Amorfia social-democrata

Ao PSD não basta dizer mal do adversário. Esse modelo deixou de funcionar. O PSD precisa marcar a agenda política em vez de lhe responder. A um partido político com ambições e histórico governativo exige-se propostas políticas e protagonistas políticos. 

por Eduardo Baptista Correia
Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

Passados mais de seis meses sobre a eleição da atual direção do PSD são evidentes os esforços e o empenho realizados no sentido de pacificar o partido, bem como o trabalho de aproximação e presença junto das bases nos diferentes territórios, traduzidos por um conjunto de iniciativas bem-intencionadas que causam ao militante a sensação de movimentação energética. 

Essa apreciação é legitimamente reforçada por comparação à atitude de forte complacência política que caracterizava a direção anterior. A exultação é, contudo, na minha opinião, excessiva. Tenho assistido com regularidade ao anúncio do nome do presidente do partido como futuro primeiro ministro. Faz-me lembrar as últimas duas semanas antes das anteriores eleições legislativas, onde movimento interno com características muito parecidas, dava como certa a vitória de Rui Rio. 

Esta nota advém da apreciação em si e da observação da evidente falta de capacidade em captar, por parte do PSD, o interesse e a confiança da população que os tempos de disparate socialista justificariam. Não há sinais que nos possam convencer desse feito. A realidade que observo mostra uma enorme dificuldade do PSD em atrair o cidadão, o eleitor, o eleitor tradicional e o jovem português nascido no século XXI. Importa, por isso, refletir sobre este tema porque, não tenhamos duvidas, ou o PSD encontra a fórmula da atração que convença o povo português da sua capacidade de transformar o país, contribuindo efetivamente para um desenvolvimento inovador, para um estado que funcione de forma eficiente e rápida, para uma justiça que funcione, para um regime fiscal de menor intensidade, e para uma economia que cresça, ou a esquerda das promessa não cumpridas continuará a governar e atrasar-nos. Não tenhamos dúvidas.

Ao PSD não basta dizer mal do adversário. Esse modelo deixou de funcionar. O PSD precisa marcar a agenda política em vez de lhe responder. A um partido político com ambições e histórico governativo exige-se propostas políticas e protagonistas políticos. 

O PSD apresenta-se pouco claro, pouco ambicioso e pouco trabalhador nas matérias que justificam a sua existência: um projeto político para a sociedade portuguesa de século XXI. O PSD contemporâneo não apresenta suficientes fatores distintivos que constituam fontes de atratividade ao povo português.

Por estar excessivamente virado para dentro, falta-lhe a noção das verdadeiras e reais necessidades de transformação da sociedade portuguesa e dos aparelhos públicos, sociais, e privados que a sustentam. 

A abordagem que assistimos recentemente ao tema da Eutanásia é reveladora dessa incapacidade de distinção do essencial ao acessório, da orientação para dentro e da falta de matéria para marcar agenda e condicionar a vida política do país, mostrando aos cidadãos e ao eleitor a existência de um projeto concreto de modernização do funcionamento da República Portuguesa.

É bom estarmos conscientes que o PSD não está a galvanizar a sociedade portuguesa apenas por ausência de atitude, organização e trabalho. Não é, convenhamos, por mérito dos adversários. E enquanto a estrutura e os militantes não reconhecerem e entenderem este facto, continuaremos a assistir à repetição em contínuo da história recente. 

O PSD ativo, inovador e pujante faz muita falta à sociedade portuguesa. Há muito pensamento e trabalho pela frente para atingirmos esse patamar do qual nos encontramos excessivamente distantes.