A taxa de inflação começa a dar alguns sinais de alívio e os especialistas admitem que poderemos vir a assistir a um crescente abrandamento do aumento dos preços ao longo do ano e que o pico poderá ter passado. Em causa estão os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) que ainda esta quarta-feira confirmou que a inflação recuou em dezembro pelo segundo mês consecutivo. A taxa de inflação foi de 9,6% e o abrandamento é explicado pelo alívio nos preços da energia e dos alimentos não transformados.
“Em termos mensais, a inflação caiu 0,3% em dezembro relativamente ao mês de novembro, corroborando as perspetivas de uma inflação bastante mais baixa este ano relativamente à forte subida do ano passado. É muito provável que o pico da inflação tenha já passado. Em termos homólogos, os 10,1% verificados em outubro de 2022, terão sido com alguma certeza o pico do atual fenómeno inflacionista, o mais elevado dos últimos 29 anos”, diz Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, lembrando que a inflação mensal tem abrandado consecutivamente desde o máximo de 2,5% em abril do ano passado, impulsionada nessa altura pelos primeiros efeitos negativos da invasão russa da Ucrânia.
Já para Nuno Mello, analista da XTB, apesar de reconhecer este recuo chama a atenção para o facto de a “taxa de inflação dos preços no consumidor em Portugal ter sido confirmada em 9,6% numa base anual em dezembro de 2022, face aos 9,9% no mês anterior, a primeira queda mensal em quatro meses, mas ainda assim, manteve-se perto do máximo de 10,1% registado a 30 de outubro e muito acima do objetivo do Banco Central Europeu de 2%”.
O responsável nota ainda que os preços aumentaram a um ritmo mais lento para os transportes e restaurantes e hotéis, e, em menor medida, para a habitação e serviços públicos e alimentos e bebidas não alcoólicas (19,9% vs 20%). Por outro lado, a inflação aumentou para a recreação e cultura (3,8% vs 3,3%), vestuário e calçado (1,6% vs 1,4%) e bens e serviços diversos (3,2% vs 2,9%). Entretanto, a taxa central, que exclui alimentos não transformados e produtos energéticos, aumentou ainda mais para um máximo de 7,3% ao longo de 29 anos.
Também Paulo Rosa diz que “atual inflação em Portugal teve a sua génese a montante da cadeia de valor, nomeadamente nos preços das matérias-primas, sobretudo da energia. É uma inflação maioritariamente do lado da oferta. Se os preços dos bens têm subido mais do que os dos serviços, então a cadeia de valor a jusante não apresenta uma generalização tão significativa e preocupante da inflação. Na realidade foram os preços dos alimentos e da energia que mais pressionaram a inflação, sobretudo no seu início”.
E daí acreditar que um potencial abrandamento dos preços das matérias-primas nos próximos meses, em resultado da política monetária restritiva dos bancos centrais e consequente desaceleração económica, resultará num forte abrandamento dos preços dos bens e, deste modo, da inflação em Portugal para perto da estabilidade de preços.
Abrandamento na mira
Nuno Mello defende que a taxa de inflação em Portugal se situe em 9,00% até ao final deste trimestre e “deverá ir caindo ao longo do ano com as quedas previsíveis do consumo nos setores que até agora têm impedido a inflação de cair mais, tais como a recreação e cultura, vestuário e calçado e bens e serviços diversos”. Já a longo prazo aponta para cerca de 3,20% em 2024 e 1,20% em 2025.
Também Paulo Rosa admite que a inflação em Portugal não está tão generalizada como em outras geografias e revelam ainda um abrandamento da mesma alta de preços e uma eventual tendência de desaceleração nos próximos trimestres. “U m potencial abrandamento dos preços das matérias-primas nos próximos meses, em resultado da política monetária restritiva dos bancos centrais e consequente desaceleração económica, resultará num forte abrandamento dos preços dos bens e, deste modo, da inflação em Portugal para perto da estabilidade de preços”.