É fácil, chega a ser uma vertigem culpar a bolha mediática.
Quando as coisas não correm bem e se procura ignorar a verdadeira raiz do mal, o caminho é este.
Ora, valha a verdade que a bolha existe porque factos lhe dão origem.
Serão eles negligenciáveis, menores, sem relevância? Não parece.
Exemplifiquemos. Um ministro curto-circuita o primeiro-ministro, tenta legislar ao seu arrepio, confronta-o.
Talvez seja difícil encontrar um comportamento mais grave, mais letal para a autoridade do chefe do Governo, mais desequilibrador do conjunto. Ficou.
Um ministro é desautorizado pelos seus secretários de Estado, contrariado publicamente pelo ministro das Finanças e continua renovando a sua equipa. Portanto, foi transformado num ministro ‘minus’, num personagem tolerado, numa voz abafada, num chefe de pessoal.
Um secretário de Estado que se pretendia ter um papel de relevo na condução dos assuntos políticos do Governo, uma jovem glória, o homem que faltava.
E, de repente, a justiça desenha dele uma imagem terrível. Um autarca envolvido em decisões incompreensíveis, que em devido tempo haviam sido contestadas e investigadas. Um alvo que se cala, esconde e tenta fugir por entre os pingos da chuva.
Mais rapidamente do que foi chamado, cai em desgraça, sai. Um ministro que sabe da instauração de investigações criminais a alguns altos dirigentes do seu Ministério e nomeia um deles para presidir a uma empresa pública do mesmo universo.
O que podia correr mal, corre ainda pior e o ministro decide manter-se em funções fingindo não perceber como a sua imagem foi atingida sem apelo nem agravo.
Não estamos perante invenções. Não estamos confrontados com acusações da oposição sem fundamento. São factos que têm na sua origem um corpo doente. A pura autofagia.
E se pensarmos que este Governo de maioria absoluta tem apenas oito meses de vida damo-nos conta que alguma coisa de grave está a acontecer.
Estamos perante um domínio em que a responsabilidade se não dilui.
Quem escolhe os ministros, quem gere o Governo, é um homem concreto que tem por nome António Costa. E a verdade é que falhou repetidamente no exercício das suas competências.
Pressionado pelas circunstâncias, o novo secretário de estado da política leva o primeiro-ministro a uma entrevista para rebentar a bolha. Não a uma qualquer, mas uma de grande estadão. A capa da revista diz tudo.
Um homem impante, imperial como diriam os comentadores de futebol, senhor deste mundo e arredores, sentado na pose de reis e marqueses. Falou sobre tudo como um livro aberto. Esqueceu-se de um pormenor. Foi agressivo, destemperado e , quando quis adicionar notas de humor, foi de um primarismo absolutamente incivilizado.
Abriram-se as bocas de espanto perante um primeiro-ministro com este linguajar, com este culto desavergonhado da intolerância. Pouco depois, numa resposta avulsa, insistiu na falta de educação.
Diz-se que está cansado, admitiu depois que o apanharam num momento inconveniente de sono.
Tenho outro entendimento.
A inflação e a guerra trouxeram penúria. A subida dos juros vai levar a uma aumento considerável do serviço da dívida.
A maioria dos portugueses sente-se injustiçada com salários que há muitos anos encolhem.
O governador do Banco de Portugal insiste na redução da dívida e não apenas no aumento da receita fiscal. O mundo ficará pior no próximo ano.
Já não há paciência para este arrastar da asa, este torpor em que Portugal caiu.
As grandes iniciativas anunciada oferecem mais problemas do que soluções. Experiente como é, teme o que o futuro lhe reserva. Conclui que o mundo está contra ele.
Sem remédio.