Por João Sena
Um estudo do Portugal Football Observatory analisou ao ‘raio X’ os golos marcados no último Mundial. Este relatório mostra o número médio de golos por jogo, a importância do primeiro golo no resultado final e a forma como os golos foram marcados. Concluiu ainda que há mais golos resultantes de jogadas coletivas, e que a fase de grupos foi a mais produtiva de sempre em golos. Posto isto, podemos dizer que o mal amado Campeonato do Mundo do Qatar foi, em campo, uma competição exemplar. O documento permite, igualmente, fazer uma comparação com o que aconteceu nos últimos 20 anos, ou seja, entre o Mundial de França de 1998 e o Mundial da Rússia em 2018, nesses seis torneios marcaram-se 964 golos. O Mundial de 1998 foi o primeiro com 32 seleções, o que ainda hoje se mantém, mas o campeonato de 2026, a realizar nos EUA, Canadá e México, terá 48 países.
Com o número mágico de 172 golos marcados em 64 jogos, média de 2,69 golos por jogo, o mundial árabe fica na história como o mais concretizador de sempre graças ao eficaz processo ofensivo da maioria das seleções, apenas seis jogos terminaram sem golos. A fantástica final entre a Argentina e a França com seis golos (3-3) contribuiu decisivamente para atingir um novo recorde, já que em França 1998 e Brasil 2104 foram marcados 171 golos. Portugal contribuiu para a festa ao apontar 12 golos nos cinco jogos realizados. Aspeto relevante deste Mundial foi a importância das combinações coletivas nas jogadas que deram golo. Enquanto nos torneios anteriores, as jogadas combinadas resultaram em 26% dos golos, neste campeonato a sua importância subiu para 38%, ou seja, 65 golos nasceram de combinações coletivas. Em contrapartida, os erros individuais que ofereceram o golo ao adversário foram em menor número, apenas 2%, quando antes eram de 5%, o mesmo aconteceu nos golos marcados de bola parada (cantos e livres diretos e indiretos).
Só pensam na baliza É interessante verificar a posição que ocupam em campo os marcadores dos golos. Os avançados puxaram dos galões e marcaram 116 dos 172 golos, o que significa um aumento de 8% relativamente à média dos anteriores mundiais. Neste particular, destaque para o francês Mbappé que festejou oito golos, e foi o melhor marcador do campeonato. Já os médios perderam a veia goleadora e festejaram apenas por 34 vezes, e a sua eficácia baixou 7%, os defesas mantiveram o registo anterior de 22 golos marcados, o que significa uma concretização de 6%.
Uma vez mais, foram marcados mais golos com o pé direito (84) do que com o pé esquerdo (55), mesmo assim apareceram mais esquerdinos a marcar do que nos campeonatos anteriores (+5%). Os golos de cabeça foram apenas 27 (-3%). As equipas foram mais rigorosas no processo defensivo e existiram apenas dois autogolos nesta competição, o que representa 1% do total, também aqui se registou uma melhoria, já que a média de autogolos dos últimos campeonatos foi de 3%.
De salientar que a confederação europeia foi responsável por 60 golos, o que representa 52% do total, e foi também a única que manteve a tendência de distribuição dos golos pelas posições em campo, ou seja, os avançados foram os que marcaram mais, seguido pelos médios e defesas. Nas seleções pertencentes às confederações de África, Ásia e Oceânia e América do Norte e Central, os defesas marcaram tantos ou mais golos do que os médios neste campeonato, o que não deixa de ser invulgar.
Este Mundial confirmou que a grande área continua a ser o espaço privilegiado para a concretização. Dos 172 golos obtidos, 127 foram marcados na área de rigor, o que significa um aumento de 12%. Curiosamente, esse aumento correspondeu a uma diminuição para metade dos golos obtidos de fora da área, que foram apenas 12, tendo igualmente diminuído para 33 os golos marcados na pequena área.
Este campeonato teve jogadas que foram autênticos hinos ao futebol, mas os rasgos individuais não foram os que tiveram maior sucesso, este tipo de jogada resultou em 20% dos golos enquanto nos mundiais anteriores foi de 25%.
Este foi também o Mundial onde os guarda-redes estiveram em evidência ao defender os sempre ingratos pontapés de grande penalidade. Dos 16 jogos da fase final, cinco foram decididos nos penaltis. Das 41 tentativas, 31 foram convertidas com êxito e 10 desperdiçadas, sendo que em sete ocasiões os guarda-redes defenderam e nas outras três a bola nem sequer foi à baliza. A Espanha ficou com o pior registo ao falhar três grandes penalidades no jogo, dos oitavos de final, contra Marrocos que ditou o seu afastamento da competição. Esta é uma triste sina de Espanha, que tinha sido eliminada da mesma forma no Mundial de 2018 e no Euro 2020.
Fase de grupos animada O número de jogos equilibrados na fase de grupos (90%) foi superior à média das últimas cinco edições (85%). As 48 partidas desta fase tiveram uma média de 2,5 golos por jogo. Marcar é sempre bom, mas marcar primeiro pode ser determinante como se verificou no Qatar. Em 88% dos jogos que tiveram um ou mais golos quem marcou primeiro venceu a partida, sendo que em 47% desses encontros o golo inaugural aconteceu ainda na primeira parte.
Os minutos finais de cada uma das partes foram mais produtivos na fase a eliminar do que na fase de grupos. A partir dos oitavos de final, os últimos 15 minutos da primeira parte foi o período onde se marcaram mais golos (43). De notar que nos 16 jogos finais nenhum chegou ao intervalo empatado a zero. Na fase a eliminar a derrota significava o adeus ao Mundial. Por essa razão, os jogos foram menos equilibrados do que no passado (75% contra 83%). Como o empate não servia a ninguém, as equipas arriscaram mais quando sentiam que estavam por cima do jogo e, por isso, não houve tanto equilíbrio, a maioria dos jogos decidiu-se sem recurso a prolongamento. Os oitavos de final ficaram para a história como a fase mais goleadora do Mundial de 2022, com uma média de 3,5 golos por jogo em cada uma das oito partidas. Quando analisamos os golos por jogo chegamos à conclusão que a final tem um número de golos (6) superior ao dobro da média das cinco finais anteriores (2,5), é a prova de que foi a melhor final desde 1998 senão mesmo de todos os tempos.