Numa altura em que a Síria já se encontrava desgastada pelos danos sofridos durante a guerra civil, agora, na ressaca do terramoto, que fez mais de cinco mil mortos só neste país, o país está ainda mais imerso no caos, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a afirmar que esta, atualmente, é «a zona de maior preocupação», disse o diretor do Programa de Emergências de Saúde, Michael Ryan, numa conferência de imprensa, em Genebra, na Suíça.
«O impacto do terramoto nas áreas da Síria controladas pelo governo é significativo, mas os serviços estão lá e há acesso a essas pessoas», disse Ryan, referindo-se às regiões controladas pelos rebeldes.
«É necessário recordar que a Síria enfrentou dez anos de guerra. O sistema de saúde é incrivelmente frágil. As pessoas passaram pelo inferno», afirmou.
Apesar de já ter decorrido mais de uma semana desde os dois terramotos que devastaram o sul da Turquia e o noroeste da Síria, ainda há pessoas a ser retiradas dos escombros com vida.
Contudo, aqueles que sobreviveram, agora, estão a enfrentar graves problemas com o frio da estação e a falta de abrigo.
Esta situação levou a que a Síria expressasse o seu descontentamento com a falta de apoios enviados por instituições como as Nações Unidas e levou, inclusive, estas a pedirem desculpa pelo atraso a enviar apoios.
A situação neste país estava tão grave que até um líder rebelde, que tem a ‘cabeça a prémio’ nos EUA a fazer um apelo para que fosse enviada mais ajuda.
«As Nações Unidas precisam de entender que é preciso ajudar durante uma crise», disse o líder rebelde sírio Ahmed Hussein al-Shara, também conhecido pelo ‘nome de guerra’ Abu Mohammad al-Jolani. Washington oferece uma recompensa de 10 milhões de dólares (cerca de 9 milhões de euros) pela sua ‘cabeça’.
Jolani encontra-se em Idlib, uma área controlada pelos rebeldes sírios, que foi especialmente devastada pelos terramotos e onde tem chegado pouca ajuda.
«Desde a primeira hora do terremoto, que enviamos mensagens às Nações Unidas a pedir ajuda», disse o líder rebelde ao Guardian. «Infelizmente, não chegou nenhum apoio às nossas equipas de busca e salvamento, bem como nenhuma ajuda específica para combater esta crise».
Desde o terramoto, o governo sírio tem mobilizado os seus diplomatas de forma a argumentar que as sanções ocidentais estão a prejudicar as ajudas enviadas para o país, mas os ativistas e estados que aplicaram sanções não apoiam esta posição, alertando que o governo de Assad está a explorar o terremoto de forma a reabilitar a sua imagem.
«O terramoto deu ao regime uma vantagem para sobreviver politicamente», disse à CNN o ativista sírio que se encontra a viver em Washington, DC, Omar Alshogre, que revelou ter sido detido e torturado pelo regime de Assad. «O regime sírio usará o terremato para se normalizar».
Vários países, incluindo Portugal, enviaram equipas especializadas de busca e salvamento para a Turquia, mas a ajuda à Síria tem sido dificultada pela guerra civil iniciada em 2011.
O conflito na Síria já matou quase meio milhão de pessoas e devastou as infraestruturas vitais.