As polémicas estão no nosso ADN?

Não haveria outros locais para se realizarem estas JMJ, como na Margem Sul ou em concelhos circundantes a Lisboa, não interferindo com a absolutamente necessária PLL?

1.Em 2019, todos ouvimos o Presidente Marcelo anunciar o feito de trazermos para Portugal as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), um evento de enorme prestígio internacional, sobretudo pela presença do Papa Francisco, para além do simbolismo da presença de cerca de 1 milhão de visitantes. Era hora da unânime celebração, nem se pensando, na altura, nas celeumas que viria a dar, como esta dos custos (exorbitantes, concorde-se) de uns palcos a erigir, quer no Parque Eduardo VII quer na zona ribeirinha de Beirolas, onde irão decorrer as cerimónias.

Tal como em outros grandes eventos em Portugal, Expo 98, Euro 2004 ou Web Summit, a grandiosidade da sua realização e, sobretudo, os seus efeitos macroeconómicos, deveriam sobrepor-se às questões comezinhas como são as disputas políticas envolvendo discussões redutoras, exclusivamente para confrontar os adversários que têm de os realizar. O elevadíssimo custo dos altares foi o pretexto encontrado para desviar as atenções dos ‘casos e casinhos’ com que o Governo nos mimoseia desde há um ano e é indiscutível que tem resultado.

Com isto, jamais pretendo dizer que o controlo de custos não é importante. Claro que é, como deveria ter sido fundamental terem sido os mesmos calculados quando se submeteu a candidatura, mas vale uma apostinha que, ao tempo em que a Câmara de Lisboa era liderada por Medina, ninguém fez contas ao detalhe do ‘quanto vai custar’, também porque era suposto ter continuado? Até me arrisco a inferir que estivesse hoje Medina na Câmara, alguém acredita que houvesse tamanho salsifré?

É aqui que começa a questão – Governo e Câmara PS, tudo alinhado, como se nota até pela nomeação de José Sá Fernandes pelo Governo para a função de Coordenador das JMJ. Uma figura que Lisboa irá recordar sempre, enquanto autarca eleito pelo Bloco, como autor de uma providência cautelar em 2004 no Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa que embargou as obras do Túnel do Marquês. Não sabemos ao certo quanto é que o embargo terá custado ao erário público (dizem que 18 milhões de euros), mas uma coisa é certa: Lisboa hoje está agradecida a Santana Lopes pela ideia e persistência da sua construção.

Acho ainda curioso como tantos se preocupam com os custos desses altares, mas não os ouço bramar contra o dispêndio adicional de 222,8 milhões de euros na expansão nas três linhas (Vermelha, Amarela e Verde) do Metro de Lisboa face à estimativa inicial. Pressurosamente, o Governo já anuncia que tal derrapagem decorre da pandemia e da guerra na Ucrânia que provocaram uma subida generalizada de preços, mas, sinceramente, confio mais que o Tribunal de Contas um dia o certifique – defeito de auditor…

Para terminar, entendo que para além deste tema pertinente dos custos diretos, alguém deveria suscitar os indiretos da sua realização em Beirolas (por acordo PS/PCP, entre Medina e Bernardino Soares), decorrentes da ocupação dos terrenos ideais para expandir a Plataforma Logística de Lisboa (PLL), em que já se fala num custo necessário de cerca de 100 milhões de euros para substituir a atual. Em suma, não haveria outros locais para se realizarem estas JMJ, como na Margem Sul ou em concelhos circundantes a Lisboa, não interferindo com a absolutamente necessária PLL?

 

2.A TAP continua a sua saga. Diariamente surgem notícias a instabilizar uma empresa que o Estado pretende urgentemente reprivatizar, como que reconhecendo o tremendo disparate que foi a nacionalização em 2020 e que custou 3,2 mil milhões de euros ao erário público, ou seja, a todos os contribuintes portugueses. 

Porque há que ter memória dos ‘feitos’ da ‘geringonça’, relembro as declarações inflamadas de Pedro Nuno Santos, justificativas sobre a necessidade da nacionalização ao referir que «só os fanáticos da Iniciativa Liberal acham que nos podemos dar ao luxo de perder a TAP!». É uma pena que esteja em licença sabática porque gostaríamos de saber o que hoje pensa do fanatismo do Governo e/ou o que mudou face à «importância de uma empresa que traz metade dos turistas para Portugal, emprega 10 mil trabalhadores (quantos são hoje?), compra 1300 milhões de euros a empresas nacionais e paga 300 milhões em impostos?». Chocou de frente com a realidade da TAP carecer de uma parceria estratégica para sobreviver?

Regressando às notícias em profusão sobre a TAP, relembro, como exemplo, a luta sindical inflamada pelo sentimento de que os lucros apresentados resultam basicamente de cortes salariais (e, acrescento eu, do financiamento gratuito pelos contribuintes), ou a acesa discussão ideológica sobre um bónus resultante de méritos de gestão numa empresa nacionalizada, tudo isto em cima da polémica saída de Alexandra Reis, com uma indemnização que a Inspeção Geral de Finanças foi chamada a aferir sobre a sua legalidade. Como se não chegasse, surge outra investigação sobre um alegado custo excessivo na compra de aviões e pergunto: que mais falta para embelezar a TAP para a privatização?

Como se nada se soubesse além-fronteiras, assistimos a Costa Silva e Medina irem há dias a Espanha apresentar a TAP qual menina casadoira, cantando loas às suas virtudes e dotes, ansiando casá-la com o putativo pretendente espanhol (Iberia), com costela britânica (British Airways), liminarmente ignorando os conflitos de interesse das rotas e do hub. Aguardemos o resultado destas incursões a lembrar os casamentos monárquicos de outrora, esperando que tal não signifique que o produto em venda se encontra em tal estado que ninguém lhe pega. Então se pensarmos que os produtos de qualidade se vendem a si próprios (olhem como o Benfica não precisou de andar a vender o Enzo pelo mundo…), digam lá se não temos razões para ficarmos preocupados?