Dakar. A magia do deserto

O Dakar 2023 é mais longo e difícil… a pedido dos concorrentes. A partir de sexta-feira, pilotos de automóveis, motos, SSV e camiões vão enfrentar os inóspitos terrenos da Arábia Saudita, num total de 8 550 quilómetros. Vai ser um festim de dunas e areia.

Por João Sena

Há 44 anos que o mítico Dakar desperta paixões entre pilotos e adeptos do todo o terreno. O sonho de Thierry Sabine, o criador da prova, continua bem vivo, embora com enquadramentos e uma filosofia diferentes. A partir de 1979, todos os anos centenas de pilotos de automóveis, motos e camiões saíam de Paris para uma longa maratona pelo continente africano, que chegou a ter 15 mil quilómetros! Quem por lá andou não esquece a entrada no deserto do Saara, em especial o Ténéré, a passagem pelo coração de África e a chegada ao Lago Rosa (Senegal), era uma invulgar e arriscada experiência de vida. Foi essa magia que levou ao Dakar gente famosa da realeza, da sétima arte e da música, como foi o caso do príncipe Alberto e da princesa Carolina do Mónaco, de Johnny Hallyday, Claude Brasseur e de Mark Thatcher (filho da antiga primeira-ministo inglesa), todos eles participaram e consideraram a experiência fantástica. Em 2008, Lisboa era o local de partida, mas a prova não se realizou por motivos de segurança na passagem pela África subsariana. Foi o fim de um sonho. A partir de 2009, o Dakar mudou-se para a América do Sul, com passagem pela Argentina, Chile e Bolívia, mas nunca agradou aos pilotos. Em 2020, a organização mudou de continente, e passou a fazer a prova na Arábia Saudita, uma opção mais consensual, embora os puristas continuem a falar no regresso a África.

Longa maratona O Dakar 2023 começa sexta-feira, junto ao Mar Vermelho, e termina, dia 15, na costa do Golfo Pérsico. Ao longo de duas semanas, os pilotos vão disputar um prólogo e 14 etapas e percorrer 4706 quilómetros ao cronómetro. Estão inscritos 455 veículos e 820 concorrentes. Há 17 participantes portugueses entre pilotos de moto e SSV e navegadores. Alberto Gonçalves colabora com a Amaury Sport Organisation (ASO) desde 2008 e fala ao i da mítica prova. “O Dakar significa descoberta, aventura e navegação, tudo isto acontece num país único. A prova foi evoluindo com as novas tecnologias, com o aumento da segurança e com o aparecimento de novas categorias. A edição deste ano vai ter muita aventura, como sempre aconteceu no continente africano e na América do Sul, e a navegação vai ser fundamental. Os pilotos que falharem os waypoints, que são pontos de passagem obrigatória, sofrem penalizações”, explicou. Os mais puristas vão gostar do percurso escolhido pela ASO, pois “existe um pouco de tudo. Areia, dunas, navegação e trial. Enfim, um cocktail de todo o terreno”. Profundo conhecer do Dakar, já que colaborou com a ASO em diferentes áreas, não teve dúvida em afirmar que “a prova pode decidir-se nas etapas 10 a 13, na chamada ‘Empty Quarter”. Segundo a organização é uma zona inóspita, onde não há pessoas, nem camelos, apenas dunas e lagos secos. 

Entre as novidades para este ano, está a estreia de sistema de bonificação para vencedores de etapas e o fim dos descansos obrigatórios de 20 minutos a meio das etapas para os pilotos de moto. Uma vez mais, a organização só vai libertar o roadbook em cima da hora de partida para evitar que os map men descobram o percurso e passem a informação aos navegadores antes da etapa começar. 

Muitos para vencer A Toyota vai alinhar com a pick up DKR Hilux T1+ com motor biturbo a gasolina de 360 cv. Henk Lategan, Giniel de Villiers e Nasser Al-Attiyah são os pilotos para atacar o primeiro lugar. Al-Attiyah está confiante: “Seria incrível voltar a ganhar. O nosso carro é mais rápido e temos vantagem em algumas zonas, mas nas dunas o Audi é melhor. Quem cometer menos erros de navegação vai ganhar”, disse o piloto do Qatar que é o campeão do Mundo de Rally Raid. A Audi preparou uma evolução do Audi RS Q e-tron T1+, um protótipo híbrido que vai usar combustível renovável reduzindo as emissões de CO2 em 60%. Está equipado com um motor a gasolina 2.0 TSI que serve de gerador aos três motores elétricos que desenvolvem 391 cv. Alinha com uma equipa de luxo composta por Stéphane Peterhansel, vencedor de 14 edições entre motos e carros, Mattias Ekström e Carlos Sainz. 

O piloto espanhol está otimista: “O ano passado tinha algumas dúvidas sobre a complexidade do carro elétrico, fomos cautelosos e o rali correu melhor do que esperava. Este ano temos uma equipa de pilotos capazes de vencer e o carro está ao nível dos adversários”, fez questão de frisar. Outra equipa com aspirações a vencer é a BRX Hunter, que utiliza os protótipos com motor a gasolina de 400 cv desenvolvidos pela Prodrive, e que tem em Sebastien Loeb o seu piloto de ponta, ou não tivesse sido campeão do Mundo de ralis por nove vezes! A X Raid apresentou o impressionante Mini John Cooper Works Rally + capaz de brilhar nas dunas e ameaçar a Toyota e Audi. Este impressionante Mini tem motor com 375 cv alimentado com combustível HVO de segunda geração, trata-se de um biodiesel fabricado a partir de gorduras vegetais e garrafas de plástico. Nas motos, a GasGas, que ganhou o ano passado com Sam Sunderland, Honda e KTM vão lutar pela vitória. Rui Gonçalves (Sherco) e Joaquim Rodrigues (Hero) partem determinados a ficar entre os 15 primeiros, enquanto António Maio (Yamaha) e Mário Patrão (KTM) têm como objetivo terminar a prova. A Kamaz tem dominado o Dakar, mas os camiões russos vão estar ausentes uma vez que a marca se recusou a assinar a declaração de condenação da invasão russa à Ucrânia, requisito fundamental da FIA para participar na prova. As duas equipas da Iveco têm caminho livre para a vitoria. O Dakar 2023 pode ser acompanhado no canal Eurosport, que terá um resumo diário às 20 horas.