A saída desejada por alguns

Fernando Santos deixou a seleção nacional em rutura com Ronaldo. É o terceiro selecionador a cair após divergências com o capitão de equipa. José Mourinho pode ser o senhor que se segue, apesar do choque de personalidades entre em os dois nos tempos de Madrid.

por João Sena

Fernando Santos já não é selecionador nacional após rescisão, por mútuo acordo, do contrato que o ligava à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) até 2024. No final do jogo contra Marrocos, que ditou e eliminação de Portugal do Mundial, o selecionador disse que iria ter uma conversa com o presidente da FPF em Lisboa para decidir o futuro, e não demorou muito até ser conhecida a decisão de deixar o comando da seleção. Fernando Santos esteve à frente da equipa das quinas durante oito anos, realizou 109 jogos, obteve 67 vitórias, 23 empates e 19 derrotas.

Na hora da saída fez questão de referir que: «Saio com enorme sentimento de gratidão. Foi um privilégio ter sido selecionador nacional e uma honra representar o meu país. Foi um sonho que realizei, um objetivo de vida que cumpri». O ex-selecionador agradeceu «a todos os jogadores com quem trabalhei desde 2014. Agradeço também à minha equipa técnica, aos treinadores dos clubes que cederam jogadores à seleção e à federação, nomeadamente ao Humberto Coelho e ao João Pinto que estiveram sempre a meu lado», deixou ainda um agradecimento especial a Fernando Gomes «que sempre me apoiou e foi o que um líder deve ser nos bons e, sobretudo, nos momentos mais difíceis». Fernando Santos lembrou ainda que: «Quando se lidera grupos temos de tomar algumas decisões difíceis e é normal que nem todos fiquem contentes com as escolhas que fiz, mas as opções que tomei foram sempre a pensar no melhor para a seleção».

No Qatar, Portugal realizou o terceiro melhor Mundial da sua história, apenas suplantado pelos torneios de 1966 e 2006. Apesar dos resultados, faltaram as boas exibições e um futebol convincente tendo em conta a qualidade dos jogadores. Mas Fernando Santos sempre disse o que pensava: o mais importante era ganhar, as exibições vistosas vinham depois… se possível. Aliás, ficou célebre o cântico dos jogadores no Euro 2016: «Não importa se jogamos bem ou mal, queremos é levar a taça para o nosso Portugal», está tudo dito.

 

Saída ‘programada’

A saída de Fernando Santos era esperada, senão vejamos: a seleção nacional chegou a Portugal no domingo e, no dia seguinte, já a imprensa italiana falava na possibilidade de José Mourinho ser o próximo selecionador nacional. Durante os oito anos que esteve na seleção, o engenheiro ganhou o Campeonato da Europa em 2016 e a Liga das Nações de 2019. O pior veio depois com as derrotas em casa frente à França e Espanha que tiraram Portugal da Final Four da Liga das Nações em duas edições consecutivas, a derrota perante a Bélgica no Europeu de 2020 (jogado em 2021) e a inexplicável derrota frente à Sérvia, outra vez em casa, que obrigou a seleção a jogar um playoff para ir ao Mundial do Qatar. Mas fica por saber se a queda do engenheiro se deveu à falta de resultados e a exibições menos convincentes ou ao ‘crime de lesa-majestade’ por ter sentado Cristiano Ronaldo no banco de suplentes, opção que qualquer outro técnico teria feito há mais tempo, como fez Ten Hag, no Manchester United, e que provocou uma espiral de disparates e provocações de CR7.

A ‘guerra’ que o clã Ronaldo travou com o selecionador nos últimos dias não nasceu do acaso, e é curioso constatar que os dois anteriores selecionadores (Carlos Queiroz e Paulo Bento) deixaram a equipa num claro ambiente de mal-estar com Ronaldo. Aliás, o facto de o capitão de equipa, sempre tão ativo nas redes sociais, nada ter dito sobre a saída do ex-selecionador é bem elucidativo da relação entre os dois.

José Mourinho é o preferido da FPF para ocupar o cargo de selecionador, mas o treinador da Roma tem contrato até final de junho de 2024. A equipa italiana não parece disposta a libertá-lo sem uma compensação monetária e o Special One ganha sete milhões de euros líquidos por época. A equipa romana encontra-se em estágio no Algarve, e o treinador fez silencio total sobre o eventual interesse da FPF, ou seja, não confirmou, nem desmentiu. Se a opção for essa, fica por saber quem irá orientar a seleção nos primeiros quatro jogos (Liechtenstein, Luxemburgo, Bósnia e Islândia) de apuramento para o Europeu da Alemanha em 2024. A opção pode ser Rui Jorge, treinador dos Sub-21, a exemplo do que aconteceu, em 2002, com Agostinho Oliveira que ocupou o cargo de selecionador antes da chegada de Luiz Felipe Scolari.