão.
No centro da suspeita rede terrorista estava Heinrich XIII, de 71 anos, um membro da Casa de Reuss, que governou parte daquilo que é hoje o estado da Turíngia durante séculos até à implantação da República de Weimar, em 1918. Sob a tutela de Heinrich XIII, conhecido por discutir publicamente como a vida era melhor nos tempos em que monarquias dominavam o mundo, esta organização terrorista terá criado um conselho, por volta de novembro do ano passado, preparando-se para governar após o golpe de Estado que ensaiavam, estabelecendo também um braço armado para o levar a cabo.
Os soldados do príncipe eram uma estranha mistura de fanáticos, que vieram sobretudo da comunidade Reichsbürger. Este movimento nega a ordem estabelecida após a II Guerra Mundial, vendo-a como nada mais que um território ainda sob ocupação dos aliados e acreditando que o império alemão ainda vigora. Alguns são nazis no sentido mais literal da palavra, outros monárquicos convictos como Heinrich XIII, muitos são libertários extremistas, recusando pagar impostos, declarando as suas propriedades como Estados soberanos, à semelhança do que fazem milícias americanas.
A inspiração da extrema-direita dos EUA nestes saudosistas do império alemão é notória pela adoção da teoria da conspiração Qanon por vários dos seus membros. É um delírio que surgiu entre republicanos, baseado nas mensagens deixadas num chat por Q, o nome de código de um suposto agente secreto infiltrado no chamado “deep state”, em Washington. Q estaria a tentar ajudar Donald Trump a salvar o mundo de uma cabala internacional, composta por pedófilos, satanistas ou celebridades que bebem o sangue de crianças para se manter jovens, dependendo da versão. Muito especialistas viam um paralelo entre estes delírios e conspirações antissemitas, da Idade Média ao III Reich, não sendo de estranhar que atraíssem parte da extrema-direita alemã.
Poderia ser tentador ignorar a trama de Heinrich XIII como mera loucura, não tivesse um militante dos Reichsbürger morto um agente da polícia com um tiro de besta, em 2016, durante buscas a sua casa. As autoridades estimam que o movimento é composto por mais de 21 mil pessoas, uns 10% das quais estarão dispostas a usar violência.
Além disso, Heinrich III procurou aliados influentes para o seu conselho. Incluindo um antigo deputado do Bundestag, que em tempos esteve para assumir a pasta da Justiça, avançou a DW. Ainda tentaram entrar em contacto com Moscovo, que viam como um interlocutor crucial para o seu futuro Governo. Um cidadão russo está entre os 24 detidos, tendo um dos cabecilhas da rede, um antigo paraquedista, tentado entrar em contacto com dirigentes do Kremlin, avançou o Der Spiegel.