Personalidades que partiram em 2022

O ano de 2022 foi marcado por grandes perdas tanto em Portugal como no mundo – desde lendas da música a artistas ou protagonistas da sétima arte, políticos, cientistas, escritores… 

Personalidades que partiram em 2022

Lourdes Castro

8 de janeiro

Dizia que a sua obra era a sua vida. «É como respirar. E faço tudo sem intenção, só porque gosto», revelava ao Expresso, em 2019, mostrando, mais uma vez, a modéstia com a qual falava do seu trabalho. Apesar disso, é irrefutável que Lourdes de Castro  foi certamente uma das mais destacadas artistas portuguesas contemporâneas tendo dedicado toda a sua carreira à exploração das «dimensões secretas da sombra»: «O que me atrai: a sombra não ocupar espaço e guardar a sua presença mesmo desligada do corpo que a projetou», explicava em várias entrevistas a mulher que afirmava que «não fazia arte nem deixava de fazer».

Morreu a 8 de janeiro, aos 91 anos, – na mesma ilha (Funchal) e no mesmo local onde nasceu a 9 de Dezembro de 1930 – deixando uma obra pioneira, que conta com a fundação do grupo artístico e da revista KWY, em França. Dois anos antes, foi galardoada com a Medalha de Mérito da Cultura pelo «contributo incontestável» para a cultura portuguesa.

 

César Batalha

14 de janeiro

Se há quem tenha deixado clássicos que correm o país, César Batalha foi um deles. Por mais que não lhe tenham conhecido o rosto, ou não consigam decifrar o nome, as suas composições acompanham o Natal e o crescimento de todos os portugueses desde o século passado. César Batalha fundou o Coro de Santo Amaro de Oeiras em 1960 e foi responsável pela criação de músicas como A Todos um Bom Natal e Eu vi um Sapo (o maestro esteve à frente do grupo 50 anos e dirigiu mais de 1.200 pessoas).

Armando Gama

17 de janeiro

Em 2021 mostrou-se bastante satisfeito depois de ter recebido um telefonema do i para comentar a 55.ª edição Festival da Canção onde, na final, para além do grupo Black Mamba ter vencido com uma canção em inglês: Love Is on My Side, foi relembrada a liberdade, com músicas alusivas ao 25 de abril, de Zeca Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho: «É bom que se lembrem assim de nós. Pode ligar sempre que precisar!», disse o vencedor da 10.ª edição do concurso, em 1983 (com Esta Balada Que Te Dou). Na altura, ao contrário de outros especialistas na área, mostrava que acompanhava os tempos (já que interrogado sobre o idioma da canção vencedora, admitiu ser apenas ‘um detalhe’): «Não vamos ficar nada beliscados por isso, nem nós, nem o Camões, Eça de Queiroz ou Fernando Pessoa», assegurava, elogiando ainda a música vencedora: «É uma canção 100% pop com o toque dos anos 60, 70!». Morreu no dia 17 de janeiro, no IPO, vítima de doença prolongada, aos 67 anos.

Lauro António

3 de fevereiro

Dizia que lhe era muito difícil perceber de onde vinha a sua grande paixão pelo cinema. Se há pessoas que conseguem identificar filmes que tenham acendido essa «chama», ou lembrar o momento exato onde «a luz se acendeu», Lauro António, dizia que talvez a paixão tivesse nascido com ele e fizesse parte do seu ADN. O realizador que entre outras tantas obras ficou conhecido pelas  das longas-metragens Manhã Submersa, de 1980, O Vestido Cor de Fogo, de 1986 ou Mãe Genoveva, de 1983, morreu no dia 3 de fevereiro, aos 79 anos, na sua casa em Lisboa. Nessa altura, estava a preparar um novo ciclo de programação no espaço cultural Casa das Imagens, em Setúbal – que abriu em 2020, do qual Lauro António era dirigente e que possui boa parte do acervo do cineasta, num total de cerca de 50 mil objetos, entre livros, filmes, fotografias, cartazes, documentos e objetos relacionados com cinema e imagem – dedicado ao antigo cinema Apolo 70, de Lisboa.

Rocha Andrade

28 de fevereiro

Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e com doutoramento na especialidade de Ciências Jurídico-económicas, Rocha Andrade entrou no Governo na segunda legislatura de José Sócrates (2005/2007).  Regressou depois com António Costa, como secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, entre novembro de 2015 e 2017, mas acabou por ter de pedir a demissão na sequência da polémica em torno das viagens da Galp para s jogos da seleção portuguesa de futebol no Europeu de França.  O ex-deputado e antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais morreu no dia 28 de fevereiro, aos 51 anos, de doença prolongada.

Jorge Silva Melo 

14 de março

Passava muito tempo em silêncio e permitia que os seus atores se explorassem sem medo do «erro». Dizia ser aquilo que via, ouvia, aquilo que lhe disseram e aquilo que cumpria ou não. Jorge Silva Melo foi encenador, ator, cineasta, dramaturgo, tradutor e crítico. Conhecido como um «grande intelectual», um realizador e encenador do «Olimpo», precocemente apaixonado pelo cinema e pelas artes,  foi um dos pais do teatro contemporâneo português. Fundou o Teatro da Cornucópia em 1972 e em 1995 a companhia Artistas Unidos, de que era diretor artístico. Numa entrevista ao i, em 2016, contava que antes de entrar para a escola primária já havia aprendido a ler e que, em pequeno, ambicionava ser bispo. Felizmente, a vida levou-o por outro caminho, tendo-se tornado numa das figuras mais importantes da cultura portuguesa.

Gastão cruz

20 de março

«Palavras não existem/fora da nossa voz /as palavras não assistem/palavras somos nós», escrevia em 1999 aquele que foi um dos grandes poetas deste e do século anterior. Gastão Cruz, era licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e é autor premiado de vários títulos de poesia e ensaio. Além disso, em 1975, foi um dos fundadores do grupo Teatro Hoje, posteriormente fixado no Teatro da Graça. Durante a sua vida foi também um dos responsáveis por levar a língua portuguesa a vários cantos do mundo. Por exemplo, entre 1980 e 1986 foi leitor de português no King’s College, em Londres.

 

António Reis

5 de abril

O seu nome ficará para sempre ligado às  memórias e às raízes do eatro no Porto, já que iniciou atividade nos anos de 1960 no Grupo dos Modestos e ingressou depois no Teatro Experimental do Porto, em 1970, onde fez a estreia profissional. Em 1973, juntamente com Júlio Cardoso e Estrela Novais, fundou a Seiva Trupe, onde foi ator, mas também encenador, cenógrafo, diretor de produção e diretor de cena. Fez ainda cinema e televisão, tendo trabalhado, sobretudo, com Manoel de Oliveira. António Reis foi igualmente um dos fundadores do FITEI – Festival de Teatro de Expressão Ibérica. Morreu no dia 5 de abril, aos 77 anos, vítima de doença prolongada.

Eunice Muñoz 

15 de abril

Durante mais de oito décadas foi conhecida, acarinhada e admirada por todos, de norte a sul do país. A sua delicadeza, profissionalismo, sensibilidade e pureza hipnotizavam aqueles que para ela olhavam, quer fosse em cima de um palco, numa tela de cinema, no ecrã de uma televisão, ou simplesmente em entrevistas, onde deliciosamente falava sobre aquilo que ia dentro de si. Nascida na Amareleja, no distrito de Beja, em 1928, a artista completou em Novembro 80 anos de carreira. Morreu vítima de uma paragem cardiorrespiratória no dia 15 de abril no Hospital de Santa Cruz. No seu último espetáculo – A margem do tempo – partilhou o palco com a sua neta Lídia Muñoz, que promete seguir o seu genial legado.

 

Madalena Sá e Costa 

18 de abril

«Quando nasci, creio que se ouvia música por toda a casa», escreveu, em 2008, num livro de Memórias e Recordações. Dormia com a sua irmã no quarto no primeiro andar. Pelas 09h00, já ouvíam o pai tocar piano no andar de baixo. «Acordar assim todos os dias era estupendo. Foi dessa forma que conheci quase todas as obras: muito Beethoven, muito Schubert, muito de tudo», revelava numa entrevista à Antena 2. Seguiu por isso o legado da família, tornando-se violoncelista e pedagoga. Viveu 106 anos, até ter sido diagnosticada com uma infeção pulmonar que a levou «serenamente».

Joaquim Silva Pinto

8 de maio

Desempenhou diversos cargos públicos da área do trabalho, segurança social, reforma administrativa e obras públicas, tendo sido também administrador de várias empresas – na década de 1970 foi ministro das Corporações e Segurança Social, secretário de Estado do Trabalho e Previdência, e responsável pelo Secretariado Nacional da Emigração. Além disso, foi subsecretário de Estado das Obras Públicas no primeiro Governo de Marcelo Caetano, e participante na denominada Primavera Marcelista. Em 1991 aderiu ao Partido Socialista por proposta do então secretário-geral Jorge Sampaio. Morreu no dia 8 de maio, aos 86 anos.

João Rendeiro 

13 de maio

João  Rendeiro foi um banqueiro português, fundador e administrador do Banco Privado Português. No seguimento da falência do banco  e no decurso do caso BPP, João Rendeiro foi investigado pela prática de diversos crimes. Detido a 11 de dezembro na cidade de Durban, na África do Sul, após quase três meses fugido à justiça portuguesa, João Rendeiro acabou por meter fim à vida no dia 13 de maio –  foi encontrado enforcado na cadeia. A morte do ex-presidente do BPP ocorreu quando faltava apenas uma semana para a sessão preparatória para o julgamento do processo de extradição para Portugal, que estava agendado para decorrer entre 13 e 30 de junho. Nascido a 13 de maio de 1952, tinha 69 anos.

 

Jerónimo Pimentel

13 de maio

Foi um profissional que «prestigiou a classe jornalística ao longo da sua intensa vida profissional», lembrou o Presidente da Républica aquando da sua morte em13 de maio, aos 65 anos. Embora licenciado em Direito na Universidade de Coimbra, dedicou assim toda a vida profissional ao jornalismo. Tendo passado pelas redações da Rádio Renascença, nos semanários Semanário, Expresso e O Independente, pertenceu ainda ao grupo fundador do diário Público, nos anos 1990, e foi também editor de Política no Diário de Notícias, em 2005, de onde saiu no ano seguinte para a equipa do semanário Sol.

Padre João Seabra

13 de junho

Era conhecido como o padre que abraçava os defeitos da humanidade. Podia ter sido advogado mas, no final do curso de Direito, onde foi colega de Marcelo Rebelo de Sousa, traçou outro rumo. Dizia que Deus foi chamá-lo, mesmo sabendo do seu mau feitio. «Chamou-me assim para ser padre», explicava em alguma entrevistas. Acompanhou diversos alunos e famílias na Universidade Católica de Lisboa como capelão, nas Equipas de Casais e de Jovens de Nossa Senhora e das comunidades do Colégio de São Tomás, entre muitas outras instituições. Morreu no dia 13 de junho.

Pinto Monteiro

8 de junho

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Pinto Monteiro era o titular do mais alto cargo da magistratura do MPem Portugal quando foram julgados alguns processos polémicos como os da Casa Pia, ‘Apito Dourado’ ou ‘Envelope 9’. Ao longo da carreira, primeiro como delegado do procurador da República em Idanha-a-Nova,  foi depois juiz desembargador no Tribunal da Relação de Lisboa, juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça e Alto Comissário Adjunto na Alta Autoridade Contra a Corrupção. Morreu de cancro a 8 de junho.

Padre Vaz Pinto

1 de julho

Nascido em Arouca a 2 de junho de 1942, foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de Jesus, entre as quais se destacam os Leigos para o Desenvolvimento, em1986, o Centro São Cirilo, em 2002, no Porto, e o Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega, de 1975 a 1984, em Coimbra, e mais tarde o Centro Universitário Padre António Vieira , de 1984 a 1997, em Lisboa. Jesuíta e Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre os anos 2002 e 2005, morreu devido a um tumor pulmonar.

Paula Rego 

8 de junho

Pintava aquilo que lhe doía e arranhava. Dizia que o medo vivia consigo todos os dias. Começou a desenhar aos quatro anos debaixo da mesa e, nessa altura, ninguém a elogiava. Paula Rego pintou a vida, fez tremer muitos com a sua franqueza e irreverência e conquistou outros com as suas telas que nunca foram nada a mais do que histórias que a alimentavam. Inspirava-se, por isso, em coisas que nada tinham que ver com a arte: jornais, pequenas esquinas de ruas, provérbios, jogos infantis, canções, pesadelos, desejos, medos. A mais reputada artista portuguesa a nível internacional, morreu aos 87 anos, vítima de curta doença.

 

Maria de Lourdes Modesto

19 de julho

Pioneira dos programas de culinária na televisão, onde chegou por acaso, tornou-se a grande referência da cozinha portuguesa e sua acérrima defensora. Em 1982 publicou Cozinha Tradicional Portuguesa – com cerca de 800 receitas, o livro de culinária mais vendido de sempre entre nós. José Quitério, o respeitadíssimo crítico gastronómico, chamou-lhe «uma das cada vez mais raras Guardiãs do Fogo». Morreu no dia 19 de julho.

Ana Luísa Amaral

5 de agosto

Foi uma das vozes poéticas que marcaram o final do século XX e o início deste século. Autora de uma obra que adquiriu grande consistência como uma das mais representativas da escrita poética contemporânea, Ana Luísa Amaral era uma figura celebrada, distinguida com prémios vindos dos mais diversos quadrantes. Em pequena era vista como «uma menina é inteligente, mas muito indisciplinada». Especializada em Poéticas Comparadas, Estudos Feministas, Estudos Queer, foi professora Associada no Departamento de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras do Porto e ainda tradutora. Os seus livros? São feitos de tudo e para todos. Tanto escreveu para adultos como para crianças e, com certeza, o país não deixará que o seu nome desapareça.

Almeida Bruno

10 de agosto

«O General João de Almeida Bruno honrou, em todas as circunstâncias, os valores militares e o Exército que devotadamente serviu, afirmando-se pelas suas qualidades de liderança e exemplo a seguir, tendo marcado sucessivas gerações pela sua coragem, assim como pela clarividência e sagacidade que o relevaram ao longo de uma brilhante carreira», sublinhou o Exército aquando da morte de Almeida Bruno, lembrando que este exerceu os mais elevados cargos, como de comandante do Batalhão de Comandos da Guiné, comandante da Academia Militar, diretor da Arma de Cavalaria, comandante-geral da Polícia de Segurança Pública, entre muitos outros cargos.  Morreu vítima de complicações associadas a uma pneumonia, no dia 10 de agosto.

Fernando Chalana

10 de agosto

Considerado  o «Pequeno Genial»  do Benfica, ingressou no clube aos 15 anos e representou-o, primeiro como jogador, durante 13 épocas (1974-1984 e 1987-1990), e, depois, durante largos anos, como elemento técnico ligado ao futebol.  Ficou sempre conhecido pelas suas parecenças físicas com a personagem de banda desenhada Asterix e Obelix, sendo algumas vezes chamado de «Chalanix».

Vítor Aguiar e Silva

12 de setembro

Prémio Camões em 2020, era um nome central dos estudos camonianos e autor de uma Teoria da Literatura estudada por sucessivas gerações de universitários. Deve-se-lhe ainda, entre muitas outras coisas, a coordenação de um fundamental Dicionário de Luís de Camões, publicado em 2011, onde conseguiu reunir os mais importantes investigadores portugueses e estrangeiros da obra camoniana. Coordenou ainda Comissão Nacional de Língua Portuguesa (CNALP), foi membro do Conselho Nacional de Cultura e foi ainda foi um dos signatários da petição Em Defesa da Língua Portuguesa contra o Novo Acordo Ortográfico. Morreu aos 82 anos.

Adriano Moreira 

23 de outubro

Não foi  apenas um dos nomes fundamentais da política portuguesa, foi também uma personalidade inconfundível do mundo académico, da advocacia e do humanismo em Portugal. Esteve preso com Soares no Aljube, adaptaria mais tarde o luso-tropicalismo a ideologia oficiosa, ajudando a maquilhar o período final do colonialismo português enquanto ministro de Salazar. Gabava-se de ter dado uma resposta torta ao ditador, saindo em rutura. Saneado após o 25 de Abril, exilou-se no Brasil, mas voltou para liderar o CDS e para ser elevado a herói nacional. Morreu aos 100 anos, no dia 23 de outubro.

 

Daniel Batalha

Henriques

4 novembro

Natural da freguesia de Santo Isidoro, Mafra, Daniel Batalha Henriques foi ordenado padre em 1 de junho de 1990, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Em junho de 2018 foi nomeado, pelo Papa Francisco, bispo auxiliar de Lisboa, tendo recebido a ordenação episcopal em 25 de novembro desse ano. Morreu devido a doença oncológica, depois de algum tempo internado numa unidade de cuidados paliativos.

António da Cunha Telles

23 de novembro

Foi a cabeça por trás  do conhecido filme O Cerco, nos 1970. Porém,  a sua ligação à sétima arte e à emergência e uma nova expressão da mesma remonta ao início da década de 60, com a produção de filmes fundadores do Cinema Novo português. Filho de um advogado português e de uma cantora lírica dinamarquesa, começou a fazer filmes no Funchal, ainda em adolescente (o jovem tencionava estudar Medicina em Lisboa, mas acabou por mudar de rumo). Em Paris, cidade que escolheu para estudar realização,  cruzou-se com Paulo Rocha, com quem fez nascer Os Verdes Anos. Morreu aos 87 anos.

Fernando Gomes

26 de novembro

Fernando Gomes, ou o ‘bibota’, como era conhecido por muitos,  fez quase toda a sua carreira com a camisola azul e branca – com exceção de quatro temporadas – duas nos espanhóis do Sp. Gijón e as outras duas no Sporting. Estreou-se pela equipa principal dos dragões em 1974/75. E por lá ficou até 1980. Voltou dois anos depois e voltou a partir já no final de 1989,  para o Sporting, onde terminou a carreira em 1991. Foi um dos maiores goleadores da sua geração, tendo sido ‘Bota de Ouro’ dos campeonatos europeus em 1982/83 e em 1984/85. Morreu em novembro aos 66 anos, vítima de um enfarte.

João Semedo

30 de novembro

O seu lema «Somos Aquilo que Fazemos!» foi multiplicado nos últimos anos em vários espaços sociais, com o objetivo de mostrar que «são as ações de cada um que constroem aquilo em que a pessoa se torna». Trabalhou com crianças e jovens de bairros carenciados da zona da Grande Lisboa, que inspirou e apoiava através de atividades desportivas sociais, tendo ficado conhecido por assumir a sua passagem pela prisão e fazer disso uma lição de vida a transmitir. Através da criação da Academia do Johnson, realizou ainda várias palestras, onde contou o seu percurso, explicando aos mais jovens que o crime não compensa e que o futuro passa pela educação e pelo desporto, como o futsal, modalidade em que era jogador e treinador. Morreu aos 50 anos, devido a problemas de saúde.

Fernando Pádua 

8 de dezembro

Queria viver até aos 120 anos alegre, ativo e saudável, mas a saúde faltou-lhe aos 95. O médico do laço, tal como era conhecido, que tanto fez pelo nosso bem-estar, deixou-nos este mês depois de várias semanas hospitalizado devido a uma queda que sofreu.  Professor na Faculdade de Medicina de Lisboa, notabilizou-se pela excelência do seu trabalho, mas também pelas esclarecedoras e didáticas intervenções sobre hábitos de vida saudável que fazia tanto na televisão como na rádio e jornais. Cumprindo um dos seus desejos de estudante, criou a Fundação Portuguesa de Cardiologia cuja missão era alertar para a prevenção e educação na saúde, travando uma luta feroz contra o tabagismo e o abuso do sal,  curiosamente nunca bebeu álcool, mas fumou até aos 35 anos.

Evaristo Cardoso 

20 de dezembro

Evaristo Cardoso era uma figura muito conhecida e respeitada na sociedade portuguesa, com o seu restaurante a ser frequentado por grandes figuras nacionais e internacionais que vão desde atores de cinema e teatro, aos jogadores de futebol, cantores, humoristas e políticos. As provas estão ainda hoje expostas pelas paredes do Solar dos Presuntos, que carregam rostos conhecidos como os de Cristiano Ronaldo, do fadista Carlos do Carmo, dos Scorpions,  e Jorge Jesus (que lá ia jogar às cartas com o proprietário). Juntamente com a esposa, Graça, e o seu irmão Manuel, naturais de Monção, abriram um dos restaurantes mais emblemáticos da cidade de Lisboa: o Solar dos Presuntos. Inicialmente, era uma pequena sala, com lugar para atender seis clientes ao balcão e mais 12 à mesa. Hoje, com a ajuda do seu filho, Pedro Cardoso, o espaço conta com 180 lugares distribuídos por cinco salas. Criou assim de um restaurante um mundo. Morreu este mês aos 80 anos.

António Mega Ferreira

26 de dezembro

Dizia ser uma pessoa solar, vendo sempre «o lado diurno da vida».  Foi homem de múltiplos ofícios, talentos e paixões. Embora seja  conhecido principalmente por ter sido o mentor da Expo 98 – o ponto culminante do seu percurso, que descrevia como «o período mais intenso do ponto de vista profissional», Mega Ferreira fez muitas outras coisas ao longo da vida. Foi jornalista, cronista, gestor cultural que presidiu ao CCB, adepto ferrenho do Benfica e escritor, tendo escrito sobretudo poemas, biografias, crónicas, livros de viagens e ensaios. Morreu este mês aos 73 anos.

Linda de Suza

28 de dezembro

Uma portuguesa em França desde os anos 70, um sucesso que virou esquecimento… Linda de Suza, como era conhecida no meio artística, durante vários anos e graças aos seus êxitos, como Mala de Cartão, conquistou fãs tanto aqui como além fronteiras, ganhando milhões de francos com a voz. Porém, no final dos anos 1990, já tinha perdido quase tudo e não se importava de falar sobre isso. A última fase da sua carreira foi marcada por sérias polémicas: em 2010, por exemplo, a cantora da comunidade emigrante portuguesa acusou o companheiro de lhe roubar a identidade; na época, afirmou que vivia com cerca de 400 euros mensais. Deixou-nos este mês na sequência de uma infeção por covid-19. Contudo, o país nunca esquecerá a sua singular voz que cantou também o Malhão, Malhão.

Sidney Poitier

6 de janeiro

Não foi porteiro, mas o legado de Sidney Poitier pode muito bem ser associado à sua capacidade para abrir portas. Ao tornar-se o primeiro ator negro a vencer um Óscar, pela sua performance no filme Os Lírios do Campo (1963), o charmoso e elegante ator norte-americano abriu as portas de Hollywood a muitos atores afro-americanos. Apelidado o ‘Martin Luther King dos filmes’ pela revista Variety, ao quebrar o estereótipo do papel que artistas negros ocupavam no cinema, em filmes como No Calor da Noite (1967) ou Adivinha Quem Vem Jantar (1967), tornou-se uma das figuras mais importantes do século XX em Hollywood.

 

Elza Soares

21 de janeiro

Considerada a Voz do Milénio pela BBC, em 1999, a ‘Mulher do Fim do Mundo’, Elza Soares, uma da mais influentes e inovadoras artistas do Brasil, faleceu no início do ano de causas naturais. Surgindo de um meio pobre, começou a chamar a atenção aos 21 anos, num concurso musical de uma rádio, numa altura em que já era viúva, tinha quatro filhos e dois que tinham morrido de desnutrição. A brasileira, que usava um vestido da sua mãe, que tinha mais vinte quilos, conseguiu a pontuação mais alta e desde então nunca mais olhou para trás. Após a sua morte, Caetano Veloso afirmou que Elza «foi uma concentração extraordinária de energia e talento no organismo da cultura brasileira».

 

Luc Montagnier

10 de fevereiro

Galardoado com o Prémio Nobel da Medicina de 2008, o virologista francês foi um dos responsáveis, juntamente com Jean-Claude Chermann e Françoise Barré-Sinoussi, pela descoberta do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), em 1983. Contudo, nos últimos anos da sua vida, Montagnier tornou-se uma figura controversa, nomeadamente ao afirmar que o novo coronavírus da covid-19 foi fabricado acidentalmente num laboratório chinês.

 

Lygia Fagundes Telles

3 de abril

A ‘dama da literatura brasileira’, deixa um reportório de obras como Ciranda de Pedra (1955), Antes do Baile Verde (1970) ou As Meninas (1973), que a elevam ao estatuto de uma das mais importantes escritoras da história do Brasil. Lygia Fagundes Telles, vencedora do Prémio Camões em 2005, retratava nas suas obras temas como a morte, o amor, o medo, a loucura e a fantasia, mas, acima de tudo, assumia-se como «uma escritora do terceiro mundo, atenta às desigualdades».

vangelis

19 de maio

Criador da futurística banda sonora de Blade Runner (1982) e da icónica música do filme Momentos de Glória (1981), que lhe valeu o Óscar de melhor banda sonora original, o compositor grego é considerado um dos mais talentosos músicos de todos os tempos. Evangelos Odysseus Papathanassiou, que também fez parte do grupo de rock progressivo Aphrodite’s Child, com o aclamado vocalista Demis Roussos, será recordado pelos contemplativos e belos sons que emergiam dos seus sintetizadores. «O que precisamos hoje, mais do que nunca, é investir na beleza, mas investimos no caos porque é muito mais lucrativo do que a paz. Nada em nosso redor é voltado para a beleza. Tudo está destruído. E a beleza é um voto de segurança para as pessoas», disse o compositor numa entrevista.

josé eduardo dos santos

8 de julho

Foi Presidente de Angola durante mais de 37 anos, no entanto, José Eduardo dos Santos é uma figura que não reúne consenso. Se entre os seus mais fervorosos apoiantes era defendido como um histórico da Guerra de Libertação Nacional, contra o império português, e um pacificador, que colocou fim a 27 anos de guerra civil com a UNITA, os seus opositores acusavam-no de ser um tirano e o arquiteto de um sistema corrupto que ainda marca Angola, um dos países mais desiguais do planeta. Abandonou o cargo de Presidente em 2017. Antes de morrer, em Barcelona, onde há muito estava a receber tratamentos, disse que preferia ser recordado de uma forma mais simples: «Como um bom patriota».

Shinzo Abe

8 de julho

O homem que ocupou o cargo de primeiro-ministro durante mais tempo na história do Japão teve uma das mortes mais brutais do ano, assassinado enquanto discursava. O autor dos disparos foi um homem que culpava Abe pela morte da sua mãe. Figura polarizadora da política japonesa, ora recebeu elogios na área económica, nomeadamente pelas suas Abenomics, medidas assentes no mercado livre que ajudaram a impulsionar a economia do Japão, enquanto as suas posições conservadoras e nacionalistas causaram quezílias entre a comunidade internacional, nomeadamente quando negou a existência de trabalhadoras sexuais contratadas pelo exército japonês na Segunda Guerra Mundial.

 

Jô Soares

5 de agosto

Fez rir milhões de pessoas, entre o Brasil e Portugal. O humorista, ator e apresentador, que faleceu de causas naturais, foi uma das figuras mais importantes e reconhecidas da televisão brasileira tendo nos seus programas, como Jô Soares One e Meia (1988 -1999) ou o Programa do Jô (2000-2016), entrevistado grandes figuras como os músicos Roberto Carlos, Gal Costa, Gilberto Gil, Milton Nascimento ou Caetano Veloso, fenómenos mais recentes como Anitta ou Shakira, o lendário futebolista Pelé, o realizador de Padrinho e Apocalipse Now, Francis Ford Coppola, e até portugueses, como Ricardo Araújo Pereira ou Nuno Markl. Com um sentido de humor que o tornou uma figura internacional, Jô Soares era uma das figuras mais acarinhadas da cultura pop do Brasil. «Nunca faça graça de graça. Você é humorista, não político».

Mikhail GORBACHoV

30 de agosto

Foi o último chefe de Estado da União Soviética e um dos principais ‘arquitetos’ do fim da Guerra Fria, o que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz, em 1990. Mikhail Gorbachov morreu aos 91 anos, vítima de doença prolongada. Considerado por alguns um herói, por ter conduzido o país ao fim da Cortina de Ferro e a uma abertura à comunidade internacional, houve também quem nunca o perdoasse por esta ‘traição’, descontentamento que acabou por levar a um golpe de Estado por parte de marxistas-leninistas radicais que não deixaram mais nenhuma opção a Gorbachov que não afastar-se do poder. Na reforma, haveria de engordar e ficar com o rosto inchado. Para o seu penúltimo livro, escolheu o título Continuo um Otimista.

rainha Isabel II

8 de setembro

Esteve no poder mais de 70 anos, tornando-se a protagonista do reinado mais longo do Reino Unido e quase um sinónimo do seu país, a Rainha Isabel II faleceu em setembro deste ano de causas naturais, fazendo o mundo parar para ver o seu funeral, um evento visto por mais de 28 milhões de pessoas. Apesar de ser uma figura que divide opiniões, nomeadamente entre os que se opõem à monarquia, protagonizou diversos momentos clássicos, nomeadamente, quando, recebendo o Rei Abdullah, da Arábia Saudita em Balmoral, o levou a dar uma volta pela propriedade e assumiu o lugar do condutor, dando boleia ao homem que liderava um país onde as mulheres estão proibidas de conduzir.

 

Jean-Luc Godard

13 de setembro

Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Brian De Palma, Steven Soderbergh, Robert Altman, Jim Jarmusch, Wong Kar-wai, Wim Wenders, Bernardo Bertolucci, ou Pier Paolo Pasolini, todos estes icónicos realizadores têm umponto em comum: consideram o francês Jean-Luc Goddard uma influência para o seu trabalho. Com inovadoras técnicas, como o ‘jump cut’, o irreverente trabalho do realizador e a sua vontade de quebrar as regras mudou para sempre a história do cinema e influenciou incontáveis gerações de cineastas e os seus filmes. «Nós invadimos o cinema como homens das cavernas na Versalhes de Luís XIV», disse Godard, citado pelo Washington Post.

 

Gal costa

9 de novembro

A voz magnética de canções como Pontos de Luz, mas também de belas baladas como Força Estranha, Gal Costa, que faleceu aos 77 anos, nasceu no seio de uma família humilde, mas superou todas as dificuldades para se tornar uma das maiores divas e artistas da história do Brasil. «Desde pequena, quando vivia na Bahia, eu queria ser cantora. Segui a intuição. Saí de lá com dinheiro emprestado de um primo, fui para o Rio, passei dificuldade. Mas era uma missão, que é como encaro o meu trabalho. Faço bem às pessoas por meio da música».