Que não sejamos nós os agressores. Não nos tornemos criminosos

As irracionais ameaças de confronto nuclear, a crença de que a força é direito, o desprezo gélido por todos os princípios básicos de proteção humanitária, os mísseis despejados sobre civis e populações indefesas é de uma enorme gravidade.

Vivemos (ou estamos a viver) uma pandemia, uma guerra na Europa, uma crise energética, uma espiral inflacionista, a disrupção das cadeias logísticas, o retrocesso da globalização, o aumento da intolerância e dos extremos políticos, o recuo das democracias e uma tragédia humanitária com refugiados à procura de paz, segurança e esperança, deslocados de África, do Médio Oriente, da Ásia Central e de todos os pontos do planeta onde a dignidade humana está sob ataque.  
Estamos a atravessar um ponto de rutura permanente. As placas tectónicas da nossa civilização estão em colisão e as consequências deste terramoto estão longe de ser conhecidas. 

As irracionais ameaças de confronto nuclear, a crença de que a força é direito, o desprezo gélido por todos os princípios básicos de proteção humanitária, os mísseis despejados sobre civis e populações indefesas é de uma enorme gravidade.  No entanto, não basta só olharmos e apontarmos o dedo para tudo o que está a acontecer quando nós também somos agressores. Esta situação é quase uma convocatória para percebermos que também nós temos de mudar. Temos muito truque e nenhuma estratégia. 

E isto reflete-se, infelizmente, no número de casos de violência doméstica no nosso país e no mundo que contínua a ser muito elevado. Só no concelho de Cascais registam-se anualmente entre 400 a 500 situações de violência doméstica reportadas às forças de segurança, que envolvem igual número de crianças e jovens. Esta é uma realidade intolerável, transversal a toda a sociedade mas à qual não viramos nem podemos virar as costas. Marcamos presença no apoio a todas as vítimas envolvidas neste flagelo e repudiamos todos os comportamentos violentos na nossa comunidade e nas nossas famílias. 

Precisamos de um combate permanente e persistente. E por isso, o município de Cascais assumindo o seu papel de liderança a nível local, na congregação de esforços e na criação de respostas adequadas para minorar e prevenir os efeitos nefastos deste tipo de violência investiu mais de 1 milhão de euros nos últimos anos. 

Este investimento garante o funcionamento de dois serviços especializados de apoio a vítimas; alojamentos de transição; um programa de intervenção com agressores conjugais; projetos de prevenção em contexto escolar; qualificação de profissionais e desenvolvimento de campanhas de informação e sensibilização. 

A Câmara de Cascais garante, no terreno, através da coordenação do Fórum Municipal contra a Violência Doméstica, a concertação dos diversos setores relevantes para combater este crime: forças de segurança, justiça, reinserção social, saúde, educação e área social. Esta é uma experiência de trabalho em rede pioneira a nível nacional e reconhecida como um exemplo de intervenção municipal.

Enquanto houver vítimas de violência doméstica, não desistimos deste combate até atingirmos a nossa visão: um território sem violência doméstica, onde os direitos fundamentais estejam sempre garantidos. 

Aproveito para deixar o apelo a pessoas que forem conhecedoras deste tipo de situações, que as denunciem, ao não denunciarem estão a ser cúmplices de um crime e por isso serão responsabilizados penalmente pelo mesmo. Têm o dever cívico e jurídico de evitar esse resultado. Esta é das situações que pontuamos como mais graves no nosso concelho.