Ucrânia. Zelensky espera mais ataques com drones iranianos

Kiev garante que as suas defesas aéreas pela primeira vez abateram todos os drones lançados por Moscovo, duas noites consecutivas

Volodymyr Zelensky avisou que o Kremlin, por falta de avanços no campo de batalha, pretende deixar a Ucrânia exausta. Mas as suas Forças Armadas gabaram-se de estar a conseguir impedir isso, anunciando que desde setembro abateram quase quinhentos drones lançados pelos russos. E que, por duas noites consecutivas, conseguiram derrubar vagas inteiras de drones iranianos baratos antes que estes atingissem os alvos. Já a ofensiva em Bakhmut, liderada pelos mercenários da Wagner, com ondas sucessivas de assaltos por pequenas unidades de recrutas à força, parece ter finalmente parado.

Isso não significa que os ataques aéreos do Kremlin deixem de ser perigosos, tendo Kiev sofrido de escassez de energia ainda esta terça-feira. “Temos que garantir, e faremos tudo para isso, que este objetivo dos terroristas falhe como todos os outros”, apelou o Presidente da Ucrânia. “Este é o momento em que todos os envolvidos na proteção dos céus devem estar particularmente atentos”, alertou.

O aumento dos ataques aéreos russos contra a infraestrutura civil tendem a coincidir com os desaires no campo de batalha. E dificilmente poderia haver um desastre mais notório que o ataque ucraniano com mísseis de longo alcance HiIMARS contra um quartel russo em Makiivka, em Donetsk. Os militares ucranianos falam em 400 tropas inimigas mortas, o Kremlin em 63 – e dado que as baixas raramente são admitidas pelo regime de Vladimir Putin, isso foi lido como um sinal de que o desastre foi demasiado terrível para que o pudessem ignorar – e bloggers nacionalistas russos, ainda mais extremistas que Putin, falam em centenas de mortos. Causando uma enorme revolta na Rússia.

Até se viu marchas para comemorar os mortos, como em Samara, uma cidade à beira do Volga, de onde vinham algumas das tropas abatidas. “Não dormimos há três dias, Samara não dormiu”, lamentou Yekaterina Kolotovkina, uma representante do conselho de mulheres de militares, à agência russa RIA. “Estamos constantemente em contacto com as mulheres dos nossos tipos. Tem sido muito duro e assustador”.

Os comandantes russos “não querem saber”, queixou-se o blogger Archangel Spetznaz Z, que tem mais de 700 mil seguidores no Telegram. “Quem é que teve a ideia de colocar pessoal em grande número num único edifício, onde até um tolo compreende que mesmo que só fossem atingidos com artilharia haveria muitos feridos ou mortos?”, continuou, havendo relatos de que as tropas russas mortas estavam aquarteladas junto com as suas munições.

Para agravar a fúria dos nacionalistas russos, a resposta do Kremlin, com vagas de drones, parece ter falhado. “84 drones foram derrubados em dois dias, na véspera de Ano Novo e no dia seguinte. Foram 100% abatidos pelas forças de defesa aérea. Tais resultados nunca foram obtidos antes”, gabou-se Yuriy Ignat, porta-voz da Força Aérea, perante as câmaras de televisão, citado pela agência estatal Ukrinform.

A expectativa é que a capacidade de defesa aérea ucraniana só venha a aumentar. Além de os seus militares estarem a ganhar prática ainda contam com a oferta de pelo menos uma bateria de mísseis Patriot, ainda só deva chegar à Ucrânia daqui a meses, além do tempo que demora a treinar artilheiros para a utilizar. Algo que eventualmente tornará menos eficaz os mísseis balísticos de curto e médio alcance que Moscovo estará a negociar comprar ao regime de Teerão.