A crise económica e a crise energética são alguns dos temas que vão merecer esta semana a atenção do Fórum Económico de Davos. A estes desafios junta-se a proposta da Oxfam, que defendeu um aumento dos impostos sobre multimilionários. Contactado pelo i, João César das Neves diz que não espera de grandes surpresas. “Davos nasce da hipótese de que os ricos e famosos são espertos e, por isso, vale a pena ouvi-los. Não discuto a hipótese, mas de Davos nunca espero nada. Parece-me uma feira de vaidades com pouco impacto relevante”.
Já Henrique Tomé, analista da XTB, acredita que “os temas falados na edição anterior vão voltar a ser mencionados nesta edição”, acrescentando que “os desafios com a sustentabilidade e com a necessidade de se adotar modelos nesse sentido continua a ser um tema chave, bem como os desafios económicos que se deverão colocar ao longo dos próximos anos, uma vez que os Bancos Centrais estão a fazer de tudo para arrefecer a economia de modo a que as pressões inflacionistas sejam aliviadas”.
Ainda assim, reconhece que “poderão certamente sair mais insights sobre a atual conjuntura que vivemos e propostas com soluções aos problemas que têm vindo a ser discutidos ao longo dos últimos tempos”. Mais pessimista está César das Neves: o economista considera que os problemas que o mundo enfrenta “são demasiado complexos para terem soluções que se alinham em poucos dias de conversa”.
Taxar ou não os multimilionários? Lançado para coincidir com o primeiro dia do Fórum Económico Mundial em Davos, o relatório “Sobrevivência dos mais ricos” da Oxfam diz que 63% de toda a nova riqueza criada desde 2020, no valor de 42 biliões de dólares (39 biliões de euros), beneficiou apenas 1% da população mundial. O montante representa quase o dobro do dinheiro ganho pela restante população mundial (99%).
Só na última década, este 1% arrecadou quase metade de toda a nova riqueza gerada. Feitas as contas, os multimilionários aumentam a respetiva riqueza em 2700 milhões de dólares (2500 milhões de euros) por dia, quando em cima da mesa está uma crise do aumento do custo de vida, com a inflação a crescer mais do que os salários.
Como solução, o documento incentiva os governos mundiais a introduzir impostos extraordinários de solidariedade sobre os multimilionários para combater a “explosão de desigualdade” registada nos últimos anos. A organização diz ainda que um imposto de até 5% aos multimilionários seria o suficiente para tirar 2 mil milhões da pobreza.
Uma solução que não convence César das Neves. “Não só porque os multimilionários iam fugir ao imposto, mas acima de tudo porque o problema da pobreza não se resolve com transferências, mas com desenvolvimento, pelo qual esse imposto pouco faria”.
Também Henrique Tomé admite que “o objetivo de taxar os mais ricos para combater as desigualdades sociais e erradicar a pobreza é sempre uma causa nobre e que em teoria faria sentido”. No entanto, acredita que é necessário levar a cabo mais esforços, além dos financeiros, para mitigar os efeitos da pobreza.
O que esperar Para este ano está prevista uma assistência recorde, depois de a de 2021 ter sido virtual, por causa da pandemia, e de a de 2022 ter sido adiada de janeiro para maio, devido a um surto de covid-19. Esperam-se ao todo 52 chefes de Estado e Governo, entre os quais o alemão Olaf Scholz, o espanhol Pedro Sánchez e a finlandesa Sanna Marin. Conta ainda ministros das Finanças, governadores de bancos centrais, ministros do Comércio e ministros dos Negócios Estrangeiros. Do lado das empresas, entre os 1500 executivos estarão 600 CEO. Das organização irão 39 líderes, incluindo António Guterres, da ONU, Kristalina Georgieva, do FMI, e Ursula von der Leyen, da Comissão Europeia. O português Mário Centeno vai subir ao palco no segundo dia do evento. EDP, Jerónimo Martins e Sonae também vão marcar presença. “Para resolver as causas profundas de perda de confiança, precisamos de reforçar a cooperação entre governos e setor privado, criando condições para uma recuperação forte e sustentada”, disse o fundador e presidente executivo do Fórum, Klaus Schwab, ao apresentar esta 53.ª edição.
E, sem surpresas, centenas de pessoas manifestaram-se na véspera do arranque do Fórum numa marcha promovida pelo coletivo “Strike WEF” contra a crise climática, o capitalismo e a desigualdade global.