Alexandra Reis saiu por “divergências”, garante CEO da TAP

“Não tive contacto direto com o ministério das Finanças. Acreditámos que a aprovação do secretário de Estado das Infraestruturas teria sido feita em coordenação com as Finanças”, afirmou Christine Ourmières-Widener.

Alexandra Reis saiu "por motivos profissionais devido divergências com o plano de reestruturação", garantiu a CEO da TAP, que está ser ouvida esta quarta-feira, no Parlamento. "Foram debates muito difíceis", disse Christine Ourmières-Widener, referindo-se às decisões tomadas no âmbito do plano de reestruturação. 

"Não vou comentar sobre [o facto de Alexandra Reis] ter deixado a TAP e ser boa opção para outras empresas", disse a presidente executiva da companhia aérea. 

A CEO disse também que só tratou do processo da indemnização com o secretário de Estado das Infraestruturas. "Estive em contacto no início deste processo principalmete com o ecretário de Estado Hugo Mendes. Ele esteve a par da proposta incial e os passos seguintes. Tive a aprovação do secretário de Estado", referiu.

"A decisão deveria ter sido do accionista", reconheceu. "Não tive contacto direto com o ministério das Finanças. Acreditámos que a aprovação do secretário de Estado das Infraestruturas teria sido feita em coordenação com as Finanças", afirmou Christine Ourmières-Widener.

Já em relação ao comunicado enviado à CMVM salientou que a administração publicou "o que foi definido pelo nosso consultor externo. Nada mais e nada menos". Uma resposta que remete para a sociedade de advogados que representou a companhia no processo.

Bónus em 2025 se cumprir plano

A responsável garantiu também que tem direito a receber um bónus se o plano de reestruturação for plenamente cumprido. “Estamos a falar de algo que será no culminar, em 2025. Faz parte do meu contrato", acrescentando que “qualquer contrato, se a pessoa for despedida por justa causa, é difícil pedir uma compensação. Se isso fosse o caso seria critico para qualquer indemnização. As conclusões terão de ser tomadas depois de concluídas as investigações".

Christine Ourmières-Widener reconheceu ainda que a decisão sobre a saída e a indemnização a Alexandra Reis deveria ter envolvido o Ministério das Finanças, uma vez que o Estado é o acionista. "Quanto à saída da Alexandra Reis, penso que tem razão, a saída de um membro da administração, pelas melhores prática deve ser na sequência de uma decisão de um acionista".

Mas deixa uma garantia: "Nada fiz sem consentimento. Contratámos consultores externos que têm estado a gerir este processo em ligação com representantes legais da Alexandra Reis. Seguimos os seus conselhos e nada mais".

O valor da indemnização de Alexandra Reis causou uma enorme polémica e acabou por levar à saída do cargo de secretária de Estado, a pedido de Fernando Medina. Mais tarde foi a vez do secretário de Estados dos Transportes e de Pedro Nuno Santos abandonarem o Governo.

Ainda na passada quarta-feira, o primeiro-ministro considerou que a ex-secretária de Estado do Tesouro violou o estatuto do gestor público quando foi nomeada para a Navegação Aérea de Portugal (NAV) e não devolveu parte da indemnização que tinha recebido da TAP. "Não tenho dúvidas de que há pelo menos uma parte em que houve uma violação do estatuto do gestor público, que foi quando a senhora engenheira foi nomeada para a NAV e não procedeu à reposição de parte da indemnização que tinha recebido, admitindo que a indemnização a recebeu legalmente".

Também em marcha está a viabilização de uma comissão de inquérito parlamentar sobre a TAP, que foi proposta pelo Bloco de Esquerda, com o objetivo de "avaliar o exercício da tutela política da gestão" da companhia aérea, "em particular no período entre 2020 e 2022".