Tal como se previa e com outras surpresas à mistura, o arranque do novo ano não foi promissor – entre escândalos governamentais, ataques à democracia do outro lado do Atlântico, manifestações, preços dos bens essenciais a disparar, a vida vai seguindo. Na sua maioria como é possível… Para tantos tornou-se já uma espécie de missão impossível, capaz de levar até um ateu a pedir ajuda divina. Mas se o altar-palco onde o Papa Francisco vai celebrar a missa final da Jornada da Juventude vai custar 4,2 milhões de euros, as linhas que se seguem visam precisamente o oposto, num país que é hoje e cada vez mais o verdadeiro Portugal dos Pequenitos.
Saber poupar ou evitar o desperdício é uma coisa, mas resumir a vida a aprender dicas de como fazer refeições por 1,5 euros ou a forçar esperas por dias de promoção nos hipermercados ou pelos talões de desconto aplicáveis, é hoje uma realidade sufocante. Na fila do supermercado, esclarecem um cliente que reclama o desconto apresentado para os quivis, lembrando que a promoção só é praticada em caso de compras acima dos 20 euros. Mais: para a promoção ser válida, não pode haver outros produtos em promoção naquela compra. Chamar-lhe prática desleal é pouco.
Luxo está muito distante de viver com dignidade, e o conceito pode depois estar relacionado com o bom senso de cada um, mas isso já seriam outros 500 (tostões). Certo é que, hoje, praticamente tudo é um luxo, basta olhar para a valorização de um prato de atum com ovo cozido.
Dicas para poupar não faltam, da alimentação ao aquecimento das casas. Só lhes falta lembrar que o frio é psicológico e perguntar como os portugueses já gastaram os apoios extraordinários distribuídos nos meses de outubro a dezembro.
O Portugal dos Pequenitos e o seu filme de terror, com a única razão para animação ser por estes dias a curta-metragem de João González e a respetiva nomeação histórica para os Óscares.