Braga-Benfica. Rever-te nessa altivez de águia ferida na asa…

A poderosa equipa que Schmidt apresentou na primeira fase da época levou com uma carga de chumbo na Taça da Liga, deixando ao léu a mediocridade de vários jogadores. Dos três objetivos já só restam dois. E parece que ninguém ficou muito aborrecido com isso.

A euforia costuma ser assassina. Entra pelos vasos sanguíneos, percorre a estrutura óssea, avança até ao sistema linfático e transforma um corpo são e seguro num destroço quase sem se dar por ela. Até à interrupção do campeonato para que se disputasse o Mundial do Qatar, os adeptos do Benfica andavam num sino. Não sabiam o que era uma derrota sequer – e continuam sem saber – viam-se empoleirados no topo da tabela da classificação com uma vantagem muito confortável sobre FC Porto e Sporting, eram candidatos à vitória na Taça de Portugal e na Taça da Liga e, como brinde, ainda fizeram uma fase de qualificação de respeito na Liga dos Campeões – já agora deixem-me ser desmancha-prazeres, se for caso disso, mas o Benfica não é candidato a vencer esta prova pelo que não me passa sequer pela cabeça incluí-la nos objetivos da época. 

Depois, de repente, acordaram para a desagradável situação de verem a máquina trituradora que o treinador alemão estava a montar, com um acerto tremendo no encaixe das rodas dentadas mentais que fazia de jogadores na última época menos do que banais em elementos de rijo valor competitivo, fora de uma das tais três competições que pretendiam ganhar. E foi o próprio Schmidt que reconheceu isso ao dizer que gostaria de ganhar a Taça da Liga. Seguramente que não a ganhará porque fracassou por completo numa fase de grupos que colocou os encarnados em liça com Estrela da Amadora, Penafiel e Moreirense. Mais a jeito só por milagre. Não me venham com desculpas de que havia muitos jogadores nas seleções, porque recambio esse argumento diretamente para a cesta secção, como dizia o grande Carlos Pinhão, isto é, para o cesto dos papéis sem préstimo. Era claríssima obrigação, fosse com os jogadores que fossem, ter os encarnados nos quartos-de-final da prova, mas o tombo foi grande e o tiro de caçadeira acertou em cheio numa das asas da águia que precisa urgentemente de recuperar a altivez se não quiser ver este mês de janeiro transformar-se num daqueles infernos húmidos e pantanosos de que falava o Padre António Vieira.

A derrota Desde o início da época que se fazem apostas em relação ao jogo do qual o Benfica vai sair finalmente derrotado. Os seus adversários diretos rezarão por esse momento, os benfiquistas gritarão “abrenúncio!”, mas como diz a velha lei das probabilidades, embora verdadeiramente lei não seja, a cada jogo que passa essa derrota aproxima-se por ser, como é, uma inevitabilidade – ainda está para nascer a equipa invencível! 

Aqui para nós, que ninguém nos ouve, diria sem rebuço e até com uma certa naturalidade que, neste preciso momento, estão criadas todas as condições para que os encarnados percam na Pedreira – e se não se der o caso da derrota, o desperdício de pontos será absolutamente natural. Por diversas razões a ter em conta. A principal das quais ter de voltar a juntar um grupo de jogadores com as cogitações viradas para os lados mais diversos. Imagino que nem Otamendi nem Enzo Fernandez, por exemplo, venham da Argentina com uma vontade louca de se enfiarem outra vez até ao pescoço neste miserável futebolzinho paroquiano, campeões do mundo que são, empanturrados de churrascos comemorativos e com Enzo a deixar claro que só vem cá dar um saltinho para jogar em Brega e que apanhará o primeiro avião de volta a Buenos Aires para continuar a farra – sinceramente, mais valia deixá-lo lá ficar no bailarico até se fartar de vez. Em segundo lugar, percebeu-se que este tempo de paragem baixou drasticamente o instinto predador da águia, fazendo descer o ritmo competitivo e a ambição que tinha mostrado até agora. A forma displicente como a eliminação face ao Moreirense foi comentada, num assumir coletivo de que seria uma prova que não interessaria nem ao Menino Jesus faz-me matutar na forma como alguns dos jogadores encarnados estão a olhar para si próprios – porque se se julgam acima da Taça da Liga e mais competentes para jogar na Liga dos Campeões, é preciso desenganá-los rapidamente, fazendo-lhes recordar que, na sua grande maioria, foram responsáveis pela miserável época passada. Finalmente, a estrutura do clube divulgou publicamente os jogadores que não contam para o resto da época. Ora, sem que alguém tenha vindo para tomar os seus lugares, teria sido aconselhável não os carimbar como refugo. É que alguns deles vão ter de jogar em Braga. Esse tal jogo no qual o Benfica já entra a perder…