Em setembro de 1973, Neftalí Reyes, conhecido por todos como Pablo Neruda, foi hospitalizado na Clínica Santa María, de Santiago do Chile. Justamente no momento onde se iniciava no país sul-americano uma ditadura que duraria 17 anos.
Já que o Nobel da Literatura de 1971 era uma presença incómoda para o regime do ditador Augusto Pinochet, a sua morte deixou sempre algumas suspeitas: o poeta teria realmente morrido de cancro da próstata? Ou será que foi assassinado?
Segundo o El Mundo, o terceiro relatório forense que confirmará a teoria de que Pablo Neruda morreu envenenado será publicado oficialmente na segunda-feira, em Santiago, no Chile, encerrando uma discussão iniciada em 2011, quando o motorista e assistente pessoal de Neruda, Manuel Araya, denunciou o seu assassinato.
Mas passados tantos anos, será previsível que a investigação judicial avance até que seja encontrado o assassino de Neruda? De acordo com o jornal espanhol, apesar de tudo, a família mantém-se esperançosa. Porém, nem os biógrafos do poeta, nem os historiadores que estudam a ditadura de Augusto Pinochet conseguem chegar a uma resposta.
O relato mais completo da sua morte é o de Araya. Segundo o motorista (encomendado pelo Partido Comunista do Chile para cuidar do poeta), o golpe de 11 de setembro surpreendeu Neruda já doente em sua casa na Isla Negra. Durante uma semana, “os militares invadiram a casa várias vezes”. O médico que o tratava, o Dr. Vargas Salazar, arranjou-lhe um quarto na Clínica Santa María, em Santiago do Chile, onde poderia preparar uma última viagem ao México, cujo governo se comprometeu a protegê-lo. Escreve o El Mundo, que a transferência para Santiago foi no dia 19 de setembro. Neruda viajou de ambulância e foi humilhado em vários postos militares.
Após conseguir entrar, Araya voltou à Isla Negra para levar as malas. Pouco tempo depois, Neruda ligou-lhe dizendo que alguém o tinha injetado com alguma coisa. Ao voltar a Santiago, o motorista encontrou o escritor vermelho e postrado.
Em 2013, o corpo do escritor foi exumado para um exame dos seus ossos. Na ocasião, não se encontraram agentes químicos relevantes. Entretanto, quatro anos mais tarde, uma segunda análise, realizada por 16 peritos de diversos países e áreas, detectou a presença da bactéria Clostridium botulinum, considerada uma arma biológica se aplicada a seres humanos.
Segundo o jornal espanhol, o suspeito oficial desse golpe mortal foi Michael Townley, um ativista de extrema-direita que, segundo os seus inimigos, era um agente da CIA. Contudo, investigações subsequentes mostraram que Townley estava na Flórida naqueles dias e nunca trabalhou para a CIA. “Também não há provas de que os EUA tenham conspirado contra o poeta”, diz o Partido Comunista.