"Está tudo bem dentro dos possíveis. Os nossos pais foram os primeiros a contactar a embaixada e estabelecemos uma rede de comunicação com as diferentes embaixadas e os consulados. Através deles, tentámos chegar a outras entidades que nos possam dar a mão", começa por dizer Tiago Pais, um dos sete jovens médicos, recém-formados em Medicina pela Universidade de Coimbra, em declarações ao Nascer do SOL, um dia depois de ter sido anunciado que as manifestações no Peru, associadas à destituição do Presidente Pedro Castillo, se haviam intensificado e sete portugueses estavam retidos num hotel na segunda maior cidade do país. Agora, sabe-se que este número corresponde a 40.
"A chamada, há pouco, com o cônsul correu muito bem: no fundo, foi de controlo. Para saber se precisávamos de algo. O nosso colega que teve um problema no olho também está melhor, felizmente. Estamos no hotel e, portanto, não temos o feedback ao certo de como está tudo lá fora, mas sabemos que há manifestações em diferentes pontos da cidade. Perguntou se tínhamos necessidade de ajuda financeira, mas ainda não há qualquer novidade quanto a isso. Foi mais uma questão de perguntar e não tanto de apresentar uma solução", explica o jovem, sendo que ele e os colegas ficaram retidos quando seguidam na estrada Pan Americana em direção a Cuzco, na noite de sábado.
"As nossas famílias estão prontas a ajudar, mas a verdade é que nem todas têm as mesmas capacidades financeiras. Ainda ontem tivemos de comprar um voo de 1000 euros. Mesmo para refeições não recebemos nem um euro. Estamos a assumir todos os custos e não planeávamos ficar aqui tantos dias. Esperamos voltar a Portugal em breve – num voo que nos leva daqui até Lima e faz a ligação a Madrid, no dia 19 de dezembro; e dão-nos a possibilidade de adiar os dois voos -, mas vamos continuar a pressionar as várias entidades: não vamos desistir", assevera o rapaz, lembrando que passaram uma semana no Rio de Janeiro antes de terem viajado para o Peru. "Tínhamos delineado tudo há dois meses", salienta.
"Temos tido muito apoio de pessoas que não conhecíamos e já não nos sentimos sozinhos como nos primeiros dias. Estávamos um bocado despernados, digamos assim. Falo por todos porque sei qual é a opinião de cada um. O que está em causa é o apoio que nos dão aqui ou em qualquer ponto do mundo. Desde o primeiro minuto, sentimo-nos abandonados pelo nosso próprio país", confessa um dos mestres em Medicina que seguia num autocarro quando as estradas foram cortadas por manifestantes. Por esse motivo, Rita Matos, Rita Regatia, André Cortesão, Francisco Santos, José Corte-Real, Luís Maia e Tiago Pais ficaram durante 50 horas naquele meio de transporte.
"Foi decretado estado de emergência no Peru e o auxílio é extremamente limitado. Em termos psicológicos, não posso negar: tem havido um impacto. A união e o facto de nos conhecermos há tantos anos tem contribuído para que estejamos mais ou menos, mas com o passar do tempo estamos física e psicologicamente cansados", admite Tiago. "Vemos o tempo passar, não há garantias de nada e continuamos com medo", sublinha. "Hoje estamos seguros, mas não sabemos como tudo será amanhã", lamenta.
"Tentamos ocupar o tempo com coisas que nos deixam felizes, mas não é fácil. Como também encontrámos três raparigas, estudantes como nós, que ficaram retidas, o grupo aumentou e somos cada vez mais a entreajudar-nos. Se pudesse falar com o Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), pediria ajuda para todos aqueles que estão na nossa situação e que se pusesse no nosso lugar. A premissa básica é a ajuda em qualquer lugar no mundo: e, neste momento, não a podemos ter", afirma, pouco tempo depois de o MNE ter lançado um comunicado onde deixou claro que está a acompanhar a situação dos retidos com o apoio da Embaixada de Portugal, em Lima. Os portugueses encontram-se nas regiões de Cuzco, Arequipa e Águas Calientes (Machu Pichu).
O Nascer do SOL contactou o MNE mas, até às 17h30, não obteve qualquer resposta.